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domingo, 30 de maio de 2010

chupa que é de uva

O que é felicidade? Não é um lugar, com certeza. Felicidade é presente contínuo, é um auxiliar fazendo o verbo gerúndio ser corpo em movimento, sonho em gestação, revoluções por minuto. Ser feliz não é um objetivo, é o meio com o qual se cruza o mar silencioso, de ondas temperamentais. Os monstros no percurso, as glórias, tudo isso fica por nossa conta.

Felicidade é ter um gosto louco por viver essa grande porra nenhuma.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Minuto Mudo

... se arrasto feito bicho por mais tempo, não me lembrarei mais tarde como é sorrir. Um meio apoio, alguns ossos estalam feito junta de porta, aquelas de madeira que já não se faz mais. Minha garganta seca é morada da demora, por isso tenho pensamentos leves e longos períodos de mansidão, porque sou quase nada neste corpo degradado que inanima meus dias a cada quarteirão que passa.


     Minha barba é meu porto, meu lugar de repouso, onde meus dedos procuram carinho de pêlos, todos prosa, enquanto acontece poesia concreta em todo lugar. Conheço gente que já comeu pedra, mas isso ainda não fiz. Se fumo um cigarro, se tenho preocupações, se birito algo no caminho é minha barba que me lembrará, assim como das lágrimas salgadas que eventualmente se chora, mesmo quem parece duro que nem rocha, encardido, louco, prestes a vomitar diferenças que são monstros pra consciência de muito bicho besta.


     Tenho medo do futuro. O escuro é ruim até no pensamento. Quando vejo, estou cercado pelo que não percebo, já que voo acima das ilusões que a vida tem me aprontado. Não é melhor que fazer parte do cortejo, não, dá mais angústia, é um céu sem estrelas, sem Ícaro, nem montanha onde Gabriel seja farol para aquele que vem do desespero, não, nada, é uma massa preta onde você bóia e espera pela praia, se tiver sorte e não for devorado por tubarões enquanto seu corpo treme feito o diabo.
     Acordo, tomo um pingado, como sanduíche de mortadela com queijo, que é barato, não dói no bolso e me mantém esperto até o prato. Talvez só tenha ele, talvez seja apenas o começo de um dia servidão pra minha desgraça, que aliviada parece até que tem jeito. Vou começar a pensar em ser alguma coisa, tenho energia, basta que ponham dois ovos, couve, feijão, arroz e um pedaço de linguíça, que ninguém é bobo, não.


     Tenho três filhos, mas não sei cadê nenhum. Foram todos com a mãe tentar a vida em Macaé, onde um primo é segurança de empresa. Vai costurar pra fora, limpar casa de madame e fazer pé e mão, os moleques vão pra escola, talvez façam esportes, judô, jiujitsu, natação, talvez joguem bola, talvez fiquem ricos. Enquanto crescem, penso-lhes histórias, desenho vidas que não vejo, sei que cada minuto ali não é fácil, que os pequenos sentem saudade e que todo dia perdem um pedaço do que deveriam cultivar, mas não sirvo pra acompanhar a mãe, claro é, claro está.


     A verdade é que tenho pouco tempo até a partida, porque meus sonhos precisam de mais anos ainda, muitos mais além destes que me oferece a vida, da qual acabo comprando umas dezenas, e deixando o resto pro diabo beber no bar, por minha conta, enquanto faço das minhas. Se eu fosse Deus ia poder tanto que não saberia, é melhor então ficar satisfeito com alguma sabedoria, apenas a necessária pra juntar caminhos e ter mais certezas. Olho o horizonte e vejo uma massa preta que vem voar ao meu redor, mas em tempo estes olhos saberão o que já lhes sussurra a alma: "não são eles que voam ao teu redor, é tu que dança vendado os caminhos da vida".

quarta-feira, 19 de maio de 2010

um dia triste

...toda fragilidade inside
o pensamento lá em você
e tudo me divide...

Parece que o mundo subiu em minhas costas e disseram, "corre, corre ou você perde o páreo". Um desconforto na nuca, os ombros duros, uma vontade latente de me espalhar no mar. Só que as ondas quebram longe, os marulhos ainda verdes cantam coisas que não sei dançar.

Do alto da torre, coroado por um vasto telhado carmim, inspiro a umidade horizontel do fim de mais um dia. Alguma coisa me puxa os cabelos e faz dos meus pelos um choque contra o espaldar.

I am Jack's sense of reality. 

terça-feira, 18 de maio de 2010

os fantasmas se divertem

   Uma amiga, muito sábia, por sinal, disse-me uma vez, "não idealizo meu amor". Avatar de um ensinamento que já me havia sido dado por Alberto Caeiro, digo que representa e muito para mim, hoje, esta diretriz. Tal declaração me vem à mente com muita força, atualmente, dadas as minhas circunstâncias, tanto materiais quanto intelectuais.

   Quando nos dispomos a idealizar algo, criamos fantasmas que passam a viver o lugar da coisa em si. Trocamos a experiência do ser pela experiência de ter, pois idealizar é a única maneira de possuir o que, de fato, é inapreensível. Não se possui, verdadeiramente, algo ou alguém, mas aquilo de abstrato que se cria por meio da fantasia é que se torna o objeto apreendido. Agamben fala sobre em seu "Estâncias", onde comenta Freud e outros estudiosos.

