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terça-feira, 31 de janeiro de 2012

o fim da linha de mais uma noite

tem pó no teu rosto
e um resto de lápis
é o rastro do esforço
em tempos de asco

este rasgo no céu da boca
é de desgosto?
estas rugas na cara
são de espanto?

você não viu o poste
quando estava guiando?
e aquela criança que vinha
no triciclo branco?

tem um nó no teu rosto
e um resto de insônia
é o rastro do pranto
a memória de infância

um sonho acordado
mancha seu
lábio


segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

testemunha ferina de um fato qualquer


em um quadrado acarpetado de gente
livros acumulados na mesa de canto
um gato sorridente acompanhando o tráfego
pelo vidro da janela naquele quarto:
duas bicicletas e um caminhão de lixo
a música do povo tocando no rádio

"meu ídolo é o Eike Batista
grande homem
fez tudo honesto na vida
sujeito de bem"

os passos dos sapatos no assoalho
ou os gritos de um casal mal humorado
acabaram acordando o vizinho de baixo
que pega o ferro dentro do armário e sai
atirando pra tudo quanto é lado: pá-pum
e o gato assistindo a tudo ressabiado

há uma poça de sangue amigo derramado
um felino sozinho
lambendo o estrago
cínico
com os bigodes manchados pelos espasmos
daquele amor vivo
em migalhas de vermelho

no canto
perto do espelho vertical
os ratos

sábado, 28 de janeiro de 2012

mensura censura ruptura neurotal


A diferença é o verde

O que separa o Brasil de ontem e o de hoje é o verde. Antes, quando era quase tudo que existia ao redor, este país era casa dos nativos, que por sua vez já era uma gente que tinha vindo de outro lugar, que tinha atravessado um caminho que foi destruído por intempéries naturais. Essa gente foi tomada como incapaz e domesticada por homens que usavam desculpas e ilusões como armas para conseguir a dominação material e espiritual. Trabalhavam pela sobrevivência, ganhavam prendas e muitos tinham pena deles. Tanto era a fragilidade desse povo que precisavam de proteção, de uma cartilha para seguir, de ordem e moral, de um líder para lhes dizer como e quando e onde, além de todos os porquês.

Hoje, o nativo brasileiro obedece à mesma cartilha, luta para sobreviver, recebe algumas prendas e, principalmente, a instrução sobre o que pensar, como pensar, quando e onde pensar e expressar, e todos os porquês que as máquinas mais inteligentes podem produzir, numa série nunca antes vista pelo homem. A tecnologia, o desenvolvimento das estruturas, os pactos sociais, principalmente, que estão velados pela violência das autoridades, deu a falsa ideia de que nos tornamos algo melhor. Não, o homem se modernizou materialmente, mas continuou preso às mesmas ideias do passado: um bocado de pessoas bravas e conformadas deve suar bastante para que um grupo de indivíduos especiais não o faça, de forma que a riqueza seja desfrutada pela capacidade de escravizar, não a de produzir.



A diferença é que hoje tem menos verde, tem mais concreto e metal, uma falsa ideia de progresso, a mesma estrutura governamental de antes – uma família real instalada no seio de um povo estrangeiro, que precisa passar pelos três ados: domado, orientado e disciplinado. O amor à pátria é uma ideia doente plantada na terra da gente, enquanto quem olha a maré diz que é, mas não é, nunca foi e nem quer.

Doze big brothers depois, nosso salário continua sendo a coisa mais ridícula da América do Sul, se formos olhar as proporções. Uma Juliana Paes depois, a vida continua dura, não encontra consolo na protagonista burra e apaixonada, nem no fim que nunca acaba. Um Roberto Marinho mais tarde, e o brasileiro não se coça, parece embriagado pela reportagem, perdido em tanto especial, tanto decote, cada sorriso, ensaios para revistas e filmes pornográficos na rede, especial de esportes, Bispo Macedo e má sorte. 


muitos serão pouco, pra que poucos sejam muito

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

sekso

ritual de invasão

a maior delícia que o mundo guarda pro corpo que vive

uma espetacular comunicação de prazeres simultâneos & repetidos hiatos 

respirafundo mundos escuros de tato total
necessistado alarmante
de comunhão

uma força imprime vasos na parede
não cede à sede
outra então se faz da vera resistência
e o seco se entrega à excrecência 
das notas e ruídos

como é a sorte da infinita jóia 
vontade de escapulir-se?

a carne sabe como sente-se só
seria medo de fugir?

não caibo num abraço de coxa suado
por isso me arrasto
um espaço
sísmico 


domingo, 22 de janeiro de 2012

rasgando real adoidado



É ISSO QUE VOCÊS CHAMAM DE ARTISTA POP?

