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segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

filme triste

hoje, nenhuma poesia satisfaz.
os castelos estão ruindo.
as fadas sem asas estão indo embora.
não há magia suficiente.

enquanto isso, as pessoas seguem rindo.
talvez seja o mar,
talvez o novo ano que se aproxima.
explicações e rimas.

a poesia fede, condena, espalha.
hoje, ficarei reunido.
uma única lágrima embala o barco,
furado
fundido

sem vela
sem remo
sem rima
num canto do quarto
sozinhando
pro fundo.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Prateleira Gay

     Hoje, na locadora, fui devolver o "Whatever works", com o Larry David. Sabe? Não? Aquele que ajudou o Seinfeld a roteirizar o famoso seriado e também o protagonista da série "Curb your enthusiasm". Bem engraçado, cara, com boas tiradas, além de uma interpretação legal da Evan Rachel Wood, aquela menina do "Thirteen", saca? Claro que sim, tenho certeza que você já viu. Duas meninas, aquela vontade de dar umazinha, revolta, uma mãe e seu namorado problemático, um beijinho entre as duas, enfim, o estereótipo da adolescência americana.

     Enfim, fui lá devolver o filme, acabei pegando "An Education", com Peter Sarsgaard. Mas não é esse o assunto. Caralho, fico divagando, dando voltas, até dropar no ponto latente: uma prateleira gay. Sim, os filmes, de vários gêneros, inclusive seriados, estava destacados de suas prateleiras originais para compor a prateleira GLBT. The L World, Boys Dont Cry, entre outros, ali, fazendo parte de um grupo de filmes que estão separados por abordar o relacionamento entre pessoas do mesmo sexo.

     Isso é um pouco estranho. É uma categoria temática, quero dizer, vamos passar a separar filmes assim? Filmes de usuários de droga, filmes com elenco de maior parte negra, filmes que falam inglês arcaico, filmes em que aparecem pessoas mancas... Sinceramente, não acho uma boa ideia.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

M e d í o c r e

     Ninguém ensina a outro que a vida é o lugar dos prazeres. É preciso que se descubra isso no palco. Sob a égide do tempo, submissos à sua vontade, seres mortais que somos, nosso gesto ganha um valor alto. Que tem cada ser humano, senão, em média, setenta anos para fazer alguma coisa? Sim, o verbo é este, fazer, construir, a característica natural que se tornou base para a expressão do pensamento religioso, a inclinação de tudo aquilo que é vivo para construir o mundo ao seu redor, desde plantas e esquilos até gente.
     O que me parece ter acontecido foi, de fato, uma interrupção no processo natural das coisas, por parte do dito "progresso", e a assimilação de um status mental que faz do homem o único ser capaz de ser iludido por si mesmo, definhar por conta de autosugestão e se perder nos labirintos da própria fantasia. Quando Jodorowsky diz, "we must break the ilusion", ele não fala apenas de que aquilo é um filme e deve ser visto assim, ele enuncia uma lição que vale para todos os momentos de sua vida social.
     Economia, política, arte, é tudo criação de sistema, cuja qualidade está baseada na eleição parcial de características deste, orientada por uma convenção de especialistas, e que se torna tradição escrita, código. Isso significa que a brincadeira tem começo, recomeços, meios e fins, podendo ser interrompida para reorganização. Não existe lógica na máxima, "a vida é assim", ou em, "É assim que as coisas são, é como sempre foram". São sentenças cheias de covardia e comodismo. É a derrota do mamífero, empoleirado como uma galinha velha, aceitando a morte da maneira menos prazeirosa possível. Um absurdo.

     E onde se expressa tal aceitação do medíocre, onde é que se vê tamanho comodismo em relação ao que é pífio, senão nas artes? O maldito conseguiu: o poeta foi expulso da República, e em seu lugar ficaram os bobos das cortes, fazendo jornalismo humorístico, teatro do imbecil, cinema de babaca e musiquinha vagabunda. Toda comunicação fica nivelada por baixo. A intenção comunicativa é dominada pela orientação financeira, com seus vários braços que a publicidade funda pra disseminar. O culto à personalidade ganha vulto na coisificação de uma pessoa e sua associação imediata a produtos, ao consumo como forma de se relacionar com os outros e o objeto de desejo, sempre inatingível, claro. E o pior, tal construção gera de fato a ilusão e, esta, traz a felicidade momentânea. O estímulo. O prazer intenso que se obtém somente neste sistema... e que passa... e volta, com tudo. 

     Atuação. Os filmes são fracos, em grande maioria. Quem já viu Marlon Brando, Peter Sellers, Gunnar Björnstrand, Paulo Aultran, Bruno Ganz, por exemplo, e pensa as características da atuação desses caras, sabe que esses atores de Hollywood, de Brad Pitt a Jackie Chan, estão aquém, além apenas no tempo, talvez, por isso, tão "culpados". O tempo nada lhes deu, apenas fez de suas vidas um mar de rosas. Quem viu atuar Liv Ullman não pode se satisfazer com Jennifer Aninston, Angelina Jolie, e essas atrizes meia-boca do cinema internacional, pra não falar das porcarias tupiniquins. Uma das maiores injustiças brasileiras é se enaltecer Fernanda Montenegro ao ponto de dizer que Central do Brasil merecia o Oscar, o que é inconcebível, e mais, que está em patamar acima de Marília Pêra, sendo esta, sim, muito melhor atriz, capaz de transformações físicas e psicológicas muito mais marcantes que a mãe da Fernanda Torres, pelamor de deus.
     Confunde-se atuação com intensidade. Quem disse que atuar é fazer cara feia e levantar a voz? Quem disse que atuar bem é reunir tudo que é característico em si e interpretar um papel leviano, sem desafios? O que torna, sinceramente, digno do rótulo de ator um cara como Cauã Reymond, ou algo assim, o quê? Que faz ele além de gritar, fazer pose, tentar ser natural diante da câmera e interpretar tipinhos que qualquer idiota com internet discada na cabeça faria? O drogado que se contorce na cama. O drogado que deixa os olhos cheio d'água e pega o pai pelo colarinho, fala entredentes, quase cuspindo, o rosto vermelho, sai batendo a porta. "Ah, que cena incrível. Como se sente agora que ganhou o prêmio de destaque da novela?". Quantas vezes você fez isso com seu irmão, percebendo o que estava fazendo, mas ainda assim mantendo a fúria, a pose, o gesto? Não poderia repetí-lo? Acha mesmo, você, que está em casa vendo esta grande porcaria, que com um trabalho de poucos meses não faria o mesmo?
     O problema é justamente esse. Tentamos ignorar o fato de que o que se faz não é nada especial. Luan Santana? Fiuk? Por favor, né, saiam de casa, vão a shows em lugares populares e vejam bandas excelentes, com a sonoridade incrível. E não estou falando de bandas indigestas, não, estou falando de pop mesmo. Só que as pessoas conseguem mobilizar fãs, os fãs criam redes sociais, ao vivo e online, e isso se torna o grande estímulo para que a pop art de merda que é feita hoje seja autosuficiente. Basta adicionar o material humano, as redes sociais, os dispositivos, já estão criados e funcionam vinte quatro horas. 

     É preciso desconectar, reprogramar e reconectar os dispositivos. Só assim vai haver mudança. A saga pelo cérebro robô, tão americana, é o objetivo do revolucionário. Quem quer mudar não quer explodir, não quer destruir ou tumultuar, precisa achar um jeito, obter os cartões e as senhas, os códigos, atravessar as portas, seguir pelos corredores no grande labirinto que conduz ao cérebro. Lá  reprogramar o computador para que a sociedade se oriente por novas diretrizes, por um jogo mais honesto, transparente. A dependência messiânica deve dar lugar ao planejamento calculado, à organização, ao diálogo e à reflexão sobre como estão construindo aquilo que se chama de real, que está no cotidiano, e que engolimos sob o nome de grande arte.

domingo, 31 de outubro de 2010

Nacarados


 tua cara tem literaturas
de muita língua morta

 — um passado remoto
de fantasias       n u a s

meu dialeto moderno
de alfabeto gana
derrama —
consoante chamas um

GOLPE DE ESTADO

— chicote no lábio
in flama
                ção
A            
dois         co        
                 m                Ad
                                     juv   
                  e                antes

 agora             
                       
                              NÃO   
                              NÃO 
               NÃO                     NÃO 
                              NÃO 
                              NÃO 
                              NÃO 


domingo, 24 de outubro de 2010

telefones e tecnologias

      Quando o celular era só um instrumento de comunicação entre duas pessoas, para ligações rápidas, ou no máximo um lugar pra se brincar com joguinhos, a coisa era melhor pros meus ouvidos, vou ser bem sincero. Tudo bem que uma ou outra criança idiota colocava os joguinhos com volume, mas nada que os pais não dessem conta. Aquele som irritava qualquer pessoa, a longo prazo, por isso ninguém aturava muito.
     Atualmente, a popularização dos celulares e das tecnologia de "viva-voz" tornou tudo


E por quê? Simples,

nego não tem noção de que PROIBIÇÃO não é necessário quando se tem BOM SENSO. Num ônibus, na noitada, nem me incomodo, porque o horário, o dia, o clima é pra quem está saindo, beleza, agora, às nove de uma segunda-feira, no vagão do metrô? Dentro de uma van, um espaço mínimo daqueles, numa tarde qualquer? Dentro do ônibus, quando se está voltando do trabalho, em plena semana de ralação? E agora tem gente que leva minitelevisão e NÃO USA FONE. 

