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quarta-feira, 18 de agosto de 2010

O mundo precisa de amor!

E aquele que vive por aí enunciando isso precisa de bom senso, sinceramente. Que amor é este que estamos precisando, que não praticamos? Saia na rua, cara, veja o amor acontecendo em todos os lugares. Amar é a única coisa que sabe fazer o homem, e mesmo o ódio é um amor ao seu modo. Vejamos uma passagem do romance "Baião de Todos os Santos", onde isso fica bem claro.

     Exausto. A cabeça lateja sobre a fronha limpa. Quero dormir anos a fio, mas não posso, não conseguiria fazê-lo, mesmo com o corpo em pedaços. Não enquanto ele estiver por aí. Meus sonhos lhe pertencem, até aqueles que tenho acordado. Pensamentos rápidos cortam a abóboda craniana atirando imagens aos meus olhos, de pequenos movimentos, como filmes que preciso ver para que o tenha junto a mim com a mesma nitidez de todos os dias. Seu cheiro deixa rastros na cidade, tenho certeza que já estive uma porção de vezes no segundo seguinte ao seu último passo, depois uma curva à frente e cá estamos, separados pelo tempo, devorados pela cronologia, como se supôs que já não acontecia mais. Um gosto férrico sempre inunda minha boca nessas horas, minhas mãos suam e aquele assombro do quase tira um riso infantil da cara. Tenho medo que ele morra, que se adoente e não possa escapar. Nestes momentos, não gosto nem de pensar sobre, o corpo regela, tenho vontades de Deus e sinto que eu mesmo não estou nada bem. Não podem tomá-lo, simplesmente vir e levá-lo sem que eu possa, sem que eu seja a própria doença, a esperança e a escuridão. Refratar na lágrima do próximo, ver meu nome desenhado no trêmulo dos lábios daquela, ascender no choro copioso de uma pequenissima multidão. Ah, como eu desejo que você esteja bem e seguro, que a tua saúde latente seja endêmica, e que tua família cresça em viço e abundância. Aguarda-me, tenho fome. 

 O mundo não precisa de amor, o mundo é feito de amor. Isso é um ensinamento bíblico que as pessoas não percebem. O que prova não ser o livro, a religião, mesmo o pastor aquilo que faz diferença, mas a pessoa e sua relação com o conhecimento. Se Deus é vida e também é o amor, viver é amar, e não se mobilizar pra que isso aconteça. Esta mobilização é, em si, um gesto de amor, como muitos outros. Acontece é que esta noção de que o amor se dá por uma particular construção, que na maioria das vezes carrega o discurso do interessado em manipular ideologicamente, esvazia a vida em sua totalidade, torna-a feita de pequenos momentos orientados por um discurso bastante objetivo; e, também, em grande parte, uma espectativa por algo, quando este algo está acontecendo o tempo inteiro, já que ninguém está excluído da vida social. Mesmo quando acha que está, porque nada mais é a fuga que um relacionar-se com aquilo de que se foge.

Amor é interesses. O cabresto é a vestimenta daquele que aceitou no coração um diabo terrível, a monotonia. Salva tua alma. Vai amar, filho da puta!

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