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sábado, 30 de maio de 2009

que merda...

comecei a gostar de Engenheiros.

O diagnóstico de alguns é a velha síndrome de Peter Pan. "Acho que ele está querendo retroagir pra se preservar". Outros dizem que é uma simples bifurcação que a vida acaba levando a. Como é que eu vou saber? Eu ainda acho graça em algumas músicas da Legião Urbana, então, não sei, acho que simplesmente percebi que as imagens nas músicas dos caras do EngHaw têm mais fôlego que a maioria das letras que a gente ouve por aí.

cansei de ignorar a banda por não simpatizar com o vocalista.

acabei de ouvir Piano Bar e me arrependo de não ter experienciado antes. Quanta coisa se perde por falta de curiosidade, por uma necessidade de preservação de si, do que se acredita e se precisa acreditar pra se conceber equilibrado? Por que é tão difícil pra maioria oscilar em paz?

Abro portas, cavo sulcos, rego a horta e não sei o que vai nascer dessa terra. Se antes o medo era um pastor de rebanhos, agora ele está guardado em algum lugar, inteiro ainda, mas já não mais pastora meus animais. É estranho como é tão familiar o mundo que se dilui e se unifica só pra se espalhar depois do entendimento.

Se amanhar eu não gostar mais, perdoem-me a falta de consistência. Ou não, e vamos indo como somos, se inimigos, ou irmãos, mas nunca abandonados, nunca sem alguém pra dizer não.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

meu dossiê de sensações

um sem número de sobressaltos
e segue assim até o sono...
mas fuligem se agarra à superfície
o sonho que antes era um salto
hoje pesa na vertigem
mas de quê?
que abismo em mim se esconde?

o nome não tem dono
o quando não tem onde

meu santo sai de férias
fico no abandono
pensando nas matérias
de que são feitos todos os homens
os hemisférios se confundem
fundam continentes com novos mercenários
inventam antigas ambições
descobrem desertos movediços onde antes
a vida aflorava sobre nações de grandes reis
cada grão de areia um brilhante de coroa
toda dinastia seduzida pelo tempo é tombada
cada príncipe viu seu solar abater-se
a bater-se na poeira de si
tentando emergir do buraco que o tempo cavou
pra que pudesse dormir

meus mundos se misturam outra vez
desnudos de tudo que gruda
vestindo casualmente uma cara qualquer
a um cara qualquer que ruma
quanto caminho que se cruza meu deus
cada coisa que é só uma coisa no fim
pedaços de mim que se juntam

domingo, 24 de maio de 2009

um amigo da turma do Capuleto

- ... e que coisa, não, que coisa é esta que tu guardas com tanto empenho?

- É ferida, não tentes uma rosa desalmada, porque só te esperam espinhos e um destino afortunado pelas sombras e o orvalho, teu companheiro de jornada, porque te vestirás em pesado metal e terás no teu rosto a tempestade de muitos dias de melancolia.

- E que pensas que faz afastando-me ao destino? Se sou homem trágico, que se cumpra a vontade dos deuses, que eu me afogue no desespero dos teus abraços até que não me pertença mais alma, e então eu possa ser enterrado como aquele que cumpriu seu papel. Não dispenso as formalidades e quero até a última lágrima do teu sofrimento.

- Não sou palco de tragédias...

- A não ser a tua mesmo.

- Um ato solo, e deve-me respeito, ou então, o que? Meu texto não tem folego para dois. Minha perspectiva é toda interna. É meu coração que sopra as falas ao ouvido, que mexe debilmente estes membros. É ele mesmo agora que te diz, vai-te, poupa-te dos meus tormentos. Não cabe aqui ninguém além de mim, sou do tamanho do meu coração e nenhum ficou para contar estória. Nem mesmo eco.

- É o desprezo a tua moeda, é com ele que recebes os teus convidados?

- A única verdade que posso ofecerer. Como chama moeda? É presente que ofertei apenas a meu pai. Por certo, morto, não se recorda da felicidade que teve ao saber que não lhe tinha ódio, que não negar-lhe-ia ajuda na velhice, ficou contente com o silêncio e muita vez venho a crer que seu desespero, no leito de morte, resumiu-se ao apego que a qualquer cão deixa a vida. Provavelmente precisou de imagem minha para ter aquele punhado de lágrimas.

- Que seja, não te desejo mais. Quero apenas ser teu amigo.

- Nem isso posso oferecer.

- E por que não!?

- Porque já me sabes desprezível. Não vivenciastes isso, nem sequer viu como a vida prepara o palco para o espetáculo, nem mesmo sabe como improviso minhas falas. Não serias meu verdadeiro amigo. Entende? Sabes de mim pela minha boca e não deves confiar nela. Nada que saiu daí em todos estes anos esteve no mundo mais do que uns dias, talvez meses, quem sabe algo tenha expirado em um ano, mas não mais do que isso. Eu mesma não.

- Lua, que por bela escultura demônios como faz aos anjos, por que me destinas este tormento sem tamanho, que é enamorar-me de alguém que só me despreza?