     São todos uns estúpidos, que quando topam com um  três por quanto da favela do ferro quente, e ouvem um singelo "baixa essa porra", ou então quando encontram um Cabo Pontes de Melo, e tomam logo aquela chamada violenta, aí colocam o rabo entre as pernas e ainda pedem desculpas. Na violência, tudo se resolve, aqui no Brasil, porque o povão não consegue administrar uma consciência social mais organizada, feita do equilíbrio de privações e liberdades que o próprio sujeito deve se impor para que a convivência seja um acontecimento fortuito. 

     Mas quem é que liga pra isso? Nego quer mais é "botá moral". USEM OS MALDITOS FONES DE OUVIDO SEUS BÁRBAROS CONCRETOS.

veja como o processo é simples


     Basta levar o fone ao ouvido e pressionar levemente o aparelho contra a cavidade que recebe com facilidade a incumbência de suportar o peso, pela anatomia do próprio dispositivo, deixando você livre pra ouvir música sem incomodar as pessoas ao seu redor.
     Aos falantes de celular, os que fazem conferências nos metrôs, aos berros, fica a dica de manter o volume da voz num padrão razoável. Tudo bem, a vida é assim, demanda que você se dedique, mas ninguém tem que ser agredido por decibéis bizarros da sua voz. Já bastam alguns chineses que entram tagarelando em celulares, na língua cheia de vogais, uma coisa que ao pé do ouvido pode ser uma angústia.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Manifesto Mendes 01


                Gostaria de manifestar uma curiosidade, não uma revolta, mas certamente uma dúvida, quanto a uma notícia que li na Folha de São Paulo, para quem também endereço esta correspondência. Queria saber se realmente a senhora Ilzamar mobilizou os acreanos em prol da campanha de José Serra usando o nome de Chico Mendes, deixando de lado, ao que parece, um juízo fortuito da decisão que tomaria Francisco Alves Mendes Filho. Ou então, é possível, trata-se de outro Chico Mendes, e o que desejo é falar sobre aquele que conheci.
                Infelizmente, não estive com ele pessoalmente, mas não importa, a intimidade de Francisco não é assunto de ninguém, o importante é falado por seus atos. Torna-se líder sindical em 75, quando a ditadura fartava-se do apogeu. Comprou briga com empresas que promoviam o desmatamento da floresta amazônica para lucrar sem limites. Coordenou a greve dos seringueiros que usaram o próprio corpo como forma de conter as máquinas. Era um agitador político que via na exploração do homem e da terra uma ameaça ao bem-estar.
                Muito mais fez Chico Mendes, que levou o povo para dentro da fortaleza política, transformando câmara em foro, levando debate, luz, pra onde impera a penumbra facilitadora. Obteve ameaçadas de morte, mas ainda assim seguiu, foi um dos fundadores do PT, estava com Lula na década de 80, mas não está mais, nem estaria, porque não parecia o tipo que gozaria da riqueza de banqueiros e empresários enquanto gente ainda morre de diarréia.


                Foi assassinado nos fundos de sua casa, e o estopim foi a grande ação que lhe rendeu reconhecimento e premiação internacional, ainda que não tenha rendido proteção, por ter denunciado ao Senado dos Estados Unidos a utilização de investimentos do BID por empresas que promoviam intenso desmatamento e nenhum desenvolvimento. O banco cortou os fundos imediatamente e isso enfureceu os interessados na exploração dos homens e das matas.
                Portanto, o Chico que conheço morreu por não ter escolhido lados, por não fazer concessões, por não ser aliado de explorador e de gente que finge não ter consciência de que desenvolvimento não existe sem bem-estar social, senão não é progresso, é ingresso, morreu por acreditar que o povo deve defender seus direitos com a própria vida, e que me desculpem os que dizem conhecê-lo melhor que eu, este Chico Mendes jamais apoiaria o tucano José Serra.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

TOTALITARISMO DE MERDA NO BRASIL

ISSO É UM ABSURDO!

Clica ali e veja você.

Nossa futura presidente aceitando a pressão dos evangélicos neopentecostalistas, cujo trabalho se caracteriza pelo comércio da fé e de objetos a ela relacionados. É terrível que o nosso país deixe que essas coisas aconteçam assim, impunemente.

Dilma vai condenar o aborto, o casamento homossexual e a adoção de crianças por parte destes só pra ganhar os votos dos evangélicos. ISSO É PODRE!

sábado, 2 de outubro de 2010

nenhum folclore veste meu momento agora.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Lula Lá Ali Baba Aqui Lalou