Um fiasco desta mulherzinha que as pessoas gostam de chamar de artista, mas que não vale a merda que defeca. No vídeo, a babaca vai fazer uma firula na flauta, mas o segredo acaba revelado: playback. Ela esquece que tem mais uma frase na flauta e olha pra galera. Já era. Que grande artista, hein? Vale muito a pena  o dinheiro que você gasta, não é? Ela fica cada vez mais rica, continua a mesma retardada e você, o mesmo pobre viciado em coisa ruim.


E ISSO É O PIOR?

Claro que não, sempre pode piorar. A coisa mais absurda desse fato são as palmas do povo. O povo não está lá pra cobrar o show, pra cobrar o prazer que aquela medíocre ali em cima deve dar ao povo pela grana que ela está levando, não, jamais, eles vão pra viver um momento com essa amiga linda que fizeram... quando? Quem disse? Palmas? Vai bater palma pra quem merece, cambada de maluco! Vamos combinar aqui, galera, que a porra das palmas é um gesto que significa, OBRIGADO POR ESSE PRESENTE SENSACIONAL. Não? É obrigado por existir? Obrigado por me dar um pouco do seu tempo patético? Obrigado por fazer com que meus amigos e eu tenhamos um motivo pra falarmos e vivermos nossas vidas sem nenhum brilho independente, construída por um monte de coisa que umas pessoas falaram na televisão?


As pessoas estão acostumadas a engolir os fiascos da televisão. Os programas, inclusive, passaram a explorar bem os deslizes e transformá-los em matéria para pós-produção. 

O que eu me pergunto é, 

e o respeito pelo esforço que vários artistas fazem pra que suas apresentações sejam impecáveis

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

por que Michel Teló?

Há uma explicação bem simples, até. Vamos começar do basicão: por que você não come feijão com arroz todos os dias?

Porque é uma experiência simples, que ao se repetir, cansa. Ao comer feijão com arroz, você não só se alimenta, mas oferece uma experiência de paladar e prazeres, que é onde a gastronomia também se apóia, nesse momento de sensações. O que fica, ao fim de uma vida onde esta combinação se repete todos os dias, é um destaque da própria fome, do ato de comer. Isso me lembra um dos episódios do "5x Favela", filme que conta estórias das comunidades cariocas.


No caso de Michel Teló, o que ele representa é justamente o feijão com arroz, e o que fica valorizado é o ato de consumir.


É o mesmo que conhecer uma pessoa desinteressante. Quantas pessoas você conhece que se envolvem superficialmente com alguém, e ficam trocando de parceiro, um atrás do outro, sem um mergulho mais profundo? O interessante atrai, é o canto da sereia, puxa pras marés interiores, quase que inevitavelmente. Que tipo de encanto pode gerar alguma coisa que já veio cumprir um papel?

A produção. Michel Teló existe pra que se enalteça o poder de achar e revelar talentos, a fábrica de artistas instantâneos, que mata a fome sempre viva do povo, essa vontade de ter. Claro que eles não duram, não têm essa propriedade, porque atrapalhariam o fluxo de produção.

Quantas pessoas desinteressantes você mantém na sua vida? Pra quê? Você é aquilo que faz e atrai pra sua vida.


segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

um país pra brasileiro ver

http://www.facebook.com/l.php?u=http%3A%2F%2Fwww.camara.gov.br%2FproposicoesWeb%2Ffichadetramitacao%3FidProposicao%3D524259&h=vAQEhUj5t

Esse aí é o link pro novo absurdo de todos os tempos: um deputado federal, filiado à Polícia e a uma igreja evangélica, quer que as instituições religiosas passem a vetar e validar os atos normativos, as determinações que são criadas por lei pra nossa vida.