- Os astros não te responderão o que é matéria de humanidades. Deixa a lua que por bem só avulta. Não te faz de bobo, anda, levanta-te e segue para tua casa. Há em toda parte uma senhorita bela e com dotes vários que te podem preencher a causa. Não derrames lágrimas que não valem o sofrimento. És uma criança, por acaso, que te recusas a aceitar o inevitável? Não terei filhos por conta disso. Anda, vai-te.

- Sem alma! Vil! Ainda me pagas...

E enquanto se afastava, pensou que ela não perdia por esperar. O destino se faria cumprir, cedo ou tarde.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

nascemos sócrates e não temos mirra

mas o ouro abunda
como a bunda aos tolos...

Não há o que fazer. O dia principia lá fora e eu aqui me acabo.
Por que tanta demora? E que demora é essa?
Meu tempo não se acaba e não passa a minha pressa.
O que é que vem, ainda, que tanto tarda?
Qual companhia que me custa a chegar na hora exata?

E que exatidão é essa que sufoca?

Onde é que as coisas recebem nome e espírito, sei que é em algum lugar lá fora, mas onde, exatamente, se encontra tudo isso?

enquanto isso...


- É preciso matar o totem

- E a riqueza do passado?

- O tempo é filho do homem.

- Mas e todas as coisas que cessam?

- Nada cessa.

- Tu és o totem!

- E tu o desespero.

- Mas eu te devo matar!

- Tens medo.

- Sou frágil, já logo morro.

- Morres já. Não esqueça, o tempo não existe.

- Estou morrendo neste exato momento. E de quê?

- De vida.

- Por que me vives?

- Porque te amo.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Is there anybody going...

to listen to my story...

nela não há nada de mais
tampouco de menos
é a história de um ser sem estar
de um estar sem querer no verbo roído
e sem saber rodar, voltas de voltar ao mesmo espaço


que é pra ver se corre mais rápido
que é pra ver o verso do juízo
esse cálice dado a beber pelo inimigo em comum
em comunhão

esse inimigo que eu trago no peito
até então calado
mas do tipo expansivo
do tipo que não pára quieto

que corre por todos os lados
e quebra tudo na histeria de um estado controlado
sabe lá a que custo eu me in carrego
sabe lá como eu deixo que ainda viva esse bolo concreto
esse porco sem projeto de futuro
esse muro entre o mundo e tudo o mais que realmente conta
eu que já não creio mais em deus
eu que já estou pendurado na conta do português giramundo
desde o grande boom imperialista
salve Afonso o Dom Henriques
ou teriam sido antes os chineses?

não importa quem já fora
o tempo não existe
o que importa é que lá fora
ela está acontecendo
em algum lugar ela acontece
está acontecida
e permanece

eu me reconheço
nesse amanhecer de ressaca
sem o o menor sentido
mas vá lá que está tarde
aos estudos, amigo!

all about the girl who came to stay
she's the kind of girl you want so much it makes you sorry
still you don't regret a single day...


quarta-feira, 13 de maio de 2009

farra assim não!

eu vi fim no teu frio

faz assim não meu bem
lembre que me acabo
que sou ente finito
duro só uma tarde
do sol que se levanta
esse mesmo que segreda
de volta pras águas do rio
na véspera de sempre
aquele que tenta e tanto
que no tardar se espanta

faz assim não meu bem
lembre que me apago
que sumo no vazio do beiço
no preço do passe até o centro
na subida de volta até em casa
como no quarto onde fica o cheiro
cheio de pedaços recentes do passado

por todos os lados do espelho
procuro um único buraco
lugar onde não haja verdadeiro
reflexo de um canto amargo
e descubro que na ausência da imagem
tenho a memória vulcânica do beijo
o momento roçado do abraço
tenho quase por inteiro
mas só tenho aos pedaços

frio que corre entre os espaços
perdoa meu longe
ainda que doa
poupa meu sonho que não chega
santo nenhum cuida do sono
frio que corre entre os espaços
abandona de uma vez
me perde do teu lastro

terça-feira, 12 de maio de 2009

Vinde vós, Dionísio

Enquanto Apolo pode reger-nos em nossas aspirações à expressão, e falo da busca pela originalidade que promova a particularização, e aí a imortalidade, é Dionísio que nos deve reger como grupo, de modo que nossa busca pela individuação seja sempre um movimento coletivo, que não precisa ter forma específica, não precisa estar encurralada, desde que esteja em uma relação harmônica a maneira como se estruturará e sua renovação torna-se o objetivo da vida. O quanto não floresceria das idéias de cabeças livres e assim capazes de uma comunicação que não é doutrinação, mas experiência? Teríamos a interioridade convertida em um laboratório experimental da linguagem e de todo seu potencial actante. Ao mundo, caberia a representação, e as representações formariam seu relacionamento, trazendo autor e obra à baila, de forma que estaríamos num fluxo continuo e valeria, portanto, a máxima do conhecer como autoconhecimento.