   Desculpem os petistas, os fãzóides do barbudo, ou não desculpem, mas vou dizer: que grande farsa. O impressionante não é a mentira, são os que acreditam. O que vocês comem, cocô? Olham essa televisão aí e consomem toda a verdade que eles colocam no ar? Comprou seu laptop e em casa ouviu que a economia melhorou, e associou uma coisa a outra e ao Lula?
     Dados comprovam: o crescimento econômico se deu em vários países. Foi um momento. Assim como FHC se ferrou porque enfrentou duas crises, segundo consta das minhas fontes mais politizadas. Ok, mas não vamos falar tanto dos dados, porque inclusive eles podem ser manipulados pelo poder. Não? Não pode? Então Salazar fazia o quê? Vai estudar a história de Portugal antes de vir me contestar, ok? Abraço. Então, voltando.
     Vamos falar da realidade prática. Saia de sua casa e vá para as ruas, mas não vá para a regiões Manoel Carlos, beleza? Procure saber sobre as transformações nas vidas das pessoas, das mais pobres às mais ricas. Assim a gente fica sabendo, por exemplo, se os números indicam realmente alguma coisa. Por exemplo, seu Lula disse que ia aumentar consideravelmente mais o salário mínimo, e não o fez. Aumentinhos de merda. No entanto, os banqueiros estão, segundo os números, bem demais na fita. Empresários com licitações estão nadando na grana. E você? E a família do seu João? E o seu Antonio e os filhos? Será que estão melhores? Será que a aposentadoria, coisa que dona Dilma Rousseff quer cagar em cima, anda saindo? Será que as áreas sem saneamento básico já estão saneadas? Será que os professores que dão aulas na rede pública estão recebendo dignamente, têm recursos pra dar aula e infraestrutura? Será que a gente ainda perdendo patente de pesquisa porque não tem investimento, e acaba indo pra mão de americanos, japoneses, etc.?
     São questionamentos básicos, porque, em verdade, acho que deveríamos fazer questionamentos mais fundamentais. Por exemplo: o dono de uma montadora de carros pode montar um carro? Não. Um grupo de operários pode. Por que ele fatura milhões e os caras mal conseguem pagar as contas? "Ah, porque ele estudou, porque investiu na empresa, porque a empresa é dele...". Veja bem, não estou dizendo que ele tenha que ganhar igual aos operários. Isso seria um absurdo. A questão é, porque ele ganha tanto e eles tão pouco? Por que o abismo de diferença é tão profundo, a ponto de mantê-los sempre na mesma classe, usufruindo dos mesmos serviços e bens, ocupando o mesmo cargo... bom, acho que está bem claro o porquê.
    Como é que se exige segurança, se nós mesmos é que sustentamos as diferenças abismais entre as vidas que levamos, que levam eles, os ferrados, e as estrelinhas, o pouco que ocupa condomínio, mansão, que frequenta resorts, que ganha coisas exclusivas. O povo tem de parar de aceitar essa sacanagem gratuita e sem vergonha. No passado, ao contrário do que se imagina, várias revoltas foram sufocadas no Brasil, revoltas populares. É tempo do povo se unir, sob uma bandeira só, a do Humanismo, e sair nas ruas exigindo um básico, aquilo que é INDISPENSÁVEL, e um teto, o limite para a riqueza daqueles que não se controlam. Ouvi gente que riu e se sentiu admirado ao ouvir que o Eike Baptista é "viciado em ganhar dinheiro". Sim, e por que será? Pode ser porque o PAI DELE tem ligação com o Ministério de Minas e Energia? O cara explora petróleo no Brasil, tá com a permissão... por quê? Alguém pode fazer uma fiscalização nas transações todas dele, averiguar a idoneidade de tanto dinheiro?
     A crise virá. Como eu sei? É inerente ao capitalismo como o concebemos. Europa em crise. China em crise. Brasil em crise. Vamos ver como a equipe vai se comportar e se vai conseguir dar a volta por cima, mas creio que tempos bizarros virão a nós, que estamos submetidos a ESSE JOGO QUE É JOGADO. Podemos jogar outros jogos, nossa criatividade não conhece limites. Podemos nos organizar de várias formas e viver vidas muito melhores! ACORDEM!
     Quando votarem, pensem nisso. São essas promessas superficiais as que precisamos? Vou fazer mais escolas, ou vou reformular a filosofia da educação? Vou aumentar o salário mínimo, ou vou fazer uma política de reorganização tributária, com a garantia de que a relação salário mínimo e despesas mensais seja mais do que precisa, que sobre para o lazer, essa palavra que ouvimos desde que somos crianças? Vou melhorar a saúde, ou vou reorganizar os investimentos, deixar de pagar uma divida que NUNCA VAI ACABAR, e começar a investir na saúde, educação e reorganização da sociedade brasileira? O Governo Lula desperdiçou RIOS DE DINHEIRO pagando juros da dívida, quando poderia ter evitado que uma DONA MARIA MORRESSE e deixasse pra trás uma família inteira de gente que não tem força o suficiente pra mandar um barbudo desgraçado desses ir para o quinto dos infernos, já que esse monstro que veste paletó se protege com sua milícia. Tenho nojo de gente que tem coragem de inventar um personagem tão sórdido.
     Vão lá, elejam Dilma Rousseff. É ela que vai ganhar, eu sei, as cartas são bem marcadas. Serra fez uma campanha PATÉTICA. Marina Silva apenas exerceu o poder de sua oratória e raciocínio rápido, quebrando os outros candidatos pelas pernas, quase sempre. Plínio, coitado, um homem muito sensato, mas ocupando ali um lugar quase simbólico, em termos práticos. Óbvio que suas palavras são importantes, sua atuação política, refiro-me ao grande e maciço discurso de vitória que a Dilma conseguiu enfiar na cabeça do povo. A figura bem montada do Lula garantiu isso. E com ele vão Sérgio Cabral, o cara da suposta ficha limpa, Lindbergh, o cara que saiu do PSTU quando soube que ninguém ali fica rico, mas trabalha pra de fato mudar a situação do país, Jorge Picciani, grande homem do gado, investidor, presidente da ALERJ, alguns diziam que era marionete do Cabral e só.
     Lá, então, escolham. Optem por deixar o país como está. Optem pelo dia seguinte previsível, pelo futuro que ainda é duro e vai continuar sendo, pela segurança de receber ordens e não ter de se rebelar nunca, mesmo que isso custe o sofimento, não só o próprio, que é suportável, quando se está viciado em algo, mas o de milhões e milhões de pessoas que sequer entendem porque nasceram pra tão pouco. Por uma vez nas suas malditas vidas supérfluas, pensem antes de votar. Não olhem pro umbigo desejoso de conforto e segurança, olhem pra frente, encarem a poeira, vejam a face do que se revela em qualquer lugar. Depois saiam, bebam às mudanças que certamente virão, festejem, comemorem, mudem a porra da história do país, porque já não dá mais pra viver essa falsa bonança!

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Deserto

Nesta noite rida
a treva muito breve escapa
aos ruídos

Toda terra grita
quando encontra o primeiro raio
de manhã

Revela-se tudo que instava
em contradições
— sítio de gente sem conserto

Sol a pino
parece incidir
sobre um só
seu gesto cheio de calor
onde a noite fria
foi deitar a última vez
e não encontrou
mais ninguém

pois ia na frente uns dois anos

terça-feira, 28 de setembro de 2010

tempo a toa



É, eu gosto do Back to black. Amy é excelente. O que traz de berço é o diferencial. Poucos artistas tem essa vantagem. Essa é minha versão de dois minutos, de primeira, no talo.

domingo, 26 de setembro de 2010

continua a saga...



mais uma jam
coisa sem critério
propaganda audaciosa

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

O que se choca com teu rosa?

     Somos as pessoas do desencanto. Por isso, os destemidos. Vamos em busca da luz, atravessando a escuridão que for, feito nautas que um dia venceram a terra quadrada. E agora? Sim, o que a gente faz, agora, que nada é mais tão sagrado, que limites foram derrubados e até as estrelas parecem tão perto? Tem gente vendendo a vida pra dar uma volta no espaço. Turismo intergalático. Que diriam nossos bisavôs? Nada, já o Alzheimer os teria consumido, mas se pudessem, talvez, "puta que pariu". Nada como uma sonora manifestação nativa pra expressar o verossímil.
     Nossos ídolos estão ruindo. Hoje, sentem-se livres pra criticar Chico Buarque, chamá-lo de merda, pois observam sua arte de um patamar pessoal. O julgamento é uma mera exposição de leviandades, subjetivismo orientado pela mídia, de forma que os pseudocríticos surgem cada vez mais e mais. Que entendem de música, da relação música e letra, música e imagem, que entendem? Isso me foi perguntado, recentemente, e digo: nada, uma vaga ideia, transposição de conhecimentos, no máximo, pra não ficar no escuro.
     Barthes, em Mitologias, diz algo fantástico, por sua honestidade, "pra quê ser crítico, se se temem, ou se desprezam de tal forma os fundamentos filosóficos de uma obra, e se se exige tão firmemente o direito de não os compreender e de não falar deles?". A resposta é simples: criticar se tornou um hábito afirmativo na sociedade de consumo. O indivíduo se afirma sujeito quando levanta a voz, não importa se tem ou não conhecimento de causa, até porque, as conseqüências de uma afirmação tola não existem, já que a tolice é abundante, uma regra geral. A ponto tal, que muita vez aquele que se coloca de forma sensata é que parece um tolo.
     Deveríamos falar tanto? Sempre podemos, sempre poderemos, é importante que isso jamais nos seja retirado. Agora, se nossa busca é por uma vida prazerosa, se queremos ter experiências que nos deem alegrias, uma vida feliz, por que não avançamos em direção a uma realidade menos estúpida? Por que manter o velho hábito de falar por falar? É preciso dar um passo em direção a um ponto mais prazeroso, ele não virá até você. Demanda coragem, mas mais do que isso, exige planejamento. Não cultue personalidades, mas não deixe que qualquer vento derrube as fundações dos teus sonhos.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

a Lei da Palmada: um Totalitarismo se encaminhando?

     As pessoas gostam da coisa pronta. Uma coisa só é uma coisa, se ela estiver devidamente caracterizada. Então, se você fala sobre características totalitaristas no Brasil, as pessoas já te apontam e dizem, "meu deus, como assim, olha esse cara". Ok, contenha o seu estrogênio excessivo e acompanhe o raciocínio.

     Está achando que o fenômeno Netinho de Paula é coisa pouca? Se liga, isso se trata de um planejamento bastante meticuloso. Olhemos para o Brasil. Politicamente, depois de tantos anos com vários partidos políticos, o que se percebe hoje, no quadro? PT não é apenas uma representação, mas um ídolo, uma referência a cada brasileiro. Junto a ele temos o PMDB, que é o concentrador dos investidores, dos políticos de carreira, daqueles que tem um poder realmente prático. O primeiro tem poderes práticos, claro, mas sua força simbólica é muito mais perceptível. Então, o que quero dizer é que o Brasil está quase que sob uma bandeira, hoje, a parceria entre o maior partido ideológico e o maior partido prático do país.

     O tal do poder simbólico, que falei acima, é alimentado diariamente pelas emissoras de Tv, mas principalmente pela Rede Globo, que tem os programas mais persuasivos, mais espaço e mais procura. São os irradiadores do trabalho realizado pelos marketeiros da política. Suas campanhas, imagens, música, o horário, a participação de atores ligados diretamente à emissora, os eventos e entrevistas tendenciosos, no sentido de que fazem as mesmas perguntas de sempre, criando aquele espaço familiar, deixando confortáveis os candidatos. E sim, mesmo quando os colocam em constrangimento, mesmo quando parecem apertar o cerco, por favor, pensem nas inúmeras perguntas que poderiam ser feitas a estes políticos e que são dispensadas para "no seu programa político, a senhora disse que vai...". O que quero dizer, é que acredito que temos uma grande rede de comunicação trabalhando pra sustentar ideologicamente os governos que chegam, com sua ajuda, ao poder. Não se precisa fiscalizar o trabalho, não se precisa correr atrás, porque as pessoas estão sedadas com esta propaganda política romântica, que presta culto à personalidades, maneira pela qual conseguem associar, então, a magia da telecomunicação e a propaganda política. A persuasão é tamanha, que as pessoas passam a vestir a camisa, transformando um simples CIDADÃO em herói contemporâneo: aquele que está afastado, cheio de privilégios, e gozando de um status muito maior que sua efetiva atuação.
    
