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segunda-feira, 7 de julho de 2014

Hasta, Di Stefano


                                                                                 †

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Notícias do Brasil - O Carioque

Queria dizer que o amarelo vivo da tua bandeira
é um ouro maciço brilhando o caminho no escuro
mas é somente o medo tingindo a pele do povo
que adora sair em bloco pra comemorar carnaval

o azul se refletisse a paz de espírito dos cidadãos
seria a mais bela cor da flâmula hasteada no peito
mas é a expressão duma tristeza crônica profunda
enraizada nos gestos cansados das muitas estrelas

assim como o verde não tem nada com esperança
mas com o valor que a terra tem para os negócios
corre para as veias abertas deste grande território
a tinta cor de sangue que nos deixa mais próximos

o arco-íris tupiniquim se faz dos gritos no espírito
da gente emudecida & incolor.

                                                                                                              - Pra dar bandeira

            O problema da Copa não é o evento em si, mas a maneira com que é planejado e executado. Logo, o problema não, tampouco, a seleção brasileira. É um pouco ingênuo pensar que as pessoas que estão protestando contra o evento são pessoas que não gostam do esporte ou, pior ainda, que não gostam de festa e do país. Quem dera este fosse o problema, uma questão de gosto. Não. O problema da Copa é um problema de direitos humanos sendo violados, como sempre foram, em nome de uma elite financeira sedenta por lucro. E como isso pode ser notado?
           
Como disse Vickery, jornalista da ESPN, uma das grandes frustrações do povo foi perceber que nenhum dos mais de 13 bilhões investidos na Copa do Mundo se transformaria em infraestrutura, mas exclusivamente serviria para erguer estádios e pequenas reformas estéticas para a cidade. A manutenção do patrimônio público está tão jogada às traças, que esta semana, no dia 3 de julho, um viaduto caiu na cidade de Belo Horizonte e fez, pelo menos, duas vítimas e dezenove feridos (fonte — notícia do UOL). Por que gastar dinheiro contratando engenheiros para fazer vistorias, quando você pode simplesmente ignorar esse tipo de coisa e dar uma grande festa? Principalmente, se esta festa vai movimentar rios de dinheiro (como a venda ilegal de ingressos, onde se descobriu o envolvimento do líder da quadrilha com funcionário da FIFA — notícia do Estadão).  
           
No Brasil, faz muito tempo se fala de mudar as leis do trabalho e melhorar as condições de emprego, mais que na falta dele. A FIFA vem e se fala em geração de 713 mil postos de trabalho, entre temporários e fixos. Que trabalhos são esses? A estimativa vai se cumprir? Quantos dos que se imagina serem postos de trabalho fixo se tornarão temporários? Se se fala em elefantes brancos para os estádios, não se está falando também dele em relação à mão de obra nele e no seu entorno? Como será em Manaus? Que iniciativa privada fará uso do estádio, de modo que ele se mantenha por doze meses do ano? O Global Post relata que haverá uma manutenção anual que custará 10% do preço total investido. Isso quer dizer que o custo total de um estádio vai dobrar em 10 anos. Quem vai sentar nesta jaca?
           
            Podemos ficar por aqui durante páginas falando sobre as desapropriações de moradores de áreas que são interessantes para o mercado imobiliário, ignorando completamente as leis e o Ministério Público, mas não precisa tanto. Desde a Roma antiga que se pratica a desapropriação em casos que se julga para o benefício público. Quem são os beneficiados com estes movimentos, senão os estrangeiros que estão comprando propriedades, os brasileiros que as estão vendendo e o estado, que recebe sua parte em impostos? O que as pessoas que estão sendo removidas de lugares que ocupam há décadas estão ganhando com isso? Suas vidas, de repente, tem que mudar totalmente de lugar. Emprego, rotina, compromissos, família, referências cotidianas, tudo tem que mudar drasticamente, a fim de saciar a vontade inesgotável dos afortunados. Eles são contribuintes. Que tipo de retorno é este? Que pátria é esta, que age como um padrasto insensível e negligente? Um exemplo deste fato ocorreu em Maringá, no Paraná, como publicou o site odiario.com, quando o MP apontou irregularidades na desapropriação de terrenos particulares. A ONU chegou a fazer uma crítica às desapropriações, como publicou o jornal O Globo, bem como a BBC, que fez uma matéria sobre as indenizações que ainda não foram pagas aos desapropriados em Pernambuco.

