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sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Não morra antes do tempo!

Se a gente tem de polarizar a coisa, mesmo, vamos lá, eu gostaria de chamar de Deus toda atitude. Indiscriminadamente, e com o juízo completamente impessoal, Deus, toda atitude tomada pelo homem, parte de seu processo natural. Inclusive, as restrições. Mas opa, pera lá, toda restrição, numa sociedade justa, deve ser uma vírgula, não um ponto final, já que certos valores não precisam ser ultrajados para que uma sociedade organizada estabeleça diversas práticas. Deus é a experiência do homem sobre a terra, seu movimento pelo planeta, seus gestos e seu discurso, o jeito como ele veste a realidade sensível de significados e, mais, como estes significados se tornam tão incrivelmente gigantescos, apontando pra um céu inatingível. É, aí, bastante necessário apontar que o vocábulo inatingível, "aquilo que não se pode atingir", trabalha sob duas perspectivas que podemos adotar:

aquilo que não se pode atingir,

1) porque não se pode atingir. (argumento nocivo)
2) porque não se sabe como.

Enquanto o argumento 1 termina toda e qualquer possibilidade de progressão, o 2 propõe um olhar ao abismo. Encarar o Nada e contemplar o que muitos homens fizeram no passado, um espaço que necessita ser incorporado pelo espetáculo da civilização, em busca de perguntas e respostas, que são a massa e os blocos com os quais constrói seu império.
Força e inteligência são instrumentos, ambos tem o mesmo peso, numa sociedade sem um princípio. O nosso, teoricamente, é o de que toda vida deve ser preservada. Por isso a força bruta perdeu espaço para a maliciosa retórica, porque a morte dos inimigos deve continuar em um terreno onde o sangue, de preferência, não se derrame sobre os azulejos.
O poeta, filósofo, gênio, e o diabo a quatro, Fernando Pessoa diz,

"Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!

Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raiz
Ter por vida a sepultura.

Eras sobre eras se somem
No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!"

O que vê a tua alma? Anda ela tão rasteira, que apenas o pó da capoeira é alimento suficiente pra te agradar? O poeta diz, assino eu embaixo, deixa que a tua asa dê uns passos e te leve pra dançar no alto das possibilidades de ser um mamífero civilizado, no meio de tantas máquinas e estimulantes ao deus dará.
Muito sábio, Giorgio Agamben orienta meu pensamento, com seu "Estâncias", sobre o espírito acidioso. Inicialmente, acídia era característica do espírito angustiado e desesperado, que vitimizava os cristãos enclausurados. Alguns, diga-se de passagem, ansiavam por se tornarem acidiosos, porque acreditavam que tal penitência os aproximava mais de deus. Depois, os acidiosos passaram a ser os que se entregavam à preguiça, ao fazer-nada, num hedonismo vicioso e contagiante.
Ao homem que ambiciona uma vida de conquistas, de realizações transformadoras, tanto interior, quanto exteriomente, cabe a sorte do trabalho. Não o trabalho como "emprego", "ofício", que é, verdadeiramente, aquilo que aprisiona o artista, mas o trabalho como atividade que necessita de energia para acontecer e expressar a caminhada do ser humano rumo à convivência ideal ao maior número de pessoas possível.
Entreguemos nossos passos à força viva de Dionísio, que é o símbolo cultural da energia transformadora, capaz de conjugar contrários, harmonicamente, em uma relação instável. As diferenças coexistem para produzir uma gama de possibilidades originais, por isso toda homogeneidade é falseada. A heterogeneidade é a condição humana, e feito vulcão a massa que habita o interior, espírito forte, que é Vontade, aguarda seu momento de romper as estruturas. Antes da sua erupção, faça a diferença.

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