     E agora, o Governo, em sua juris imprudência, quer nos dizer que uma palmada significa agressão, que não pode ser aplicada, sob pena de intervenção do Estado na esfera privada. Se isso não é TOTALITARISMO POLÍTICO, então QUE MERDA É ESSA?

domingo, 12 de setembro de 2010

O sacrifício de Aquiles

    
     Aula de Fundamentos filosóficos da educação. Meu imaginário aguçado pelas exposições, pela leitura já prévia de ensaios sobre Benjamin e Agamben; o caldeirão fervilhando de ideias, em suma.
Fala-me o professor, então, sobre as meninas lobo da India, que foram encontradas por ingleses e retiradas de seu habitat, para uma tentativa de adaptação entre os civilizados. As meninas morreram, no entanto, pouco tempo depois. Posteriormente, li que se trata de uma farsa. Amala e Kamala seriam duas meninas doentes, com deficiência mental, abandonadas pela família, como aconteceu com outras da mesma cultura.
     O que importa é que, naquele momento, a ideia de reumanização me faiscava as ideias. Lembrei-me de Tróia e pensei em Briseida, imediatamente. E por que? As ideias de sagrado, abandono, reumanização, tudo se entrelaçava.
     A mulher é sacerdotisa de Apolo, entregue ao deus como sua prometida. Desta forma, a fêmea é sacrificada na esfera do humano, para estar apta a penetrar o patamar divino onde habita o deus sol. A vida de pitonisa resumir-se-ia a uma devoção intensa, ao transe e às profecias oraculares. Sua feminilidade permaneceria intacta.
     Eis que surge Aquiles, a quem o deus não se impõe. Junto com Agamemnon e seus homens, massacra a família de Briseida e a toma como escrava. A despeito da confusão entre este e aquele, o que me veio como um raio foi a carga ideologica em jogo: o homem, um guerreiro, invade os domínios sagrados de um deus, destrói seus adoradores e toma suas mulheres. A ordem é transgredida e, segundo os preceitos da tragédia, assinalados por Agamben e comentados por Pedro Hussak, alguém terá de pagar o pato.
     A morte do herói trágico instaura uma nova ordem, em detrimento da antiga, que cai diante do sacrifício. Briseida é reumanizada, trazida da esfera do sagrado, onde vivia separada, para a do "comércio dos homens". Sim, porque tornou-se escrava sexual, um prêmio de guerra, cuja beleza coroa o gesto. Mais do que uma simples conquista, um romance, mais do que o envolvimento entre homem e mulher, o que salta aos olhos é a vitória do homem, inquieto, incorrigível, sobre os grilhões arcaicos de uma ordem instaurada.
     A grandeza de Homero é arrebatadora, seus ramos ainda dão frutos muito saborosos, por isso sua influência no ocidente é inestimável. Aos trancos e barrancos, vou vivendo de palpitações que a arte me provoca, todos os dias, no seu deitar magnânimo sobre a forma das coisas.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Não morra antes do tempo!

Se a gente tem de polarizar a coisa, mesmo, vamos lá, eu gostaria de chamar de Deus toda atitude. Indiscriminadamente, e com o juízo completamente impessoal, Deus, toda atitude tomada pelo homem, parte de seu processo natural. Inclusive, as restrições. Mas opa, pera lá, toda restrição, numa sociedade justa, deve ser uma vírgula, não um ponto final, já que certos valores não precisam ser ultrajados para que uma sociedade organizada estabeleça diversas práticas. Deus é a experiência do homem sobre a terra, seu movimento pelo planeta, seus gestos e seu discurso, o jeito como ele veste a realidade sensível de significados e, mais, como estes significados se tornam tão incrivelmente gigantescos, apontando pra um céu inatingível. É, aí, bastante necessário apontar que o vocábulo inatingível, "aquilo que não se pode atingir", trabalha sob duas perspectivas que podemos adotar:

aquilo que não se pode atingir,

1) porque não se pode atingir. (argumento nocivo)
2) porque não se sabe como.

Enquanto o argumento 1 termina toda e qualquer possibilidade de progressão, o 2 propõe um olhar ao abismo. Encarar o Nada e contemplar o que muitos homens fizeram no passado, um espaço que necessita ser incorporado pelo espetáculo da civilização, em busca de perguntas e respostas, que são a massa e os blocos com os quais constrói seu império.
Força e inteligência são instrumentos, ambos tem o mesmo peso, numa sociedade sem um princípio. O nosso, teoricamente, é o de que toda vida deve ser preservada. Por isso a força bruta perdeu espaço para a maliciosa retórica, porque a morte dos inimigos deve continuar em um terreno onde o sangue, de preferência, não se derrame sobre os azulejos.
O poeta, filósofo, gênio, e o diabo a quatro, Fernando Pessoa diz,

"Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!

Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raiz
Ter por vida a sepultura.

Eras sobre eras se somem
No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!"

O que vê a tua alma? Anda ela tão rasteira, que apenas o pó da capoeira é alimento suficiente pra te agradar? O poeta diz, assino eu embaixo, deixa que a tua asa dê uns passos e te leve pra dançar no alto das possibilidades de ser um mamífero civilizado, no meio de tantas máquinas e estimulantes ao deus dará.
Muito sábio, Giorgio Agamben orienta meu pensamento, com seu "Estâncias", sobre o espírito acidioso. Inicialmente, acídia era característica do espírito angustiado e desesperado, que vitimizava os cristãos enclausurados. Alguns, diga-se de passagem, ansiavam por se tornarem acidiosos, porque acreditavam que tal penitência os aproximava mais de deus. Depois, os acidiosos passaram a ser os que se entregavam à preguiça, ao fazer-nada, num hedonismo vicioso e contagiante.
Ao homem que ambiciona uma vida de conquistas, de realizações transformadoras, tanto interior, quanto exteriomente, cabe a sorte do trabalho. Não o trabalho como "emprego", "ofício", que é, verdadeiramente, aquilo que aprisiona o artista, mas o trabalho como atividade que necessita de energia para acontecer e expressar a caminhada do ser humano rumo à convivência ideal ao maior número de pessoas possível.
Entreguemos nossos passos à força viva de Dionísio, que é o símbolo cultural da energia transformadora, capaz de conjugar contrários, harmonicamente, em uma relação instável. As diferenças coexistem para produzir uma gama de possibilidades originais, por isso toda homogeneidade é falseada. A heterogeneidade é a condição humana, e feito vulcão a massa que habita o interior, espírito forte, que é Vontade, aguarda seu momento de romper as estruturas. Antes da sua erupção, faça a diferença.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

ManaW



ensaios...
começando a aprender.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Dois num beco


Tenho um trecho aqui da mais pura verdade.
Está interessado em uma troca?
Tomou-me anos até que eu pudesse separar
todo aquele enxofre misturado.

Foi uma experiência muito estranha ao cabo,
quase me esqueço de como se fala,
já que nos espaços onde nasce a honestidade
existe apenas um monte de imagens.

Mergulhado em completo silêncio por todos
os lados que temos feito,
pedi licença e abri trilha com o dedo mindinho,
sentindo os espinhos de braços dados.

e roçavam secos, sarrando o saco,
o seio,
selando pactos de carne vermelha
sem pedir um gole do sono,
tomando o sangue com todo o jeito.

Tenho um trecho da mais pura verdade,
coisa rara de se encontrar nestas áreas.

Façamos depois o parto da minha dualidade,
pois tenho sede das tuas mentiras;
não estou diante de um palco para olhar apenas
as cortinas vermelhas com detalhes dourados,
nem mesmo me encolher sobre a cadeira,
quero a ilusão de que homens tem asas,
as mulheres fazem magia negra e os anões,
coitados, barbados e ranzinzas sobem às mesas,
falam gesticulando muito e em altos brados,
bebem até cair o sol e as suas calças aos pratos
ainda sujos.

Quer servir o joio gelado com gotas de limão.
Ofereço a ti um pedaço de honestidade,
no entanto, afirma querer fantasia, faz
festa à ideia de se comprazer do simulado.

O que está me oferecendo é carbono,
neste processo comunicativo.
Eu quero o diamante lapidado, a pedra
mais rígida e frágil do planeta,
com as almas de todos os antepassados
que morreram para defendê-lo
em cada uma das oito faces do cristal
que volta à luz suas facetas.

