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segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Manifesto Mendes 01


                Gostaria de manifestar uma curiosidade, não uma revolta, mas certamente uma dúvida, quanto a uma notícia que li na Folha de São Paulo, para quem também endereço esta correspondência. Queria saber se realmente a senhora Ilzamar mobilizou os acreanos em prol da campanha de José Serra usando o nome de Chico Mendes, deixando de lado, ao que parece, um juízo fortuito da decisão que tomaria Francisco Alves Mendes Filho. Ou então, é possível, trata-se de outro Chico Mendes, e o que desejo é falar sobre aquele que conheci.
                Infelizmente, não estive com ele pessoalmente, mas não importa, a intimidade de Francisco não é assunto de ninguém, o importante é falado por seus atos. Torna-se líder sindical em 75, quando a ditadura fartava-se do apogeu. Comprou briga com empresas que promoviam o desmatamento da floresta amazônica para lucrar sem limites. Coordenou a greve dos seringueiros que usaram o próprio corpo como forma de conter as máquinas. Era um agitador político que via na exploração do homem e da terra uma ameaça ao bem-estar.
                Muito mais fez Chico Mendes, que levou o povo para dentro da fortaleza política, transformando câmara em foro, levando debate, luz, pra onde impera a penumbra facilitadora. Obteve ameaçadas de morte, mas ainda assim seguiu, foi um dos fundadores do PT, estava com Lula na década de 80, mas não está mais, nem estaria, porque não parecia o tipo que gozaria da riqueza de banqueiros e empresários enquanto gente ainda morre de diarréia.


                Foi assassinado nos fundos de sua casa, e o estopim foi a grande ação que lhe rendeu reconhecimento e premiação internacional, ainda que não tenha rendido proteção, por ter denunciado ao Senado dos Estados Unidos a utilização de investimentos do BID por empresas que promoviam intenso desmatamento e nenhum desenvolvimento. O banco cortou os fundos imediatamente e isso enfureceu os interessados na exploração dos homens e das matas.
                Portanto, o Chico que conheço morreu por não ter escolhido lados, por não fazer concessões, por não ser aliado de explorador e de gente que finge não ter consciência de que desenvolvimento não existe sem bem-estar social, senão não é progresso, é ingresso, morreu por acreditar que o povo deve defender seus direitos com a própria vida, e que me desculpem os que dizem conhecê-lo melhor que eu, este Chico Mendes jamais apoiaria o tucano José Serra.

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