            Prostituição infantil, tráfico de mulheres, inflação, carência de serviços públicos, carência de qualidade e falta controle de preços nos serviços privados, carência de uma indústria nacional, o que mantém o país como provedor de matéria-prima, sob a justificativa idiota de que não existe mão-de-obra especializada (se você não investe educação, não pode haver, mesmo). Estes e mais alguns outros aspectos não parecem ser suficientes para conter a necessidade de diversão de locais e turistas. Todas as desculpas do mundo surgem para justificar a festa, desde o clássico “jogo é jogo, política é política”, até o mais novo argumento na praça, o de que “a Copa é uma oportunidade de crescimento para o país”, coisa que não se percebeu em qualquer outro lugar que a FIFA passou com sua caravana. Claro que não se quer dizer que a competição inventou todos estes problemas no Brasil, porque isso seria de uma idiotice atroz. Mas pense comigo, se você descobre que existe um buraco, vai deixar seu filho correr para dentro dele? Não. Se fizerem uma festa ao redor do buraco, a fim de ganhar dinheiro com a excitação de estar na borda, com a escuridão, com o entretenimento no buraco, você vai mudar de ideia? É o buraco, ele está lá, antes de festa, que tal taparmos e deixarmos tudo aplainado?


            O direito de festejar é todos. Ninguém quer o fim da alegria, ao contrário, todos querem que esta alegria seja suficiente para caber na vida de todo brasileiro, sem exceção, de norte a sul. Os estádios estão vazios, não têm mais a alegria das multidões de torcedores que enchiam as arquibancadas, as bandeiras, os instrumentos e mistura de classes, já que os ingressos custavam um preço muito mais acessível. Claro que não se espera que uma Copa do Mundo custe o mesmo que um Campeonato Carioca, mas o valor cobrado superou qualquer expectativa, como tem sido desde a reforma dos principais estádios do país. Uma ida ao Maracanã deixou de ser uma experiência de todo carioca e se tornou a exclusiva forma de entretenimento das classes A e B, onde um refresco de mate e um biscoito de polvilho custam mais que o sonho de centenas de pessoas que agora precisam economizar ainda mais pra fazer algo que costumavam fazer e, de repente, tornou-se inviável. Que tal fazer a festa depois? Que tal fazer a festa com tudo garantido para que todos tenham sua fatia do bolo? Que tal não cair nessa de que a gente tinha que ter protestado antes e que agora temos é que ficar quieto? Faça festa, se você quiser, mas saiba que a realidade não dorme e nem tira férias. Ela continua nos seus calcanhares. 

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Mentiras de Adriana Calcanhotto




sexta-feira, 9 de maio de 2014

Go Govinda! - Não, pera...




flanei e fruí o fruto da flâmula




quarta-feira, 7 de maio de 2014

A especialização da miséria - projetos casinhas recicladas pra mendigos

     Para realizar qualquer trabalho, o homem precisa gastar energia. A decisão a respeito do gasto de energia, consequentemente, do trabalho realizado, é uma decisão política. Mover-se é um decisão deste tipo. Quando você compra um produto, quando coloca dinheiro na poupança, quando vai ao Maracanã e come um biscoito e toma um mate gelado. Que delícia, né? Então, tudo isso é parte da sua postura política. Portanto, compreendamos que postura política é o conjunto de atitudes sociais, sejam elas relacionadas ao trabalho ou ao lazer, que o indivíduo toma diariamente, de forma consciente ou inconsciente. Férias em Cancún? Uma decisão política. Você paga funcionários, sustenta empresas, suas políticas de atuação e tudo que existe por trás delas (um nível que apenas posso imaginar), além dos bares, dos distribuidores locais, das empresas que trabalham no país visitado (que são, em grande parte, as mesmas). Você tem dezenas de opções e escolhe algumas. 