Falseador da verdade natural,
Amante das mentiras,
Arquiteto sem escrúpulos de cadafalsos escuros,
Desprezo tua feitiçaria, teu engenho amaneirado!

Tua tinta tem o toque do suco gástrico.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Linda Kasabian

pois é, parte do bando liderado por Charles Manson, Linda Kasabian

 
estava entre aqueles que invadiram a casa de Sharon Tate, mulher do cineasta Roman Polanski. Kasabian não foi julgada, porque recebeu imunidade pelos serviços prestados nos diversos casos em que os Manson estavam envolvidos.

     Não obstante, o nome retorna à cena nesta década de british pop. Eu não sou fã da maioria, mas me rendi ao trabalho dos caras do Kasabian. Por vezes parece U2, mas é mais rock n' roll do que os coroas têm sido. Às vezes, ouço algo de Franz, que lançaram "Take me out" ainda em 2003. Esse dos ingleses é de 2004. Alguns comentam das influências de Oasis, mas não acho que o Oasis tenha apostado em riffs como os que ouvimos aqui. Acho que isso é o que sempre me irritou no Oasis, a maneira pegajosa como a música se desenvolve, sem nunca ter um ápice. Não desce.
     No homônimo, esse que falei que saiu em 2004, várias são as indicações. O engraçado é que a minha preferida não é desse álbum. Meu aluno chamou a atenção sobre "Shoot the runner", do álbum Empire, que é outro bem legal de se adquirir.
     "Club foot" é uma porrada. Excelente pra começar seu dia. Uma porrada, entenda, em um nível british pop, então não espere algo como Pantera. "Processed Beats" tem um baixão muito bom, o vocal não se arrasta, tem movimentação. Essa música me lembra algo que o Gorillaz faria. E "Butcher blues"? Outro baixo comandando o front, uma voz com uma pegada hard, só que soft no timbre, saca? E o synth dando um acompanhamento irado de fundo. Tem uma vibe muito boa, parece uma trip daquelas que sempre mostram quando numa passagem dos anos setenta e a galera chapadona. Pra finalizar, falo de "U Boat", que fecha o álbum com um climinha meio radiohead, mas sem deixar de ser Kasabian, o que é importante pra baralho, já que radiohead me desanima um pouco. O Kasabian sabe a dose de radioheadice que se deve usar numa música, depois ele altera uma coisa e outra ali na frente, um baixo, um bumbo marcadão, pronto, tira você daquela vibe que o Tom York parece que não liga se aparece em excesso.

Baixem o álbum e ouçam boa música!

domingo, 22 de agosto de 2010

O tempo

sou professor já faz alguns meses.
é o quinto mês de trabalho, mais precisamente, e confesso que minhas energias são totais.
Adquiri alguns livros que vão me ajudar bastante, uns bem técnicos, outros bastante narrativos, com passagens interessantes sobre o desenvolvimento da nossa cultura. O do Aldo Vannucchi é solada nos peitos da sutileza, o cara não perdoa e já solta logo, país formado por gente "vexada" com seu passado.

não me sinto ensinando nada incrível.
às vezes, parece pouco.
aprendo tanto, no entanto, que volto pra casa cheio de novas coisas pra acrescentar ao montante que já havia.
muita vez, mal cabe no bolso.

sou pai há vinte e quatro dias.

quando penso no que mais serei, nas possibilidades, em tudo, é inevitável sentir deus.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

O mundo precisa de amor!

E aquele que vive por aí enunciando isso precisa de bom senso, sinceramente. Que amor é este que estamos precisando, que não praticamos? Saia na rua, cara, veja o amor acontecendo em todos os lugares. Amar é a única coisa que sabe fazer o homem, e mesmo o ódio é um amor ao seu modo. Vejamos uma passagem do romance "Baião de Todos os Santos", onde isso fica bem claro.

     Exausto. A cabeça lateja sobre a fronha limpa. Quero dormir anos a fio, mas não posso, não conseguiria fazê-lo, mesmo com o corpo em pedaços. Não enquanto ele estiver por aí. Meus sonhos lhe pertencem, até aqueles que tenho acordado. Pensamentos rápidos cortam a abóboda craniana atirando imagens aos meus olhos, de pequenos movimentos, como filmes que preciso ver para que o tenha junto a mim com a mesma nitidez de todos os dias. Seu cheiro deixa rastros na cidade, tenho certeza que já estive uma porção de vezes no segundo seguinte ao seu último passo, depois uma curva à frente e cá estamos, separados pelo tempo, devorados pela cronologia, como se supôs que já não acontecia mais. Um gosto férrico sempre inunda minha boca nessas horas, minhas mãos suam e aquele assombro do quase tira um riso infantil da cara. Tenho medo que ele morra, que se adoente e não possa escapar. Nestes momentos, não gosto nem de pensar sobre, o corpo regela, tenho vontades de Deus e sinto que eu mesmo não estou nada bem. Não podem tomá-lo, simplesmente vir e levá-lo sem que eu possa, sem que eu seja a própria doença, a esperança e a escuridão. Refratar na lágrima do próximo, ver meu nome desenhado no trêmulo dos lábios daquela, ascender no choro copioso de uma pequenissima multidão. Ah, como eu desejo que você esteja bem e seguro, que a tua saúde latente seja endêmica, e que tua família cresça em viço e abundância. Aguarda-me, tenho fome. 

 O mundo não precisa de amor, o mundo é feito de amor. Isso é um ensinamento bíblico que as pessoas não percebem. O que prova não ser o livro, a religião, mesmo o pastor aquilo que faz diferença, mas a pessoa e sua relação com o conhecimento. Se Deus é vida e também é o amor, viver é amar, e não se mobilizar pra que isso aconteça. Esta mobilização é, em si, um gesto de amor, como muitos outros. Acontece é que esta noção de que o amor se dá por uma particular construção, que na maioria das vezes carrega o discurso do interessado em manipular ideologicamente, esvazia a vida em sua totalidade, torna-a feita de pequenos momentos orientados por um discurso bastante objetivo; e, também, em grande parte, uma espectativa por algo, quando este algo está acontecendo o tempo inteiro, já que ninguém está excluído da vida social. Mesmo quando acha que está, porque nada mais é a fuga que um relacionar-se com aquilo de que se foge.

Amor é interesses. O cabresto é a vestimenta daquele que aceitou no coração um diabo terrível, a monotonia. Salva tua alma. Vai amar, filho da puta!

domingo, 8 de agosto de 2010

presente contínuo

Ideias. Muitas ideias. E não apenas ideias, mas agora, já, passos. Os primeiros. Acabam, no entanto, por depender de terceiros, mas até aí existe um esforço empregado.

Até onde vai a música que toca nas noites com essa mentalidade bobinha? Não ousam nem no formato. Muito estranho que o público simplesmente aceite. Um lugar como a Lapa deveria ser berço, caldeirão, de novas experiências culturais, no entanto, não podemos confundir variedade com superação. Os formatos são os mesmos de ontem, de sempre.

a mesma coisa é a Rádio MEC, devo dizer. Estava no banheiro, rádio ligado, aquela ligeira espera, coisa que se sana com revista ou com a própria cabeça, quando pensei: quem liga o rádio para ouvir a Rádio MEC? Eu ligo porque sei que toca música clássica e gosto de ouvir, mas os apreciadores de música clássica no povão são muito poucos. Onde está uma verdadeira revolução nos canais comunicativos mais enferrujados? Todos temos rádios, mesmo os aparelhos mais modernos para executar mp3 trazem a opção de rádio, o que não nos faz buscar mais pelo rádio é a falta de atratividade. Terríveis os programas populares das rádios ainda no ar. Não acho que todos devam ser inteligentíssimos, claro que não, mas qual é deles um que possamos dizer, bom, essa programação aqui é indefectível...? A coisa se divide em rádios de louvor e babaquice fm.

O lance é ter saco e prender a produzir podcast, pra galera baixar os episódios. Mas claro que um programa de rádio seria deveras muito mais além da conta maior que superior a um podcast, vezes quinhetos e quinze.

Onde estão os jornais das universidades? onde estão os eventos?
onde estão as programações de rádio com bastante material atualizado e uma programação expressiva?
cadê o jornal verdade, não o jornal sensacionalismo barato de Datena e cia.?
onde estão os grandes festivais de música e os grandes nomes da mpb?
Cadê o Chico que não chama o Caetano, Gilberto que não junta com Gal e Bethânia, cadê as turnês dos artistas fazendo grandes shows pelo Brasil a fora? Não somente shows, mas grandes shows, grandes encontros, por que não a alegria?

Enquanto isso, na Terra das Bananas, a coisa parece se repetir virulentamente...

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Um piolho!

