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terça-feira, 26 de junho de 2012

Reflexamentos: um pensantear.


     Muitas vezes, penso na educação que meus velhos me deram. Hoje, principalmente, já que minhas responsas de educador aumentaram com a paternidade. Eles sempre diziam, não experimente tudo, porque é um caminho sem volta. Levo isso comigo e penso bastante antes das coisas que coloco em minha vida, sejam pessoas, substâncias, gestos. Nunca entendi, até pouco tempo, o que aquelas palavras que considerei exageradas, produto de uma estima excessiva, guardavam de sabedoria. 


        Ao estabelecer um encontro, seu corpo guarda as impressões deste contato. Não importa se uma boa ou má experiência, haverá memórias que lhe farão recordar alguma coisa registrada a respeito. Estas memórias podem ser entendidas como um espectro que vaga no seu mundo interior. Ele vai falar com você, expressão da necessidade de retorno ou de fuga, da vontade de reviver a experiência pregressa ou de fugir de qualquer coisa que insinue tal situação. O caminho sem volta não é sucumbir a alguém, ou algo, mas a eterna relação que existirá entre a coisa que se experimentou e você, para o resto dos seus dias. 


        Feliz é aquele que aprende pelo exemplo, pois não sente na carne o sofrimento de todo o aprendizado.








domingo, 24 de junho de 2012

Você procura alguma coisa no que consome?




Você procura algo no que consome, ou faz só por gosto?

Por muito tempo, sinceramente, fui um daqueles caras que não só não ligava pra isso, como criticava os contadores de calorias. Continuo achando os controladores uns freaks, mas com certeza o interesse pela natureza das coisas que se ingere não é nenhuma paranoia. Ao contrário, acredito que é sinal de interesse com relacionamento que existe entre o corpo e a mente. 

Este iogurte da Nestlé, ali em cima, é meu favorito, quando vou ao mercado e tenho que escolher entre algumas marcas bastante tradicionais. Ele não é o mais caro, mas é, com certeza, o que tem maior concentração de cálcio e menor quantidade de sódio que os outros. Uma vez, olhando aqueles que vêm em pequenas embalagens, percebi que a maioria dos que são vendidos por preços baixos agregam muito pouco à alimentação do indivíduo. Ou seja, tem muita gente aí bebendo preparado de leite com vários conservantes e amido pra engrossar, pelo simples fato de que se chama "iogurte" e, claro, sempre ouvimos que beber iogurte faz bem à saúde.

Agora que estou entrando na vida velha, pai e o escambau, fico ligado na literatura da nutrição, dou umas lidas no como foi feito, no que se colocou ali, pra ter uma noção do custo-benefício. Com certeza, tem produto melhor no mercado que essa beleza, mas aí já entramos no incrível mundo das pessoas com alta renda e, bom, trata-se de um caminho desconhecido pra moi.

Tem alguma marca brasileira de iogurte, que nutre legal? Alguém recomenda? Não faço a menor questão de sustentar os caras da Nestlé, se dá pra comprar algo de qualidade aqui, no Brasil, pra brasileiro enriquecer.

MMA no Brasil: uma febre pra estrangeiro explorar!


     Seguindo a lógica da exploração colonial, o UFC, que pertence à empresa americana Fertitta Entertainment, vem ao Brasil tomar uma grana dos brasileiros, com a mediação de empresários e celebridades daqui. Não estou culpando os lutadores daqui por emprestarem suas caras ao evento, não mais do que merecem, porque sei que aqui, no país, não existe incentivo e investimento. E não existe isso tudo por quê? Porque, justamente, quando você não investe, você deixa espaço pra investimento. Com isso, o governo não gasta e ainda recebe algum, que vem das mãos dos empresários internacionais. Não é sensacional esta estratégia de enriquecimento?


        Por que não pediram a empresas nacionais pra se unir e montar um fundo pra organizar um evento nacional? Por que a Globo, Bandedeirantes, Record e os outros não se envolveram pra criar uma transmissão de peso e com as promoções que sabemos criar? Por que as celebridades não se juntaram pra enaltecer e ajudar a construir um evento brasileiro de porte? Simples: porque todas estas pessoas, aqui, estão envolvidas com a presença do empresariado que vende as possibilidades do país pra empresários estrangeiros explorarem. Rios de dinheiro que deixam o país pra construir padrões de vida, que depois são exibidos na TV como a vida glamourosa das celebridades. É nojento, ultrajante e injusto.