     Quando você resolve que vai fazer caridade, porque é o que é possível fazer... o que é que você está levando em conta? Seu trabalho, seu lazer, ou seja, sua situação dentro do status quo. Se você precisa dar conta disso tudo antes de ajudar uma pessoa, como é que sua ajuda  pode ser transformadora? Se você coloca tijolos todos os dias em seu muro, como é que pode dizer que o fato de dar limonada aos pedreiros é sinal de que você não gostaria que o muro não estivesse ali? O que demonstraria isso é uma ordem para que não mais construíssem o muro e, mais, que o destruíssem antes de partir, porque o fariam de forma calculada, já que são pedreiros e sabem o que estão fazendo. A caridade pode ser um gesto sublime, quando acontece em um contexto, mas em outro, pode significar a estagnação de uma classe inteira, o hábito seco de calar um incômodo que não se soluciona e não para de incomodar.

       Se você pode estudar a maneira de construir uma mini-casa para um desabrigado, por que não perdeu tempo estudando como é que ele poderia sair daquela situação? Não precisa muito, se você tem disposição para se reunir com a associação de moradores, com os comerciantes locais, com ONGs e outras instituições que auxiliam na reintegração do indivíduo à sociedade. Mas é mais fácil dar comida, dar cobertor e uma casinha de madeira E voltar pra casa pra viver a vida que corrobora as condições que impedem a progressão daquele indivíduo. É a versão moderna do "coloque-se no seu lugar". Construir uma casinha, sim, mas convidar pra ir desfrutar do conforto da sua casa, jamais, né? E por que é que teria de chegar neste nível de intimidade, não é? Por que é que um desabrigado mereceria dormir e comer sob um teto onde come um cara que trabalha e tem sucesso com isso? Pois é, enquanto seguirmos estes valores, qualquer caridade é mais um ato de conformação, que de amor.

terça-feira, 22 de abril de 2014

Contemplando industriais, Said fininho

O oriente nunca esteve tão longe da gente
O oriente nunca esteve tão ausente hoje
Acidentalmente ocidentais queremos mais

"curry bastante e nunca cheguei
mas você wasabi disso, meu bem
você quer temaki é o contrário
mas é sabido que a vida é tandori
só o tempurá curar essas feridas"

o oriente cabe num biscoito da sorte
num papelzinho enrolado com jeito
nas palavras de um sujeito que encolhe
o tempo o chão e os espelhos

O oriente nunca esteve tão distante de Dante

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Estupidez na Cidade Maravilhosa - um top 10

Se você pensa que este top 10 é exclusivo do Rio de Janeiro, você faz parte do Top 10 estupidez no mundo. Obviamente, que o comportamento apresentado aqui não é exclusivo do povo fluminense, mas encontra par em diversos outros lugares do planeta. Acontece que me é impossível falar sobre o que não conheço e nem me agradaria tentar. Portanto, os comentários aqui se referem à minha experiência na cidade, mas, de maneira alguma, são fatos restritos a um povo ou cultura. Pense fora da caixa.

1. Bloquear a saída do vagão do metrô

Não sei o que estimula o carioca a seguir nesta condição bestial de usuários toscos do metrô. As pessoas já foram informadas, mas insistem em parar diante da porta. Qual o problema? O problema é que as pessoas que estão dentro, não conseguem sair. São obrigadas a lutar contra uma massa que só tem um único interesse: arrumar um lugar pra sentar. Entram como uma manada que estoura e passa por cima de qualquer obstáculo. Por sua vez, quando são os que estão dentro que param diante da porta, são os que estão fora que não conseguem entrar, a menos que forcem seu caminho com empurrões e dá licenças. Ainda que as portas estejam repletas de avisos, as pessoas colocam as mãos sobre ela, param em sua frente, bloqueiam a entrada e fazem da vida cotidiana um mar de discussões e xingamentos. É triste e muito comum, que mulheres e homens discutam por conta de empurrões, pisões, cotoveladas. Dai-me paciência. 

2. Parar do lado esquerdo na escada rolante

Seguindo no caríssimo transporte público (se comparado ao salário do carioca), outro problema surge no dia-a-dia de muitas pessoas: o idiota que para do lado esquerdo da escada rolante e bloqueia a passagem de pessoas que precisam chegar às pressas em algum lugar. Nem todos podem, conseguem, são capazes de se locomover tranquilamente usando o metrô. Certos profissionais vivem constantes deslocamentos, como os professores particulares, os auxiliares de serviço, etc., o que os obriga a se deslocarem rapidamente, a fim de chegar no horário certo em seus compromissos. O lado esquerdo da escada rolante é destinado para pessoas que não vão ficar paradas na mesma, mas é difícil fazer com que o carioca queira participar disso. Parece que as pessoas andam distraídas demais consigo mesmas, o suficiente para não darem a menor importância para a condição do outro. É lamentável. 