Quer dizer, a gente lutou décadas pra se livrar do domínio do fantasioso sob a realidade material, que é a realidade social, e agora tudo vai retroceder? O povo pode ser tão imbecil assim, a ponto de permitir que uma esfera onde as coisas devem ter uma causa e uma consequência material seja dominada por uma consciência baseada na fé, que é justamente a crença sem a necessidade de um objeto material?

Isso é desumano. Essas pessoas têm de ser paradas pelo bom senso da maioria, mas como exigir que a maioria tenha bom senso, numa terra colonizada há séculos, onde a Educação é tomada por informação e funcionalidade, jamais por independência crítica?



NÓS, QUE TEMOS DISCERNIMENTO, PRECISAMOS FAZER ALGUMA COISA!

Caso contrário, nossa vida vai regredir a uma época onde um bando de homens acima da moral vai ditar como é que você deve viver a sua vida, individual e coletiva.



E se este povo não se levantar, eu saio desta merda de país e procuro abrigo sob uma pátria de gente menos idiota.

domingo, 15 de janeiro de 2012

O Éden Sul Americano




AINDA ESTAMOS NO SÉTIMO DIA

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

o brega

Um cara que sempre aparecia nas festinhas que eu ia, quando tinha uns doze anos, era esse maluco aqui.


Stevie B é uma coisa brega que só, mas naquela época o brega era pop, e o que nego colocava pra molecada se agarrar nas salas, supervisionado pelos tios. Depois do Stevie B, acho que era Double You. Quando lembro daquele clima escuro, da menina que cagava pra mim e dos casaizinhos dançando, lembro que "Please don't go, don't gooooo, don't go away" era recorrente.

Será que as coisas mudam? Porque eu vejo o Stevie B, daí penso num Michel Teló, fico pensando, será que todo mundo não tem o brega do seu tempo? Olha as roupas, as coreografias, a música do cara, tudo é uma grande merreca de talento, é doce demais, a ponto de ser apelativo. E não tem de ser assim, pra gente manter essa sociedade com a cabeça num mundo simplório de novela? Não é isso que a galera quer consumir loucamente, esse reflexo da vida cotidiana que levam, seus relacionamentos, problemas de trabalho, com a lei, etc.? A música é um complemento pra essa teatralidade toda, pra que a coisa caia bem. Claro, o som mexe com o corpo, ele ajuda a abrir os canais pra que os gestos, sempre repetidos, não arranhem quando passam na entrada...


time stands still

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

uma viagem atrás do conhecimento

Estava esquadrinhando uma oficina de poesia pra oferecer a uns centros culturais, usando a experiência na Universidade, as oficinas de que participei ali e também fora, além das inúmeras discussões e leituras a respeito do fazer poético, da versificação, do ritmo, das imagens e dos sons. Trabalho árduo de quem deve tratar as palavras como um engenheiro têxtil faz às microfibras de que dispõe. Por algum motivo, seguindo um raciocínio, pensei nas vanguardas europeias e tentei relembrá-las, uma a uma: futurismo, cubismo, dadaísmo, expressionismo e...

O que eu poderia fazer pra lembrar? A única coisa que resta a quem não quer ir até o Google pra pesquisar: mergulhar na própria cabeça atrás da resposta.



Comecei imaginando que eu estava com um livro nas mãos. Rejeitei a primeira ideia que tive de mim, a de quando era um pouco mais jovem. Usei minha camisa xadrez pra me fixar dentro daquele mundo. O livro nas minhas mãos era velho, as páginas amareladas, as letras eram antigas, como que desenhadas. Eu via as vanguardas todas que conhecia, mas onde deveria estar o nome da quinta, a que eu não me recordava, estava o corpo nu da página. Não adiantava, o quanto eu tentasse, seria em vão. A resposta não estava no livro. Por isso fui até uma pasta azul, que estava em uma prateleira de metal, daquelas bem pobres, de colocar arquivo ou material de limpeza em almoxarifado. Mas estava limpa e arrumada. Na pasta, minhas anotações, meus esquemas, desenhos, rabiscos, mas nenhuma resposta. No lugar onde deveria estar a informação, apenas André Breton e 1929, entre outras informações, cujo foco não era importante, por isso uma mancha.