        Falando um pouco sobre o combate entre Wanderlei Silva e o sósia do Jim Carey em Debi & Lóide, Rich Franklin: um papelão de Wanderlei. Ainda que o script dissesse que tudo ali tinha de endeusar o brasileiro (Franklin parecia dever a vida a Wanderlei, no fim da luta, de tantos agradecimentos), a coisa não foi boa pro Wand, como chamavam os narradores. Não porque Rich tenha feito uma luta fenomenal, não, mas porque a debilidade do curitibano era palpável. Uma completa falta de estratégia, uma entrega amadora ao combate, sem qualquer segurança e grandeza. Quem assistiu ao fiasco, ontem, sentiu muitas saudades do grande Rickson Gracie, ex-lutador de MMA, com 484 lutas vencidas, de 486 disputadas.


                                   


        Neste vídeo, dá pra ver claramente algumas estratégias que Wanderlei poderia ter adotado. Viu aquele lance, onde o Rickson enfrenta um cara gigantesco, aproxima-se o suficiente pra tentar um agarrão e conseguiu botar o cara no chão? Não importa que Silva tenha um estilo, tenha um tipo de luta, dane-se, isso tudo vira pó diante de um fato: perdeu pra uma estratégia medíocre, coisa que os Gracie jamais se dignaram a viver em suas vidas profissionais. Salve, Helio Gracie.         

quinta-feira, 21 de junho de 2012

As zonas autônomas temporárias: um outro jogo

        O que são as ZATs, minha gente? Segundo Hakim Bey, um cara que curte ficar pensando, são associações organizadas sem a estrutura hierárquica tradicional, onde as pessoas se relacionam sem que suas identidades estejam investidas de poder pra controlar, pra se destacar, pra usufruir de prazeres exclusivos. Esta reunião de pessoas prioriza todos os esforços como responsáveis pela construção do todo. Por que o garçom é menos fundamental na construção de um bom restaurante que um gerente? Porque a faixa salarial é a demonstração disso. O proprietário é quem deveria reconhecer isto, como seus funcionários desempenham funções de igual importância para o restaurante, visto que um não pode fazer o trabalho do outro e o seu, ao mesmo tempo. E caso um fique de fora, o serviço é comprometido. Esta importância é clara e óbvia e deveria ser reconhecida no salário. 

       Meu pai foi comerciante muito tempo, agora está aposentado. Durante anos pude ver como se organizavam, o que falavam, do que reclamavam e o que queriam. Era um serviço pesado e até hoje é. Ninguém que tem seus desejos insatisfeitos pela pouca remuneração que recebe pode se dedicar a uma atividade extenuante, física e emocionalmente. É absurdo. Por isso, vivem num sistema de rotação, vivem saindo e entrando dos restaurantes, ou acabam doentes, com a saúde completamente debilitada pelos anos de esforço. Um homem de visão, que pensa na produtividade, observa que este tipo de ambiente precisa mudar, como o mundo mudou e os interesses mudaram. Os empregados voltam pra seus empregos depois de terem lido sobre "benefícios de emprego", "liberdade de atuação", etc., e você acha que o arcaísmo implementado na organização da empresa vai dar certo? Desculpe, seus empregados são mais inteligentes do que você, pois sabotam uma coisa fadada ao fracasso. Não seja burro, abra seus olhos, o mundo gira, você, que é o empregador, precisa criar as condições necessárias pra que seus funcionários trabalhem com gosto e dobrado, se preciso, dando risadas, por tudo que aquela empresa significa pra eles. 


   

            Fazer o bem pras pessoas não é fazê-las sorrir, dar presentinho, tapa nas costas, ninguém vive ou é reconhecido por seus esforços ganhando brinde. O que se precisa é conscientizar esses malditos políticos, corruptos e egoístas, poucos com algum escrúpulo e sensibilidade, de que o suor do funcionário e seu tempo dedicado à empresa não é pra ser recompensando com o MÍNIMO, senão, teu serviço será mínimo e teu lucro, que pode até ser grande, dependendo da empresa que tem (que se beneficiam do simples hábito dos consumidores, como uma série de Supermercados), mas nunca vai representar a competência do teu trabalho e o brilhantismo das tuas ideias. No máximo, representa o dinheiro que vem de berço e que se multiplica na exploração débil do proletariado. Coisa de quem não vale o que defeca. Grandes inimigos de uma sociedade mais justa, diga-se de passagem.