3. Ficar embaixo da marquise com guarda-chuva

Se você já está protegido da chuva, por que precisa andar sob a marquise? Algumas pessoas não têm guarda-chuva, esqueceram, não importa, estão sem. Como elas vão se proteger da água? Usando as marquises que as pessoas de guarda-chuva também estão usando. É uma grande falta de consideração, por simplesmente estar acostumado a procurar abrigo. As pessoas parece que andam ensimesmadas, incapazes de perceber as necessidades do outro e participar de uma vida mais organizada. Organização não quer dizer só capricho, mas consideração. Quando você organiza a sociedade, você está demonstrando sua preocupação com a maneira que as pessoas vão conviver, com a qualidade da vida. Não faz o menor sentido que se ocupe um espaço desnecessariamente, privando pessoas desprovidas de abrigo de uma chance de se protegerem da chuva. Acorda, gente lerda!

4. Andar em corrente ocupando a calçada

Não basta ocupar um espaço, é preciso ocupá-lo tendo consideração pelos que estão ao redor. Grupos de amigas, amigos, familiares, colocam-se lado a lado e ocupam toda a extensão da calçada. Você quer passar, mas é impossível, porque além de ocupar toda a via, são eles que ditam o ritmo. A pessoa de uma ponta sequer escuta a que está na outra, fazendo com que aquela caminhada seja mesmo uma imposição do grupo sobre tantos outros que ali estão. Na boa, acho que tá na hora desta galera se tocar e começar a perceber que a via é pública e que não dá pra ficar dominando todo o espaço, como se aquilo fosse uma concessão particular e o resto das pessoas fossem apenas figurantes no reino dos ilustres transeuntes. 

5. Começar obras durante o horário de silêncio

Ninguém me contou. Eu fiquei durante semanas diante da construção de um edifício, cujos trabalhos se iniciavam às cinco da manhã, com a chegada dos caminhões, do material, do pessoal, que sem a menor consideração falava alto, ria, e claro, começava a se preparar pro trabalho pesado. Às seis, seis e meia, no máximo, começava o barulho insuportável e a obra era tocada com força máxima. Marretadas, vigas de metal, concreto, britadeiras, o diabo.  A lei do silêncio, no Rio de Janeiro, diz que às obras públicas é permitido começar o barulho às oito horas da manhã. Neste horário, a obra já estava há muito fazendo estardalhaços. Apesar de reclamações constantes, da vinda da polícia, da advertência, as obras persistiram e não cederam aos apelos de pessoas que diziam, claramente, que aquela conduta estava afetando a saúde de idosos e pessoas debilitadas. É incrível o tanto que a ganância pode ser o combustível pra qualquer patifaria.

Confira o regulamento aqui: http://extra.globo.com/noticias/rio/confira-integra-da-lei-do-silencio-para-municipio-do-rio-de-janeiro-291115.html   

6. Colocar música sem fone no transporte público

A necessidade de se expressar é totalmente compreensível, mas existe limite pra isso. De funkeiros de comunidade à ravers da Zona Sul, os celulares são pontos de evasão de privacidade. Os sujeitos colocam as músicas no volume alto e não querem nem saber se o indivíduo próximo está lendo um livro, o jornal ou simplesmente refletindo. Seu hábito tem de ser violentamente compartilhado, imposto. Não se trata de perceber o ônibus vazio e ir lá no fundo, ligar seu aparelho, seu rádio, o que for, de modo que as pessoas que estão lá na frente até ouvem um ruído ou outro, mas não podem se dizer verdadeiramente incomodadas. Não se trata disso, mas de estar próximo e devassar a paz alheia com uma vontade incontrolável de ser extremamente chato e egoísta. Em São Paulo, o prefeito Fernando Haddad acaba de sancionar uma lei que proíbe o uso de dispersores sonoros sem fone de ouvido. Você que é egoísta, agora, senta nessa jaca.