Então, o que fazer? Fui atrás de um mestre que tive na Universidade. Ele estava sentado e eu o questionava, mas ele nada dizia. Acho que eu o proibia, de alguma forma, porque eu não podia fazer jus ao seu conhecimento real. Logo, como é que eu podia lhe dar fala? Foi aí que eu o rasguei. Peguei pela cabeça e braço e puxei, rasguei, e não tinha nada dentro. Ele estava parado na porta, olhando, e saiu em direção ao corredor. Fui atrás, claro. Ele entrou na sala seguinte e fechou a porta. Pelo vidro, vi que ele começava uma aula, seus lábios se mexiam, mas não podia ouvi-lo.

Meu antigo orientador passava no corredor, no momento em que saí desorientado em busca da resposta. Ele vestia uma camisa polo pra dentro da calça, o que não lhe era comum. Mexia os braços como se fosse um rapper, fazia caras e bocas, andava feito um palhaço. Eu o questionei, perguntei sobre a vanguarda, mas ele não disse nada. Ao contrário, ele apenas saltou sobre o parapeito, sete metros acima do primeiro andar, e ficou lá se equilibrando e fazendo suas caretas. Reparei, naquele momento, que ele usava uma boina de italiano jornaleiro. Puto da vida, eu bradei, "porra, o nome da vanguarda, diz de uma vez". E ele disse, "é claro que é o Universalismo", e respondi, "não é Universalismo",  e então, de braços abertos, equilibrando-se como um artista de circo, disse, "é claro que é o Surrealismo".


Pelo conhecimento, é preciso trilhar os caminhos da imaginação. Como é o sangue que leva oxigênio aos tecidos, é a imaginação que conduz o homem ao saber, e é apenas quando ele se lança nesse espaço volátil e obscuro é que se vê diante da real possibilidade de contemplar a face do infinito.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

A$ Mulhere$ Rica$ cumprem a imagem do Pobre

Não me canso de falar dessa abominação da televisão brasileira. Não se trata, apenas, de um programa de conteúdo nocivo pra nossa galera, mas de um programa de conteúdo nocivo que é extremamente mal feito, tanto que, ao fim, acaba passando uma rasteira em si mesmo: o show é uma ode ao mau gosto e a pobreza de espírito.

o mau gosto e o dinheirinho fazem um brinde


O Brasil, desde sempre, importa os formatos pra seus programas da televisão internacional. No cinema, o tal "E se fosse você" é uma prova cabal disso. O roteiro mais batido do universo, nos filmes estadunidenses, agora adaptado pra uma realidade brasileira. Uau, que grande merda. Ouvi uma coisa maravilhosa, certa vez, a respeito do assunto. Uma menina disse, numa mesa pouco afastada da minha (sim, eu ouço o que as pessoas dizem): ah, o cinema do Brasil tá muito melhor, antes eu sabia quando era filme brasileiro antes de começar, só pela imagem e a abertura.

Exatamente, queridíssima desconhecida, estamos perdendo o pouco de identidade e, ao invés de criarmos outra que nos distingua, estamos abraçando de vez o incrível hollywoodismo, sim, ismo porque é doença social, carência de diversidade. E o que gera a diversidade, em contrapartida a mesmice? Movimento. O diverso gera em você um movimento interno, diferente da mesmice, que é uma paz, onde as coisas se deitam.



Voltando pras Mulheres Ricas, é preciso ter estômago pra ver essa porcaria da Rede Bandeirantes. Que coisa chinfrim e de baixíssimo calão. De maneira alguma, aquelas mulheres ali representam a riqueza, mas, sim, são ricas. Cris Rock fala sobre isso em um de seus stand-ups, acho que é no "Never Scared", mas pode ser no "Bring the pain": existe uma grande diferença entre os ricos, que em inglês é marcada no léxico, a diferença entre rich e wealthy. Um é o que ganhou grana, o outro é o que a tem de berço. Você pode dizer que uma ou outra ali tem riqueza de berço, sim, mas percebe-se claramente que a riqueza adquirida jamais tornou-se uma base, sempre ficou como horizonte, de forma que as atitudes não a diferem de uma simples rich bitch.