Busca pela perfeição? De forma alguma. A perfeição indica que o desenvolvimento teve fim, que o movimento está cessado. Primeiro, foi o verbo, a ação, o que nasce e morre, e não cessa de nascer e morrer, e assim se renova, e ele é athanatos. O que se pretende é a liberdade para criar, para expressar, e a liberdade não apenas política, mas plena, a liberdade que não se interrompe diante da fome, da falta de instrução, da estigmatização, em suma, da malandragem. Para que o jogo tenha graça é preciso estar-se à par das regras e dos movimentos dos adversários. Na atual conjuntura, creio que estamos disputando às cegas com bodes expiatórios que teatralizam o maior espetáculo da terra. Que dizer, teoria da conspiração? E o inverso, que seria, teoria da adulação ou da acomodação? Uma teoria geral da alienação? Navegar é preciso.

domingo, 10 de maio de 2009

Só digo uma coisa: TRADIÇÃO, FAMÍLIA E PROPRIEDADE

disse Dinix...

estava eu de bobeira, pra variar, e fui ler um texto sobre Integralismo. Antigamente essa palavra já me daria sono e eu procuraria algo com um campo semântico mais pop, né, só que eu já to ficando velho e começo a ter mais rígidos os controles do aparelho ideológico. Ou seja, culpa.

Integralistas querem o quê? Na prática, parece que os caras querem se juntar com a Igreja pra poder dar as ordens no Brasil. Chamam a sua vitória de "4º império", uma maneira de florear os fins. Acontece que, como no floreio supracitado (você encontra essa e outras palavras chiques por lá), os caras não entregam o jogo de forma limpa. Dão toda uma enrolada discursiva, enaltecem a religião, claro, porque é seu escudo e lança ideológicos. Diz-se que no plano ético e moral a vitória já os pertence. Claro, além de serem dois planos cuja discussão demanda processo lento e pouco interessante na práxis, fica aí a estratégia sofismática de conduzir o leitor às pressas pra que ele esteja exatamente onde querem. Claro, se não são questionáveis ético e moralmente, então precisam apenas mostrar algum valor prático. Balela.

Sucede-se uma série de baboseiras no texto do atual presidente da instituição integralista, enaltecimento do "pensamento alemão em geral" hahahaha do romantismo, autopromoção através de uma falsa humildade, que em si tenta vir à tona como traço de um caráter positivo, mas falha e convence apenas o idiota, alvo de suas ânsias. Enaltece quem o antecedeu, lustra o ego do avô, e diz-se "aquém" de todos, mas logo aponta uma suposta erudição.

Ao cabo, diz que o Brasil tem de se realinhar com o destino
histórico assinalado, e que eles, os integralistas, são o veículo
condutor até esse estado natural e quase divino. E qual é esse destino?

ser governado por eles

O lobo pode trocar de carneiro, mas ainda cheira a lobo.

sábado, 9 de maio de 2009

across the universe


Falando de filme, Across the universe é um clichêzão pop da pior qualidade.

Vai desde a protagonista loura e o problema do amor e da guerra do vietnã, até os balés previsíveis e as coreografias da madonna em caras sérios, pra dar o contraste.

O formato é um porre. Os solos são muito iguais a High School Musical, cheio daqueles sorrisos que o cara dá pra si mesmo, as olhadas pra baixo, depois o olhar contemplativo, as entradas emotivas pras meninas ficarem apaixonadas nas músicas. Não à toa o protagonista lembra um Ewan McGregor misturado a e a lourinha traz toda a tradição angel beauty do cinema hollywoodiano, forçadamente, mas falemos disso depois.

Como é possível que faça isso com Beatles e as pessoas ainda batam palmas? O caráter lírico, universal, das letras, permite que se encaixe-as nas situações mais diversas. E é exatamente aí que os roteiristas se aproveitam pra fazer as coisas mais lugar-comum do mundo. É patético. A latina buçuda que é cheia de desejo sexual, o negão correspondente pra pagar de jimi hendrix.

Um aspecto interessante, a aparição ridícula de Joe Cocker, uma sátira de si mesmo, um coadjuvante de voz inesquecível e talento inegável. O momento mister K., na boa, plágio da idéia já colocada em Moulin Rouge.

Pois é, o filme é um grande Moulin Rouge. Autopromoção usando a guerra no Vietnã, claro, como não podia deixar de ser. O discurso autopromotivo dos americanos sempre foi o de escancarar suas falhas através de uma nova geração de americanos tão patriotas quanto os antigos, mas agora demonstrando consciência dos atos errados do passado. E isso os redime! E os deixa prontos pra outra. É a beleza do romantismo tolo conquistando mentes ociosas.

Os atores são horríveis, mas a lourinha do Aos 13 superou o resto do elenco. Ela simplesmente não tem profundidade alguma.

Eu acho uma bruta sacanagem o que fizeram com a obra dos Beatles. Interpretações legais das letras? Ok, algumas coisas foram legais, mas é muita porcaria pra uma ou outra coisa que sustenta. E só Beatles sustenta. Não fosse a força da obra dos ingleses, esse filme não passaria nem na sessão da tarde. Moulin Rouge 2. Pobre de espírito. Clixeira.