         Fica, então, a dica: quando for organizar teus funcionários, ou sendo você funcionário, pense que existe um mundo em desenvolvimento e que você precisa acompanhá-lo. Uma pessoa de boa-fé não explora outra, podendo manter com ela uma relação justa de recompensa por esforço. Uma pessoa que quer estar cercada de coisas boas não sai por aí reafirmando a sacanagem generalizada e nem perpetua o sofrimento. Existem diversas formas de se organizar empresarialmente. Seja criativo, seja honesto e seja justo, e tua vida vai ser o resultado disso. Seja tacanho, seja desonesto e seja injusto, e tua vida também vai ser o resultado disso. Morô?

terça-feira, 19 de junho de 2012

Convencimento ou um Papel a cumprir? - A Propaganda


Penso que a propaganda desempenha um papel na vida dos consumistas, mas, sinceramente, não sei até onde ela é tão determinante assim. Veja bem, sempre vi propagandas de diversos tipos de automóveis, mas quando ouço a respeito de adquirir um carro, sempre ouço comentários a respeito da "facilidade com que se consegue peças da Wolksvagen" ou "as vantagens financeiras do Fiat Uno".

Não que elas não tenham certa influência, elas têm, só que creio que é mais a de preencher um espaço e reafirmar lideranças, do que realmente convencer o expectador de algo. Hamburguerias daqui de Curitiba têm bastante clientes, mesmo com a propaganda incomparável de grandes marcas da fast-food, como o Burger King e o Mc Donalds. O público vai atrás do sabor e da experiência. A propaganda na televisão só reafirma que estão são marcas líderes no mundo.




Agora, como veículo de promoção, é bastante evidente a eficácia da propaganda. Quando se precisa fazer uma referência popular, procura-se algo que todos conheçam, logo, as referências mais propagandeadas são as escolhidas. Além das marcas, os governos aproveitam bastante o poder da propaganda e fazem de seus atos políticos um espetáculo aos olhos do povo. Serve pra que seus nomes sejam lembrados, quando por meios diversos conseguem suas reeleições e eleições.

Do mesmo jeito que acontece com os produtos, a propaganda política também não exerce a menor influência concreta na decisão dos cidadãos quanto à política. Os nomes já são conhecidos, sua influência já está determinada, o fluxo de votos já é estimado e pouco se consegue de imprevisível.
A coisa é feita por outras razões, de outra forma e com intenções muito pouco transparentes. A propaganda política ocupa o espaço que deve ocupar no espetáculo da falsa democracia, aquela que existe na televisão e da qual o povo fala nos bares e nas esquinas. Não é, nem de longe, aquilo que realmente acontece nos palácios e câmaras, nos refúgios onde a imunidade e as polícias garantem total sigilo.

Contato Escravo Número 113

Noises of a bad radio transmition could be heard.

- Câmbio. Aqui é Ive Brussel. Repetindo, Ive Brussel. Me don't speak English. Record. Translate. Câmbio.

Those were the few English words ever spoken.

- Câmbio. Sou brasileira, vivo no Rio de Janeiro, no bairro da Glória. Preciso fazer uma denúncia urgente, porque as coisas aqui estão ficando horríveis. Os estados de carência são diversos. Precisamos de ajuda urgente, ou vamos continuar sob o julgo do nosso Senhor, o Estado, representado pelos empresários e políticos que fazem o intermédio das negociações estrangeiras e vivem de grandes comissões. Somos escravizados, como sempre fomos, a diferença é que agora temos mais regalias. A estrutura nunca foi quebrada. Ainda existe uma pequena parte da população se beneficiando sobre a exploração de centenas e centenas de outras, que são iludidas a respeito de uma democracia folclórica. Câmbio.

It was pretty difficult to understand what that woman was saying, but he was son of brazilians. He was there, trying his new toy and suddenly she was speaking about that country, those people and their problems. What was he supposed to do? Listen to it, he thought, at least was something he could do fine. What about talking to her? What if he could speak a little bit? What would be the words? He was trying to think of something to say, but she spoke again.

- Câmbio. Pagamos fortunas em impostos, mas eles simplesmente não investem. Muito é desviado pra atender necessidades pessoais, contas fora do país, investimentos em imóveis, negócios, pessoas. Nossos médicos estão abandonados, nosso serviço público é um lixo e o Estado é totalmente conivente com a superexploração. As pessoas morrem em corredores de hospitais abandonados e sem remédio. Os idosos não conseguem se aposentar. Os pequenos empresários são massacrados com a concorrência estrangeira e vivem de pequenos grupos de fieis. Estão roubando nossas vidas a troco de migalhas, do que cai em desuso na cultura superior e vem pra cá como farelo. Nos refastelamos com o que sobra da experiência de primeiro mundo, construída com o suor de incontáveis operários. Câmbio.