São as gafes e as citações mais idiotas da face da terra, além do roteiro forçosamente estúpido, já que se tenta adaptar algo que, na realidade brasileira, não tem o menor cabimento. Preços são citados o tempo todo, pra jogar na cara do povão a sua imensa distância daquilo. Por quês são totalmente ignorados, porque o que vale é a piada, não o amigo. Uma das babacas imita um bordão criado pra uma das novelas da Globo e aparece o tempo todo com uma taça de champanhe na mão. É o estereótipo mais medíocre de ser humano, uma loira de conhecimentos rasos, de beleza lactopurgal, de humor patético e talento zero pra dizer qualquer coisa que preste. Não que as outras possam, mas esta, em especial, é a representante da escassez de massa encefálica.

Eu imagino que deve ter um propósito cômico, mas fica aí pra Band uma dica: não dê moral pra qualquer bosta, seleciona mais o público, porque a história da televisão brasileira está correndo e as pessoas estão ficando menos idiotas com o tempo. No futuro, um monte de bosta como esse que vocês andam bancando vai pesar mal no currículo.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Uma carta a Pantagruel

uma passagem do romance, "Uma carta a Pantagruel",


    (...) Descemos em direção à Gruta, onde, em poucas horas, testemunharíamos o fenômeno da Neiva Bucia, uma cascata cristalina que deixa a fissura num jorro primoroso. Levamos uma porção de garrafas pra reservar o que pudermos da neiva. É preciso trazê-la rapidamente de volta e preparar as condições ideais pra reservar. Passamos pela Cúpula, ainda pequena, com a superfície opaca pouco exposta. Em pouco tempo, estaria totalmente pra fora, a superfície lustrosa, aquele aroma inesquecível se espalhando com o vento, levando a alvorada dos nossos desejos de rosto em rosto, um tapa carinhoso sobre os sentidos. (...)

(...) A cera precisa ser coletada e reservada em potes hermeticamente fechados. Apenas depois da remoção total é que começamos o processo de produção do material, porque é um trabalho do cacete preparar aquela pasta. Agora, compensa demais, né. Se for ver, nenhum cidadão jamais reclamou de qualquer tipo de deslizamento ou queda da moradia, como costumava acontecer, quando os antigos babacas da Administração trabalhavam com a massa umbilical. (...)

(...) Eu li, escrito sob a relva, uma mensagem que dizia,

vou gozá pra você

assimilá

cum sol e maré

ao redó

e se Ifá fizé chovê


sobre nós

que cada segredo

viaje só 


no pó do vento


(...)

sábado, 7 de janeiro de 2012

por que não big bands?


Não precisa ir muito longe pra fazer da experiência televisiva algo menos ordinário. A MTv Brasil foi lá, deu na mão do Arnaldo Antunes um programa e ele chamou uma galera boa pra tirar um som: Lucio Maia, guitarrista do Nação Zumbi, Seu Jorge, Edgar Scandurra, do Ira, Céu, Karina Buhr, o próprio Arnaldo e uma galera a mais. Não é nada do outro mundo, nem era pra ser, o lance é MTv, é criar um momento digerível e, ao mesmo tempo, que tenha alguma qualidade. Conseguiram, finalmente, e foi um momento legal na cia desse povo, que tirou um som interessante, principalmente se a gente observar as bandas que tão aí, nos outros programas, nas rádios, na internet.

Por que a galera que faz, e faz bem feito, não se junta mais vezes? Acho que isso podia acontecer com mais frequência, e o povo começaria a valorizar os artistas nacionais, ao invés de esperar loucamente pra assistir as atrações internacionais, pagando preços absurdos pra satisfazer uma necessidade que já, há muito tempo, temos condições de suprir.