7. Pedir pra descer fora do ponto de ônibus

O que move tanta gente a querer o proibido? Conveniência. Claro que não falo de uma senhora com osteoporose pedindo pra descer próximo ao seu destino, em vez de no ponto, que é longe. Inclusive, acho louvável estas quebras de conduta, mas também sei que elas só podem existir se a população for educada para ter bom senso e saber que exceções só são legais quando se faz cumprir a regra. O motorista é obrigado a parar no ponto e, caso não o faça, pode ser multado. É voce que vai pagar a multa pra ele? Você acha que é a empresa de ônibus que se responsabiliza pelo pagamento da multa? É claro que não, espertalhão. É o próprio motorista que tem de arcar com a sua vontade incontrolável de economizar alguns passos até seu destino. Tome vergonha na cara. Não basta que o profissional viva extenuado, que viaje ao lado de um motor quente e barulhento, que enfrente um trânsito infernal, ainda tem que fazer as vontades de qualquer um que, de repente, quer descer mais perto de casa ou do trabalho? Um pouco de semancol faz bem a todo mundo. 

8. Buzinar por todo e qualquer motivo

Para quê? Eu não sei se as pessoas aqui sabem, mas deveriam: a buzina não é um instrumento de ataque, de guerra, de ameaça. A buzina serve para alertar outros motoristas e os pedestres a respeito do movimento que uma pessoa está fazendo com seu carro. Coerção não tem nada a ver com civilidade, mas com tirania. Se você está atrasado, dê um toquinho na buzina, indique na sua expressão facial que está com pressa, seja criativo, mas não me venha com essa de encher a mão e atormentar de barulho a vida das pessoas, porque isso só faz de você um cidadão despreparado para viver em sociedade. Provavelmente, seus nervos estão em frangalhos, já que você não consegue sequer ficar calmo em uma situação cotidiana. Toma um chá, antes de sair de casa, medite, ouça uma boa música e vá para o seu destino com ânimo. Ninguém merece que a sua falta de paciência seja convertida em poluição sonora. Lembre-se que você está no conforto de um veículo, enquanto tantos outros estão caminhando bastante pra se deslocar. Não custa ligar o considerômetro.

9. Caminhar em ziguezague pela rua

Se não estão em grupo, lado a lado, ocupando a extensão da calçada, você também pode achar alguns exemplares de carioca ziguezagueando pelas vias públicas. A menor distância entre um ponto e outro é uma reta, mas o cidadão desta cidade parece ignorar a necessidade de objetividade e a consideração pelo semelhante, já que vai costurando seu deslocamento pelas ruas, como se estivesse costurando alguma coisa. As pessoas que andam em linha reta são constantemente atravessadas, esbarradas, obrigadas a parar e mudar o próprio curso, por conta destes aprendizes de Carlinhos de Jesus, que não estão satisfeitos em andar e resolvem dançar por todos os lados. Isso aqui é a cidade do swing, tudo bem, mas não significa que a calçada seja a passarela do samba. Espera até fevereiro pra desfilar por aí, amigão, mas enquanto isso, vai respeitando quem está dividindo o espaço público e anda menos no mundo da lua.

10. Atrasar quase sempre pros compromissos

Marca registrada, não espere que um carioca chegue à tempo. Claro que existem exceções, mas elas existem em qualquer lugar e não seria proveitoso comentá-las, já que estão em conformidade com o que esperamos de uma pessoa consciente. Vamos falar da regra, então, e a maioria acaba, pelo menos, de dez minutos a meia hora de atraso. E não é apenas por causa do trânsito, porque antes do tráfego no Rio se tornar o caos que Eduardo Paes está capitaneando, já os indivíduos desta cidade apresentavam a mesma característica. Não sei se fica tudo para a última hora, não sei se aparecem problemas súbitos, mas sempre há uma desculpa para chegar um tanto fora de hora. Alguns mais disciplinados e sabedores da própria condição de sempre atrasados fazem algo que costuma mudar suas vidas: adiantam o relógio em dez minutos e acabam reduzindo bastante a margem de erro. Que tal aderir? 