     É assim que Rodya, não o de Dostoiévski, mas o de Julian Jarrold, chama a agiota que assassina com um machado. Lizaveta também cai, por testemunhar o fato.
     Comecei a pensar que Raskolnikov havia enunciado algo com aquelas palavras: "não matei uma criança, mas um piolho".

Que é o homem natural?

     Não me parece que haja um rótulo apropriado, além, claro, o de animal. É no ser social que se concentram os rótulos, na atuação que promovem dentro do círculo vasto de relacionamentos, suas decisões, seus gestos mais simples e também os mais complexos é que definem quem é este homem. Ou seja, nossas escolhas nos colocam na companhia de fantasmas (abstrações) que nos identificarão neste jogo coletivo. 
     Os fantasmas de Raskolnikov eram pesados demais para sua própria intelectualidade. Quis obter poder com a transgressão, desafiou as leis naturais, simplesmente pelo prazer de fazê-lo, já que, como sabemos, não possui nenhuma necessidade para cometer tal crime. Não são as dívidas, nem mesmo a condição precária em que vivia, mas a chance de se tornar um homem para além dos demais que o seduz. Além disso, não creio que seja como li em um artigo ("O PESADELO DE RASKOLNIKOV", na Usina de Letras), em que se afirma que o assassínio da usurária é fruto do delírio de Rodya. Atribuir o crime a um delírio é dissolver completamente a obra de Dostoiévski, tornar a personagem tão forte em alguma coisa débil e transitória.
     A força de Crime e Castigo está no fato de que Rodion Raskolnikov não tem motivo algum para cometer o crime, no entanto, ele o faz porque pensa ser um homem maior do que os homens que vivem sob regras tão simplórias. Acontece que Porfiri mostra a ele que os homens brilhantes não são apenas aqueles que transgridem. Ao contrário, estes estão sob a vigília de autoridades nem sempre tão tacanhas quanto como se costuma pensar. 

     "Taking a new step, uttering a new word, is what people fear most"

     É preciso ter consciência de que cada gesto abdicado é parte de um projeto civilizador, constante, de dentro para fora, exemplar, e não mais deixar que o próximo viva a mentira nociva da ilusão. Deus não voltará para julgar ninguém, nem profeta algum falará em nome de qualquer coisa que não seu próprio espírito, e cada palavra será um filho, para se cuidar com a responsabilidade de quem respeita o princípio. Então, neste dia

compreenderá o homem que Deus não é pai
é filho
cuida da tua criança
     

sábado, 31 de julho de 2010

vinte quatro horas pai

intervalos de sonho

 Somos ambos homens
de poucas palavras
claras

quarta-feira, 28 de julho de 2010

senso comum

      Sem um senso comum, um princípio, não há sociedade. Não obstante, que é isso? Coisa feita? Matéria divina? Nada, o grande problema é justamente esse: o senso comum é uma construção do coletivo.
     Quando resolvemos nos juntar, sabe lá deus quando, criamos um sentido para isso. Nada acontece na vida do bicho homem que não lhe seja perceptível e interpretável, porque temos em nós essa capacidade de transformar os estímulos sensoriais em imagens, que recebem sentido por meio de uma série de fatores que constituem o indivíduo social.
      A linguagem nos permitiu uma comunicação única e pudemos produzir e legar conhecimento aos nossos filhos, criando a tradições. Só que os homens viviam em grupos, como os animais, e tinham suas diferenças. A civilidade nos trouxe pra perto, a superpopulação mundial, todos divididos em nações, comprimidos em cidades, às vezes famílias inteiras habitam um só andar, e estas diferenças são resolvidas pela diplomacia cotidiana, pelos traumas dos interditos e suas autoridades, pela propaganda, pelas tradições milenares, pelos valores, a diversão, as reflexões, até sua calcinha é uma maneira de te colocar mais igual a todo mundo.
     O bom senso será, portanto, talvez mais do que a água, a grande pedra preciosa do futuro. As pessoas são quase sempre tão previsíveis, parafraseando ícones, colocando suas vidinhas nas mãos de qualquer um pra ter uma série de prazeres pequenos e sucessivos. São uma forma de vida que se julga inteligente e, no entanto, rodam em círculos. Quando arruinada a prudência, e desandam a falar como se pudessem sumonar alguma grande entidade que lhes faça valer a palavra, aparece o câncer gerado pela falta de desconfiômetro no corpo. A metástase desce redonda e a galera nem se dilata. Fica todo mundo abraçadinho na mesma ideia, sorriem, um alívio, o rosto chega a cair um pouco.
     Às vezes, vou te falar, isso dá um pouco no saco...


por um centímetro e setenta e cinco
não nasceu o rei da babilônia
pelo cu de sua mãe
ninguém pensou em atirar na fossa
aquela criança que calada via
não lhe acharem parecida em nada
com um monte quente de bosta
e toda sua sabedoria vasta
não lhe serviu mais do que as águas
derramadas pelos olhos grelados
para garantir uma vida mansa e farta

terça-feira, 27 de julho de 2010

one hell of a movie

I wish...


     Por mais que não pareça, de vez em quando, não gosto de fazer críticas negativas. Ora, seria ótimo viver num mundo onde as coisas fossem mais indefectíveis, numa escala de perfeição comum. Acontece que sabemos que não é assim e a merda vai ao ventilador todo mês, com lançamentos e lançamentos de rumas inteiras de grande e fedorento estrume.
     O Oscar é um dos grandes justificadores desse tipo de atitude, e se o bolo tem cereja, meus amigos, o Oscar é aquele milho amarelo-dourado que enfeita o grosso calibre de fezes que sai em cartaz. E Crazy Heart não é exceção nesse grande sanitário de ideias que é Hollywood. Aluguei o filme por conta dos 2 Oscars que ganhou, além de ser viciado em filmes sobre bandas e músicos, mas foi decepção do começo ao fim.
     Vamos lá, além de Collin Farrell e Jeff Bridges não saberem cantar, e não precisarem, as músicas são uma merda. Essa The Weary Kind é o tipo de balada melosa que não precisa ser boa, que pela roupagem mais superficial e pelo contexto onde aparece deixa todo mundo adoçado. É um saco e completamente irrelevante. Não obstante, as atuações são medíocres. Jeff Bridges é um ator muito fraco e o Farrell mais ainda. A tentativa de caracterizar seu personagem dando a ele um jeito estranho de olhar não deu muito certo. O Bruno Gagliasso já faz isso aqui e não é grande coisa.

     Filmes de merda. Só servem mesmo pra se tirar o positivo da experiência negativa. TRASH CAN ADVISORY.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Sou o teu fenômeno. Fecha os olhos e sinta. Pode rejeitar a chuva que dá na cabeça, de repente, com tuas mãos estendidas e teu grito medonho? Pois tentando fica numa tal situação de embaraço, um desespero que claramente alerta ao ser sem qualquer sujeição; esse nunca admitir a falta de senhoria sobre as coisas vivas... Aceita, sou teu fenômeno!, uma crença abandonada, cujos fantasmas são reis na escuridão grosseira que tua memória legou aos fatos, mútuos entre nossos corpos, raros. Fazer de nós um nada? Desembaraçar olhares na marra? Que tipo é você que mergulha os retratos no limbo, que apaga os acidentes epidérmicos feito uma espécie rara de ácido não-sei-o-que-lá-ico? Pois não pode destituir as pontes dos passos que faço do presente ao passado, onde meu regozijo é lato e denso, onde meus momentos são o conteúdo do teu índex actus prohibitorum. Bálsamo dos primeiros dias ao relento, mas agora este projeto de evasão, tão ingênuo, tão cheio de energia e pouca reflexão, tão longos os gestos e rápidos os dias que se esvaem como se a ferida estivesse para sempre aberta. E está, não é verdade? Abre tua boca, não escancara tuas pernas, bebe em goles poucos, deixa que os espaços se preencham dos lamentos da sede, que a tua saciedade seja um quase-lá deste vir-a-ser que nada é, afinal, senão fenda. Greta na rocha do torso onde venta um canto iâmbico, de três ou quatro versos épicos que declama aos ácaros, todos muito perplexos. Nos teus sonhos os castelos serão derrubados, no lugar deles virão os prédios, e verão os homens no inverno, de suas janelas dilatadas, que cada pétala sobre pétala traz uma gota do teu barro vermelho, que a tua alma está por trás de cada luz que se acaba antes de vencer as estrelas, presa às minhas veias pelos lábios molhados.

domingo, 18 de julho de 2010

Conquistas...