Barone, Pedrão, Frejat, Schiavon, Carlinhos Brown, Edson Cordeiro e Vanessa da Matta. Já acho que daí sai um som, no mínimo, inusitado. Por que Caetano fica fazendo parceria meia-boca com a Maria Gadú, quando pode se juntar de novo, na maturidade, com Maria Bethania, Gal Costa e Gil, e fazer algo com os Doces Bárbaros? Por que o Naná Vasconcelos e o Wagner Tiso não procuram o Engenheiros do Hawaii? Por que o Lulu Santos não fecha uma parceria com a galera do Skank e chama o Otto? Qualidade não tá escasso. Dá pra brincar de juntar muita gente boa e fazer som alto nível. Tipo os caras do Blind Faith, Humble Pie, Asia.


  uma galerona boa

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Gorrrrfei de atônito!

Tem coisa que é soda. A gente abre o navegador e cai num site desses, de notícia, e lê:

"Novo programa de Fátima vai ter jornalismo, humor, amor e SEXO, na..."


Carilho, vomitei, na hora. Pense, sinceramente, IMAGINE, qualquer comentário sexual feito pela Fátima Bernardes. É normal? Acho que é algum tipo de fetiche de uma galera, mas pra mim é como ver a minha madrinha falando sobre estimulação clitoriana. Mal dá pra acreditar que ela trepa com o William Bonner. São dois ícones assexuados da televisão brasileira, e, de repente, essa estatua alabastrina, de cabelos tão negros quanto a sola do pé de um viciado sem-teto, vai começar a falar de sexo? Não, pra mim são poucos pontos abaixo de ver sua própria filha fazendo strip na webcam, na escala Richter de angústia.

Quando ela aparece fora daquele balcão, vamos combinar, já é estranho. Pra ser sincero, não tenho nenhuma imagem da Fátima da cintura pra baixo. Ela tem culotes? Ela tem a panturrilha gorda? Não sei, não tenho recordações a respeito desses fatos. E agora, do nada, eles querem que ela fale de Dupla Penetração? Ou que tipo de sexo existe que pode ser falado pela Fátima? É ultrajante pra criança em mim, sinceramente. A Xuxa, não, a Xuxa, por exemplo, sempre teve um ar de que curtia uma sacanagem, de mulher da Zona Norte, sabe como? Pois é, meus geografismos pessoais são expressão particular das minhas experiências, mas claro que você pode verificar isso dando uma boa olhada no calçadão do Arpoador, e depois dando uma chegada num condomínio ali na Dias da Cruz. Outra parada. E óbvio que não tô falando das exceções, das inúmeras, mas de um movimento que é bastante substancial, pra quem quiser ver. E claro, também não falo do grau zero da sacanagem, porque ele não existe pra ninguém.

E, de repente, saindo das imagens das meninas da Zona Sul e dos condomínios do Méier, vejo-me diante de Fátima Bernardes. É como encarar as gêmeas no corredor do Overlook.


É preciso tirar essas energias controversas do corpo. São contrários que formam um todo que me incomoda. Vou ver? Claro, né. Eu não veria se não tivesse me dado nada. Claro que, pelo horário, será difícil, vou estar trabalhando, mas tem sempre aquele dia que você fica em casa, os feriadões que servem pra acalmar a fera no seio do trabalhador. Um tapinha na bunda, pra te deixar faceiro. A ideia é tão medonha que faz a curiosidade acender. Claro que a emissora sabe e vai explorar isso, e a grande responsabilidade vai ser manter a coisa acesa, vai ser fazer do nome Fátima Bernardes uma fogueira sempre viva na mídia. Será o Benedito?


sexo e delicadeza

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Insônia de Tourette

Com essa coisa de sobe aqui, aumenta lá, nunca é demais falar do absurdo que é o salário mínimo neste país de merda chamado Brasil. Ah, ok, você, ufanista, patriota ferrenho, desculpa a diretoria, mas não dá pra ter meias palavras na República dos Bananas. É bonito, podia ser muito pior, mas isso não altera em nada o fato de que esse lugar aqui é uma terra pra exploradores fazerem fortuna, como sempre foi. Se você aproveitou bem seu cursinho de História no colégio, então você sabe que eu tô falando de uma coisa que começou com a superexploração da terra e continua na escravidão, por meio de pagamento e vigília policial, da grande massa de pessoas que vive por aí.