AJUDATU

Resumidamente, quero realizar um projeto com profiles em vídeo-currículos, de modo que pessoas carentes possam contar sua história e dizer suas habilidades, suas experiências, capacidades. Assim, a ideia é estimular a reentrada dessas pessoas no mercado formal e informal. Para tanto, estou tentando descobrir como uma empresa pode se beneficiar contratando uma pessoa nestas condições, por exemplo, com abatimento no Imposto de Renda, pra que várias tenham esta iniciativa. Mas acho que vivemos um tempo de muita divulgação, de muita vontade de ajudar e acho que mesmo sem um incentivo fiscal, o gesto pode coroar e aumentar a estima da empresa para com seus clientes. Mas não só as empresas. Às vezes, você precisa pintar sua casa e precisa perguntar a alguém por um pintor. No site, você poderá pesquisar pela tag "pintor", olhar o profile da pessoa e entrar em contato para contratar seus serviços. É o necessitado sendo exposto como força de trabalho num país que não faz muita questão de lembrar dele.

domingo, 23 de março de 2014

Jesus operando milagres ao fim da festa

setenta porcento de mim é água
os outros tantos trinta é amor
por isso quando um barco atraca
tem uma parte que fica na praia
e outra que espera o arpoador

em grande parte feito pela onda
elétrica marra que mora no olhar
hidráulico morro parado no meio
para o vento vir acariciar os pelos
que a noite se cansou de orvalhar

cê tenta por senso em mim e erra
meus outros planos ainda tem cor
por isso quando eu faço as malas
você veste aquela calça e diz "saia!"
levanto acampamento no corredor

quando volta em silêncio sem salto
pisando nos capachos pelo caminho
me encontra sozinho ao pé-direito
sustentando mais um cigarro aceso:
setenta porcento de mim é vinho

sábado, 4 de janeiro de 2014

trauma de mar 2: a Garota tá na merda

Quando era criança, recordo que um dos passeios mais famosos entre a classe social a que pertencia era o famoso dia na Ilha de Paquetá. Nós, como muitos cariocas, íamos até lá e andávamos de bicicleta, comíamos nos restaurantes, brigávamos, havia choro, biscoito e guaraná. Mas o melhor era o mar. O melhor é sempre o mar, pra mim. Eu sou do mar e ao mar me entrego sempre que estou diante dele, sabedor de que toda a distância do mundo não nos pode separar. Sempre vou dar um jeito de desaguar nas ondas de um dos sete. E foi esse amor todo que me fez não voltar, não pensar em Paquetá, não querer mais, porque lembro de estar na água e me ver cercado de bosta. Eram toletes que boiavam ao meu redor, enquanto brincava com um dos meus bonecos. Saí da água e nunca mais voltar pro mar de Paquetá.

Hoje, vinte anos depois, tive novamente a mesma experiência. Não tinha um boneco, nadava e queria ir pra longe das pessoas, da arrebentação, nadar livre até onde pudesse. Então, vi que estava, novamente, cercado de merda. Toletes grandes boiando no posto 9, apinhado de gente de todos os tipos. O contraste era imenso com a experiência que acabara de ter em Ilha Bela, no litoral paulista. Uma praia de gente branca, elitizada, com Djavan tocando no sol a pino. Uma praia limpa e preservada. Aqui, a beleza de uma gente multicolorida e multicultural, mas a desgraça dessa mesma gente, que suja a areia da praia com latinha, palito de sorvete, copo de açaí e de mate. A mesma galera que faz necessidades dentro d'água, literalmente cagando e nadando pra quem está ao redor e pode contrair uma doença. Pessoas que transformam a cidade maravilhosa num cartão postal dantesco.

cagay pra ti


É lamentável, que as cenas em Copacabana após o ano novo tenham sido mais do que uma experiência virtual, por foto, mas vivida na pele, experimentada no asco de estar num lugar onde as pessoas são muito festivas, sim, mas pouco ligam pra organização e higiene, fazendo do divertimento um nojo só. O quanto isto não está ligado à vida em comunidades? O quanto isto não está ligado com a falta de apego dos que vêm até o litoral, afastado de suas casas, e simplesmente não se importam em como vão deixar o espaço quando forem embora? O quanto isto não está ligado ao mundo negligenciado pelo Estado, com esgoto a céu aberto, falta de coleta de lixo e proliferação de doenças? O quanto a praia não se parece, agora, com a cara do Rio que o prefeito e o governador fazem questão de esconder? Não dá pra dizer, no entanto, que os moradores das redondezas sejam tão mais organizados assim. Basta andar pelas ruas do bairro, as mais afastadas, pra ver que a coisa não é perfeita entre os ricaços da ZS. É um problema geral de conscientização de convivência e meio ambiente.