Quando conversava com meu irmão, a respeito de filhos, disse-me que não é normal que gostemos mais de um filho que de outro. Pensei, “será que não?”, e deixei a conversa sentindo que havia mais por saber.
Não demorou, voltou-me à cabeça a ideia da preferência quando lia o texto de Kehl sobre a Delicadeza. Para a autora, a delicadeza é uma construção social, não uma condição inata. É natural ao homem responder de forma livre aos estímulos que recebe, podendo ser carinhoso, agressivo, indiferente, isso fica claro quando lembramos de uma frase muito famosa por aí: “quem diz o que quer, ouve o que não quer”. Ou seja, se você estimula alguém de uma forma considerada por ela negativa, prepare-se, porque será vítima de réplica. Isso é agir naturalmente, isso é inatismo.
Na esteira do pensamento de Maria Rita Kehl, acredito que gostar igualmente também não é algo natural. Gostamos de algo porque este algo tem representatividade. Esta representatividade é um estímulo interior que nos proporciona algum prazer, a seiva bruta do nosso bem-querer, e a recorrência desta experiência constrói vidas inteiras.
Se nos abandonamos à experiência de viver os filhos, sem um princípio, apenas pela chance de, então nos colocamos no mundo dos sentidos, afastamos a razão do processo e agimos de acordo com o interesse próprio. Bem, numa relação com crianças, seres incapazes de se impor sobre um adulto em vários aspectos, esta relação de interesse próprio é um grande autoritarismo. O princípio fundamenta a igualdade, a clareza, deixa claro o projeto em que se vive e que mais tarde será tradição familiar.
Como a delicadeza, gostar igualmente é uma conquista da nossa mágica.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

risofarsa


Máscara, a mim muito cara, queda-se neste momento tão raro — a ruína. Chego a ter na boca o gosto amargo do contraste que faz o sucesso dos outros, e o seu próprio fracasso, como se um soco lhe pegasse de surpresa, quando virava a esquina para acender um cigarro: o golpe atirando o isqueiro para baixo dos carros a galope. Retiro a moldura do rosto e me arrasto até o espelho, quero ter a constatação do óbvio, quero sofrer o ataque do meu bom senso tão estrito, mesmo quando sou eu seu objeto crítico; na verdade, pior neste caso. Está diante dos meus olhos. Estou velho até os sonhos mais remotos, será os ossos que roí no almoço? Ou o tempo ocioso que pratico no trabalho? Talvez um complô do meu corpo, que é um templo, contra este estado de espírito vago, largado em meu colo, cabelos embaraçados nas mãos e um sono difícil. Vou no embalo evitando os sábados, domingos e feriados santos, esperando que a cortina abrace um único ato antes que descanse sem hora pra acordar — quero meu grito sufocado no único gesto ambíguo que o traço, engessado pelo vício, oferece ao povo descarnado: o riso.

domingo, 11 de julho de 2010

Estória para Ravi

     Certo dia, passava pela estrada uma única família de crianças, todas de mãos dadas, porque eramos filhos da Casa dos Antoninos. Tomaram o rumo do mundo juntos e todos os dias compartilhavam as experiências que tinham do caminho, se a pedra lascada podia tirar um talho da sola do pé, se o ovo cru do pássaro forrava o estômago direito, se as galinhas podiam prever a chuva que vinha surgindo.
      Um velho risonho, de gestos macaqueados, apareceu num determinado ponto da jornada, contando piadas, fazendo os outros rirem todos muito sutilmente, coisa que se esconde com alguma educação, no entanto, estavam todos alegres com o fato e dançavam, famílias e famílias, cruzando os braços, menos uma das crianças, a que tinha escutado tudo com estômago de cera, avesso às hulhas acesas da alegria. Azedo, afastou-se em direção oposta, mas tudo parecia contagiado pelas faíscas do espetáculo. "Um espelho", disse o velho, "é meu presente de aniversário".
      O jovem apanhou o presente e se viu refletido ali, mas por pouco tempo, já que a face luminosa do objeto se tornou escura, tão densa que parecia ter profundidade. Encostou o rosto na superfície e sentiu que a massa negra moldava seu rosto com toques mornos e úmidos de mãos ternas. Poderia ficar ali por uma eternidade, mas sentiu que seu corpo despencava, então recuou o bastante para ver que a cara ficara marcada na massa estanque, máscara rara de um instante que agora latejava no caminho, feito qualquer fruta no pé do quintal alheio, feito bicho solto, ninho.
     Juntou-se às outras crianças e seguiu, deixando no chão o espelho do velho. O homem o pegou com satisfação e levou para casa, onde guarda tantos outros que foram deixados aos seus pés já cansados de guerra. Depositou sobre a parede o espelho verde, onde se refletia a criança doce que agora ganhava a estrada, mas que voltaria para ver o filho que deixara nas mãos do velho Vittio.
     Deu-se assim, que quando todos já eram mais velhos, viram-se diante de um desejo daquele menino, agora como eles homem feito: queria voltar para ver a criança do espelho. Sonhava que a deixara chorando, que principalmente agora precisava dele, chamava em desespero, era filho de um instante do nome, seu nome, como poderia se negar a atender seus desejos? E o grupo decidiu que esperaria pelo retorno, para que então prosseguissem com a viagem.
      Tem sido assim, desde então, quando chora a criança. A família se lança ao acostamento, levanta acampamento sobre o céu revolto, aguardando pelo retorno do irmão que parte rumo à casa do velho Vittio, onde mora a lembrança viva que lhe chama pelo nome, que lhe convida a sentar e olhar mais uma vez para o horizonte escuro dentro do espelho e ali permanecia por vários dias.
      No entanto, o sol se levanta todas as manhãs para alimentar as ocasiões, encher o acaso de cores vívidas e no fim do dia deixá-las ao cinza, ao escuro que viça não mais pelo fogo de suas entranhas, mas nos olhares oblíquos das estrelas filhas. Por isso cada dia é uma glória significativa, não uma benção do estrato alto, divinaria, mas opera do caos currado que é a vida, esse palco onde os espetáculos acontecem ao mesmo tempo no espaço.

sábado, 10 de julho de 2010

trecho do romance "Sede" de Castr'Antonio

     Franco deixou o paletó sobre a cadeira, caminhando, em seguida, até a janela que dava para as costas de uma fábrica velha de móveis. Aos olhos de Lavínia, transformava-se sutil e constantemente, como se pudesse tirar e vestir as máscaras de uma personalidade camaleônica com extrema naturalidade, e quem lhe diria incapaz? Tinha pouco menos de um metro e noventa, uma cabeça chamativa, onde os cabelos pareciam mais ralos no centro anterior, ombros alinhados e sapatos italianos nos pés dez pras duas. 
     Olhava a parede amarela encardida, com rachaduras e talhos na superfície, banhada pelo chuvisco que repentinamente adornou a cidade. Lavínia encheu os pulmões de ar. Os lábios lhe tremiam, seu coração era uma bomba à toda e muita energia fazia o rosto formigar da mais pura tensão. E se fez calada? Não, porque poucas vezes em sua vida tinha desistido de algo por conta de sintomas de um choque, uma tensão que alimentava seus desejos mais profundos por desafios.
   
— Você vai me matar? - disse-lhe, fixando os olhos duros na nuca do homem.
—  Sim, eu vou.

     O corpo de Lavínia sentiu o impacto da frieza que revestia as palavras de Franco. Um peso, o estômago se revirando, agulhadas na cabeça que se traduziram em lágrimas silenciosas, contidas em um ódio que aos poucos se alimentava de toda a dor. Franco deu um ligeiro sorriso, enquanto uma lagartixa corria pela parede na direção do telhado.

— Como?
— Como? - ele repetiu.

     Franco se virou para olhar a figura vencida. Os cabelos cobriam seu semblante, mas a voz era perfeitamente audível, entendera bem aquela palavra, "como", mas precisava ouvi-la novamente, tinha de ter certeza que não fora puramente instintivo, mas uma obra da mente tocada pela serpente, pela asa negra do amor.

— Vou rasgar sua carótida e beber todo o sangue que puder, até estar satisfeito.
— rs... é mesmo? E você é o quê, um vampiro pós-moderno?

     Aproximou-se, mirado pelas circunferências amendoadas que refletiam sua figura. Ela tinha o rosto expressivo, rejeitando a robustez que normalmente dá às mulheres um ar maternal Os lábios eram finos, sugeriam crueldade no sorriso repleto de dentes perolados. Lembrava-lhe a mulher que com ele deixara a Alemanha para morar em Kuybyshev, às margens do Volga. Puxou uma cadeira e sentou-se para melhor observar seu objeto, que lhe dava sonoros sinais de apreensão.

— Esqueça os romances que já leu sobre nós, Lavínia. A maioria diluiu a verdadeira essência.
— E qual é ela?
— Uma última história antes de morrer?
— Vocês não oferecem nenhuma cordialidade, então?
— Imagine, faço questão.