   Então, vale mesmo a pena nutrir expectativas de direito (possibilidade de alguém obter vantagens ainda não definidas) sobre algo ou alguém, mesmo sabendo que o fim é uma provável decepção? Não existe pessimismo neste pensamento, mas razoabilidade. Convenhamos que, se esperamos que uma situação se dê em detrimento de uma série de outras, a probabilidade de que esta uma situação aconteça é bem menor que as demais, não é verdade? Por isso a decepção é quase certa.

   Sonhemos, claro, mas não pensemos jamais que o sonho deve se converter em objeto para que, desta forma, seja apreendido. Aprendamos a amar o pássaro em seu descanso, mas também na sua liberdade e em sua morte, porque ao desejarmos muito este animal, deixa ele de ser um bicho para se tornar um bem e, como tudo que se vê privado da própria natureza, acaba descartável. Amemos o voo e deixemos que cada ave cruze o céu que desejar.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

fruta pão

eu sumo e de repente
meu mundo se transforma
um tanto sem rumo
conquistado pela experiência
de um profundo gesto
que a reviravolta fecunda
atira ao meu sossego

um pouco de nexo no espaço
sem retrocesso
feito o voo de um sabre certo
sobre a carne escura
que nua esperava o canto
mas que teve o corte
e sangrou calada pela noite
à céu aberto

meu corpo de repente
é bem maior que o mundo
tantos fantasmas em luto
nesta guerra sem espólios
mas cujos louros ficarão
pra coroar os pensamentos
do meu sumo sacerdote

segunda-feira, 10 de maio de 2010

insonia

Uma noite como outra qualquer, exceto que o sonho dá lugar ao ceticismo. Uma aula para dar em algumas horas e, o que há? Por enquanto, Peter Frampton. Estou ouvindo sem tentar entender, ao menos agora. O álbum se chama "Thank you Mr. Churchill", nome da música de abertura, também. Mas o que há além? Uma certa indignação.

Não sei, estou cansado da rotina de certas coisas. Os dias se repetem e, cada vez mais, parece que as estruturas que compõem a vida por aqui são as mais gastas, repetidas, herdadas por quem quer a verve de sentir, de fazer, de transitar pra saciar uma vontade que não perde a fome: a distração.

Então, é isso, estou cansado de pessoas espancadas até a morte pela Polícia, assim como estou cansado de beijos triplos, ménages, e todas as outras formatações sexuais que parecem rituais necessários para que se diga, "uau, por isso tudo é que valeu a pena". Estou cansado de dias de mãe, dias de pai, dias de indio e todos os dias dedicados ao prazer do consumo e à preservação de uma visão tão preguiçosa e/ou ingênua de celebração. Cansei de notícias falando de conflitos religiosos, conflitos etnicos, conflitos disso e daquilo, quando na verdade, sabemos que o verdadeiro conflito é gerado pelo poder, pela necessidade de acumular capital e tudo aquilo que o valha. Cansei do amor que salva, do beijo que liquida. Estou cansado do silêncio divino e do blá blá blá da ciência.

Quer saber, Mundo, VÁ TOMAR NO CU!

domingo, 9 de maio de 2010

A Caravana

Com a chuva, vejo agora, chega também a caravana. Ainda no horizonte, sob fina cobertura, que se tem deste fenômeno? Apenas uma sugestão de pó que a fúria de sua aproximação causa ao redor, tremores de perna, a certeza de que o agora tem o peso de antes e de todas as eternidades. São as memórias, cavalgando em bando a pluvialidade de uma tarde senil, coberta de sono e mansidão, em que toda esperança se exige caída do céu ou então, dane-se, que assim seja, mas que não arda, que não doa, que apenas toque a face como o vento que escapa pela fresta na cortina ajanelada e diz, "é tarde", somente a mensagem e depois o completo abandono. O ar enfarado, o tempo parado, o espaço mexendo sob os pés pro alto, o estômago roendo os limites, a soda cáustica dos pensamentos banhando os campos onde antes cresciam torres e flores belíssimas. Em meio às ruínas do templo, onde queima ainda a chama, não recende mais a marapuama em brasa, nem a luz insiste em penetrar as salas onde se comemoravam aniversários inventados, santos recém-descobertos, brilhos, nada mais, tudo é mergulhado na incerteza e permanece quieto.



A caravana está. Acomodam-se entre colunas perdidas, procuram pedaços de teto, acendem fogueiras usando a chama original, mas sentindo o calor que se perde no sereno do ocaso, esfregam os próprios corpos, os braços, as pernas, procuram alívio no gesto solitário de quem tem por companhia um tecido salpicado de estrelas fracas, uma lua filete, "olho de gato", e a sensação nítida de que aquele mesmo dia virá mais vezes. Somos objetos inanimados que recebem calor e projetam sombras onde dá o clarão. Minhas unhas cresceram pra encontrar os cabelos, meu corpo coberto de prioridades tem o escuro do desejo alheio, minha saliva é seca e envenena as águas potáveis; por isso me abraço ao homem pretérito, aos pequenos laivos de uma verdade que, vencida, atirada ao fogo para que esta noite não seja a derradeira, dança em sincronia com a terra e exige dos seus uma parte das conquistas obtidas em batalha. Não, não de uma vez só, um pouco todo mês do que é dado. "A liquidez do bruto é meu salário".

segunda-feira, 3 de maio de 2010



soul
said:


a melhor deles, até agora, na minha opinião, então acho que é hora de continuar procurando.

so
sad


                 ly