Dilma Rousseff parece conformada com o destino do país. Míseros R$622,00 de salário mínimo. Segundo a Wikipedia, nossa assessoria diretamente dos pícaros da informação, diz-nos que Cuba, por exemplo, o salário é equivalente a R$5718,00 reais. Uau, o que isso quer dizer? Muita coisa, se você correr pra olhar o preço da cesta básica em Cuba. Claro que é uma política diferente, claro que se trata de outra realidade, mas acontece que é uma realidade e a missão dos políticos desta bosta de Brasil é, justamente, a de achar uma maneira de fazer seu povo viver dignamente. A porra de uma cesta básica em Cuba sai por TRÊS DÓLARES, tá ligado? Ah, mas eles dão tudo em impostos. E você, não? Só que eles têm educação e saúde gratuitos, e não é esse chiqueiro que é aqui na Disney Tupiniquim do inferno, onde a cretina da Presidenta vai inaugurar a porra de um teleférico, quando tinha que estar inaugurando novos aparelhos, suprimento de remédios e afins, salário em dia e uma economia decente pra se viver.


E o que aconteceu com esse cara que metia o pau no Collor? De repente, trocou tudo pra cortar o cabelinho, fazer a barba e ir namorar global pra viver? Parece a Sem-Terra que hoje defeca e se locomove pro movimento, faz reality show de perua sem cérebro e paga de rica. Cada uma que aparece. Não bastasse ter passado décadas vendo babacas como Chiquinho Scarpa, além da nova safra de aproveitadores baratos do povo, que são ícones milionários, agora tem reality show de mulher burra fazendo macacada na frente da televisão. Pode? E pensar que esse Pensador agora faz parte disso tudo, ajuda a construir e vai pra frente da telona fazer propaganda com cara de bom moço. "Que país é esse?", pergunta Renato Russo, e a galera diz, em coro, "é a porra do Brasil".


domingo, 1 de janeiro de 2012

Rogerismo tem tratamento


Síndrome de Rogéria

Um estado patológico da mente, esmagadoramente feminina, em que o indivíduo se expressa com uma clara polarização da personalidade sensível. A doença atinge cerca de 95% da população feminina.

Sintomas:

Os sintomas são muito óbvios, de fácil detecção por qualquer pessoa equilibrada. Além de uma rígida linguagem corporal, o traço mais marcante é a drástica e repentina alteração da personalidade vocal. O indivíduo afetado pela síndrome pode, em questão de segundos, expressar uma dupla identidade fonética e fonológica, sendo uma delas a própria face do diabo. A segunda personalidade vocal, no entanto, geralmente assemelha-se a um carinho ao pé do ouvido. Tal energia sustenta a feroz e infernal primeira face, que é reservada a homens casados e filhos de pais vivos.


Por muito tempo, os que padeciam da Síndrome de Rogéria eram tratados como vítimas do diabo, bruxas ou loucos. Um dado interessante é que o número de lésbicas caminhoneiras contribuiu sensivelmente para a queda do índice de pessoas que padecem da doença. Casos de recuperação sem precedentes. Hoje, a medicina ajuda os homens a compreender que, socialmente especulando, se você é pai ou filho, você está fudido.

- Meu neném? Oh, neném, é titia, tudo bem, meu amor?
- É a Camila?
- Não. – som gutural medonho, tipo voz do capeta.
- Não?
- Oi, JULIA – acento bizarro que faz a voz ir do chamego ao contato de quarto grau -, como é que tá essa coisa linda da tia? Que saudade que eu to de você!

Neste pequeno trecho de um diálogo gravado com permissão alcoolizada das partes, que em breve será disponibilizado aqui, temos uma ideia de quão instável é viver exposto a este tipo de manifestação psicofísica.



Falando em Rogerismos, olha só essa tailandesa, ou esse, ainda paira a dúvida, fazendo um trabalho invejável de voz. Se liga na bizarrice que é essa cantora, e como é fodinha o que pimpolha faz. A mulher vai de Sandy a Ana Carolina em menos de um segundo.