She was denouncing her own country as a machine of slavery and all sort of unscrupulous behavior. It was pretty serious. He always heard that in South America, things were very difficult to manage, but he never thought of something that bad. He held the speaker close to his mouth and pressed the button.

- Cambio. Diga más. Cambio.

He thought he wasn't heard at all and was about to give up, when she spoke.

- Você não faz ideia do quanto estou feliz.

And he smiled and took his pen.




sexta-feira, 15 de junho de 2012

URGENTE: É deus, mamãe!



POST DE URGÊNCIA

Um absurdo. Cuidado, vicia e mata.

Alfajor Negro, da Punta Ballena. Meu amigo, é praqueles momentos em que você está na rua, caminhando loucamente, ignorando o transporte público em favor de algum movimento corporal. Ajuda a ventilar a mente, dá paz ao espírito. Só que em um momento, tua taxa de açúcar pode cair lá no pé, tem gente que até desmaia. Não dá, né?

Come alguma coisa doce, pequena, dá um up na tua vida e chega ao fim da jornada. Esse aí faz você até caminhar mais devagar, pra prestar mais atenção às papilas gustativas. Consistência, chocolate, doce de leite, a medida de açúcar e sal pra te enlouquecer as ideias.

Dica: coma alguma coisa salgada antes, pois o sal vai deixar sua língua receptível para a total experiência dos açúcares.

KEANE: Uma tradução


I walked across an empty land                             (Andei na área da solidão)
I knew the pathway like the back of my hand       (Sabia o caminho como a palma da mão)
I felt the earth beneath my feet                             (Pisei a terra sob mim)
Sat by the river and it made me complete             (Junto ao rio fui completo enfim)

Oh! Simple thing where have you gone                (Simplicidade, onde você foi?)
I'm getting old and I need something to rely on     (Ficando velho eu preciso de apoio)
So tell me when you're gonna let me in                 (Então me diz, quando vou entrar)
I'm getting tired and I need somewhere to begin   (Cansado, quero um lugar pra começar)

I came across a fallen tree                                   (Passei uma árvore no chão)
I felt the branches of it looking at me                   (Senti seus galhos me tomando na visão)
Is this the place, we used to love                         (Este é o lugar, que um dia amamos? )
Is this the place that I've been dreaming of           (Este é o lugar com o qual venho sonhando?)

Oh! Simple thing where have you gone                (Simplicidade, onde você foi?)
I'm getting old and I need something to rely on     (Ficando velho eu preciso de apoio)
So tell me when you're gonna let me in                 (Então me diz, quando vou entrar)
I'm getting tired and I need somewhere to begin   (Cansado, quero um lugar pra começar)

And If you have a minute why don't we go            (Se tiver um minuto vamo ali ô)
Talking about that somewhere only we know?      (Falar do lugar que a gente achou)
This could be the end of everything                       (Este pode ser o nosso fim)
So why don't we go                                           (Então vamo ali ô)
Somewhere only we know?                               (Onde a gente achou)


terça-feira, 12 de junho de 2012

Greve: uma ferramenta sem uso


        Antes de qualquer coisa: a Greve é válida, sim, como instrumento de transformação. Eu jamais desdirei isso. O que quero deixar claro é que o jeito que ela acontece faz com que seja um fracasso desde o início. Não estou só falando da postura de muitos funcionários em greve, que não são estes professores, mas outros, da época em que trabalhava no centro. Não lembro quem eram, mas lembro que eram funcionários públicos. Tinham uma mesa com bolo, doces e frios, televisão na calçada, cadeiras de praia, risadas, brincadeiras. E se diziam protestantes. Mas o pior é que não é só isso. Não é apenas uma questão de postura, mas de esfera de atuação.


O joguinho das greves ajuda a preencher a literatura do faz de conta




        O território brasileiro foi ocupado por uma elite estrangeira, que dominou os nativos e se aproveitou da terra. Estas pessoas deram ao país gerações que ocuparam o lugar de seus ancestrais, o do poder. O povo foi constituído de bandidos, falidos, sonhadores, excomungados, perseguidos, escravos alforriados, remanescentes dos nativos, etc. Ou seja, o povo sempre foi um aglomerado de minorias nas mãos de uma outra, a dos ricos legisladores. A democracia é uma ilusão que estes caras criaram pra que os homens possam se alimentar de demagogia, de falsidade, de esperança.