     Como era fascinante aquela postura. Diante do abismo, oferecia a dúvida. Uma mulher que lhe instigava a uma civilidade muita vez dispensada, dispensável, já que a presa não exige, geralmente, qualquer troca. Pensava que deveria empalhá-la depois de se alimentar, para que fosse memória artística de uma experiência rara. Queria olhar para ela e deleitar-se com os ecos do agora.

— Os romances sobre nós procuram origem em eventos da humanidade cristã, ou então na guerra entre deuses que representam, símbolos de uma comunicação. Alguns são interessantes, mas devo confessar que a nova safra é muito vexaminosa. Como podem escrever sobre nós como andarilhos das manhãs? Como nos pintam capazes de reproduzir vida? É preciso que alguém desfaça essa tendência estúpida de nos humanizar, porque acredite, estamos muito longe disso.

— E você quer que eu escreva este livro, não é? - disse, sentindo o rosto encher de calor.
— Bem que você gostaria, não? Mas, não, não vai escrever o livro. Como disse, vou tomá-la em goles inesquecíveis. O livro será escrito por outro, alguém que prepara seu debut com afinco, neste momento.
   
    Ela afastou os olhos, mirando o assoalho. Ele molhou os lábios, queria ir em frente.

— Gosto de uma estória que ouvi sobre nós, certa vez, enquanto me preparava para penetrar as muralhas de uma pequena fortaleza ao sul da França, onde uma jovem de beleza extremamente rara morava com sua mãe, um tio e as empregadas. Era como uma jóia cercada de cães escaldados, sempre vigiando, sempre de prontidão, mas ainda caninos eram seus atos e eu bem sei como lidar com esses animais desde a infância, pois já tive uma, claro.
     Bom, certa noite me aproximei dos guardas, queria observar sua postura, sentir o que exalavam e compreender a maneira mais fácil de sobrepor suas armas. Foi quando ouvi a estória. Falavam sobre o que ouviam desde meninos, e um deles começou a narrar sua versão de nosso surgimento

     Minha mãe sempre me contou que os vampiros eram filhos do diabo. Isso aí que você disse eu não conheço, não, mas todo o povo de onde venho crê que essas pragas são as crianças de Satanás. Porque, veja bem, nosso Senhor, Jesus Cristo, era homem perseguido por muitos demônios, inclusive o próprio, só que eles não lhe podiam fazer nada além de tentar, fosse pela falta, fosse pelo medo, estavam sempre tentando, só que não tinha como atacar aquela figura tão iluminada.
     Um dia, bem sabe você que Jesus foi com seus discípulos até o Monte das Oliveiras, ao Getsêmani, um jardim muito bonito. Lá ele teve a revelação de seu destino, na noite anterior à crucificação. Ali, meu amigo, deu-se um martírio e esse foi o Pai de todos os vampiros.

— Como assim?
— O martírio a que se referia é o fenômeno do suor sanguíneo. Cristo teria passado por tamanha angústia, que a violência do trauma fez com que sangue fosse secretado pelas glândulas sudoríparas.
— E vocês vieram atrás deste sangue...
— Não, ainda não éramos "nós", mas como lhe disse, o diabo estava à espreita.

     Lúcifer vigiava os passos de Cristo, noite e dia. Tentava-lhe com pesadelhos que o filho de Deus desfazia com um gesto. Mandava-lhe animais peçonhentos que diante de si tornavam-se de estimação. Nada parecia perturbar o equilíbrio de Emmanuel.
     Quando o sangue Dele caiu sobre a grama do jardim, o demônio, imediatamente sentiu-se invadido pelo desejo, coisa que compartilhamos você e eu, também. Só que ao caído não era possível chegar àquela seiva ímpar, ainda que tivesse buscado todas as maneiras. Sentiu Lúcifer a verdadeira sede, uma aridez que lhe castigava, açoites seguidos de um desejo inatingível.
     Foi ao vilarejo mais próximo e buscou nos homens de Deus a sua nutrição, mas todos estavam fora de seu alcance. O demônio estremecia a cada passo e a cada recusa seu corpo se arrastava mais pesadamente sobre a terra, até sumir em escuridão. Despertou com as palavras de três homens, "nós negamos Cristo", eles diziam em claro e bom som. Lúcifer reuniu suas forças e espreitou o lugar onde os romanos da guarda estavam interpelando os rapazes.

E eles foram as primeiras vítimas...
— Sim, foram eles. Lúcifer ficou furioso quando percebeu que a sede que sentia jamais o abandonaria, não importa quanto sangue buscasse na face da Terra. Foi então que ele atirou, sobre os homens que negaram Cristo, sua sentença. Animou os corpos, soprando-lhes o fôlego que a morte desviava da matéria, mas não lhes restituiu a vida. Viveriam, a partir dali, movidos pela sede, insaciável busca, motor para todos os passos no futuro.
— E você acredita nisso?
— Tanto quanto se pode acreditar no próprio Deus.
— Agora, você vai me matar?
— Sim.
— Pai nosso que estás no céu, santificado seja o Vosso nome...
— O telefone para o qual você ligou está desligado ou fora da área de cobertura, tente mais tarde - ele disse, a voz projetada com alguma agudeza. Lavínia, vamos, não faça isso. Não vai conseguir ajuda.
— Ajuda? Estou apenas acertando minhas contas, seu imbecil.
— Veja, escute-me, esqueça seu Deus um pouco e me dê atenção. Tenho uma proposta a lhe fazer...

quinta-feira, 8 de julho de 2010

"Não tenho que provar a ninguém o meu valor"

Assim começam as palavras do nobre Kleberson, volante do time cujo goleiro acaba de rescindir com o Bangu. Pergunto-me,

se o papel de um jogador de futebol não é o de mostrar seu valor, seu potencial, então


QUAL É?

É preciso que alguém explique, por favor, qual é o fundamento em pagar rios de dinheiro a alguém que não tem de provar nada aos que lhe garantem mulheres, noites badaladas, carros, viagens...

Gente, na boa, o que acontece com as pessoas desse país? Vocês não veem que estão sustentando, permitindo a maior maracutaia do mundo, que é um bando de caras muito mal atrás duma bola, ganhando monturos de grana, pra vir na cara de pau e dizer que "não precisa provar seu valor"?  É um absurdo que se viva de tal maneira, aceitando tamanha insanidade como algo normal. "Ah, só porque ele é pago pra fazer o que mais dois quilos de carne e um pouco de cerveja poderiam tornar um gozo prolongado, deveria eu condená-lo por estar desanimado?".

CLARO! Qual o seu problema!? Por que não rasgam dinheiro logo? Porque precisamos do papel, porque ele vale mercadoria, porque mercadoria satisfaz necessidades e assim vamos nessa roda viva tão empurrada com a barriga, cheia de pequenas ilhas preciosas onde se cultivamos fantasmas coloridos. Chegamos a nos matar por conta da fantasmagoria aguda. 

Acho que os jogadores de futebol, principalmente, precisam reconhecer seus lugares. São atletas e isso ainda tem um sentido de provação, sim, senhor, de mérito e honra, como sempre se leu nas medalhas que muita gente tem por aí enfiada nos armários ou penduradas nas paredes, as quais dá valor e ama por serem seu arquipélago memorial. O que fazem esses que se acham acima dos seus deveres? Se não estão aqui pra nos entreter de forma excepcional, POR QUE DIABOS LHES DAMOS ESSA BOA VIDA? A troco de quê você aceita viver num mundo onde seu vizinho pode ser despejado de casa, mesmo sendo um operário regular, enquanto um boa-vida vai à tevê dizer pra você, que paga a comida dele, não se meter?

ACORDA Brasil.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Particípio ativo

Particípio ativo

feito pouco leva
uma vontade toda minha
colada ao corpo
cada dente carrego
por alfabetizar-lhe o bicho
imprimindo no pescoço
os meus braços constritos a
testa escorada no disco
enquanto reto
um marimbondo corrige as falhas a talhos

tem dores que são mais amores
que os maiores anos de nossas vidas
por isso a ferida não me espanta
por isso canto enquanto o sangue espirra
tingindo a pele de matizes
diluídas as cores no suor delira

feito muito passa
meu desejo de adrenalina
refaço as curvas à ponta do lápis:
dois riscos no papel esquadrinham calamidades
aditivado volitivo vê se segura essa malandragem

rasga o quadro a quadro
temos aí um fundo preto
abismo que se faz ignorável
pela dimensão que não compreende termo
surgindo de todos os cantos
por todos os lados desvendados
debaixo dos travesseiros
sobre nossos planos imediatos
feito refém futuro grita num sofrimento
do preto se vai ao vácuo

todo amanhã acaba em si mesma
como o dragão que morde o rabo