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sábado, 4 de janeiro de 2014

trauma de mar 2: a Garota tá na merda

Quando era criança, recordo que um dos passeios mais famosos entre a classe social a que pertencia era o famoso dia na Ilha de Paquetá. Nós, como muitos cariocas, íamos até lá e andávamos de bicicleta, comíamos nos restaurantes, brigávamos, havia choro, biscoito e guaraná. Mas o melhor era o mar. O melhor é sempre o mar, pra mim. Eu sou do mar e ao mar me entrego sempre que estou diante dele, sabedor de que toda a distância do mundo não nos pode separar. Sempre vou dar um jeito de desaguar nas ondas de um dos sete. E foi esse amor todo que me fez não voltar, não pensar em Paquetá, não querer mais, porque lembro de estar na água e me ver cercado de bosta. Eram toletes que boiavam ao meu redor, enquanto brincava com um dos meus bonecos. Saí da água e nunca mais voltar pro mar de Paquetá.

Hoje, vinte anos depois, tive novamente a mesma experiência. Não tinha um boneco, nadava e queria ir pra longe das pessoas, da arrebentação, nadar livre até onde pudesse. Então, vi que estava, novamente, cercado de merda. Toletes grandes boiando no posto 9, apinhado de gente de todos os tipos. O contraste era imenso com a experiência que acabara de ter em Ilha Bela, no litoral paulista. Uma praia de gente branca, elitizada, com Djavan tocando no sol a pino. Uma praia limpa e preservada. Aqui, a beleza de uma gente multicolorida e multicultural, mas a desgraça dessa mesma gente, que suja a areia da praia com latinha, palito de sorvete, copo de açaí e de mate. A mesma galera que faz necessidades dentro d'água, literalmente cagando e nadando pra quem está ao redor e pode contrair uma doença. Pessoas que transformam a cidade maravilhosa num cartão postal dantesco.

cagay pra ti


É lamentável, que as cenas em Copacabana após o ano novo tenham sido mais do que uma experiência virtual, por foto, mas vivida na pele, experimentada no asco de estar num lugar onde as pessoas são muito festivas, sim, mas pouco ligam pra organização e higiene, fazendo do divertimento um nojo só. O quanto isto não está ligado à vida em comunidades? O quanto isto não está ligado com a falta de apego dos que vêm até o litoral, afastado de suas casas, e simplesmente não se importam em como vão deixar o espaço quando forem embora? O quanto isto não está ligado ao mundo negligenciado pelo Estado, com esgoto a céu aberto, falta de coleta de lixo e proliferação de doenças? O quanto a praia não se parece, agora, com a cara do Rio que o prefeito e o governador fazem questão de esconder? Não dá pra dizer, no entanto, que os moradores das redondezas sejam tão mais organizados assim. Basta andar pelas ruas do bairro, as mais afastadas, pra ver que a coisa não é perfeita entre os ricaços da ZS. É um problema geral de conscientização de convivência e meio ambiente.