        A greve não é diferente. Ela é, em teoria, transformadora, mas em prática não passa de um gesto telegrafado, como diríamos no bom jargão do futebol. Já se sabe como começa, o ínterim e seu fim. Isso quer dizer que não devemos fazer greve? Isso quer dizer que, em uma sociedade majoritariamente justa, com casos de injustiça, a greve é uma solução que força o pequeno foco a ceder e restaura o equilíbrio. Em uma sociedade fundamentalmente corrupta, com os três poderes maculados pela ganância e pela negligência ao povo que representam, a greve é um espetáculo tragicômico barato. Infelizmente.

       
       Uma paralisação perfeita, eficiente, coloca a malha política em cheque: age organizada e discretamente, pra que o gesto seja impactante e suficientemente expressivo pra fazer valer as revindicações. O que acontece é totalmente o oposto e todas as cessões por parte da elite política são apenas um cala-boca e, de longe, soluciona o real problema da educação: uma reforma educacional que vise a formar cidadãos críticos e capazes de construir, conjuntamente, uma nação forte e heterogênea. 


       É preciso que os protestantes parem de fazer o mesmo joguinho e comecem a formular novas maneiras de forçar o Estado a perceber sua falta de responsabilidade perante o povo. Ou então, ficaremos eternamente ocupando ruas, fazendo passeata, levantando cartazes, produzindo fotos que estampam artigos na internet e nada mais fazem do que isso. É a vitória dos empresários brasileiros sobre o povão, que acha que está abafando, quando, em verdade, tá fazendo showzinho privé pra magnata.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Missão Joaquim - Uma introdução



               Quando você vira um vampiro, sua vida se transforma em uma corrida contra mim. Um vampiro não tem nada a ver com uma pessoa, como gostam de florear os romances. Aquilo são escritores que gostariam de ter poderes sobrenaturais de qualquer tipo desabafando sobre uma folha de papel. Vampiros são humanos que perderam a capacidade de interagir socialmente, por se tornarem sedentos de sangue, por desenvolverem características físicas particulares. Não podem se reproduzir, não podem andar sob a luz do sol, não suportam luz muito forte e nem o calor, muito menos que mortais. Por isso, habitam lugares de clima frio e costumam caçar em locais onde são dificilmente rastreados e aprisionados.

               
                Não são animais, não se tornam selvagens, mas são conscientes de sua condição, por isso procuram a discrição, o isolamento, as sombras. Tornam-se caçadores de humanos, estudam seus movimentos, desenvolvem estratégias, associam-se a traficantes, passam tempos se alimentando de bicho de sangue quente. Eles são os inimigos do povo, os que podem e devem ser mortos em qualquer situação, sem qualquer prestação de contas. São considerados usurpadores da vida, por isso sua morte é um ato de contribuição ao progresso da humanidade. O indivíduo que entrega o refúgio de um deles às autoridades recebe, imediatamente, uma recompensa de dois mil.




                Esta estória vai contar minha experiência em São Joaquim, nas terras geladas da Serra do Mar, em Santa Catarina, quando fui trabalhar em um caso muito bizarro que aterrorizava a população: os fazendeiros e plantadores locais reclamavam constantemente do desaparecimento de animais, até que pessoas começaram a sumir e, como gota d'água, encontraram o cadáver de um menino. Aceitei de prontidão, primeiro, porque sempre quis passar um frio abominável, coisa que em toda minha vida havia evitado. Em segundo lugar, aceitei o caso, porque o menino foi encontrado pendurado pelos pés, em uma árvore, com todo o sangue drenado pela carótida. 

fat bastard

Biltong and Cheese Tartlet from Pastelaria Juveve

terça-feira, 5 de junho de 2012

Carlos - o Homicida


Carlos tem uma loja, que é constantemente assaltada por jovens do bairro. Carlos chama a Polícia, mas não se faz muita coisa: o dinheiro é rapidamente dividido e os ratos se camuflam na paisagem. Carlos se cansa de trabalhar pra pagar dívidas e compra uma arma. Não somente uma arma, uma doze, uma arma que representa o tamanho da sua ira. No assalto do dia 12, Carlos usou sua arma contra três jovens, abrindo um buraco do tamanho de uma bola em um deles e pegando os outros dois na porta, com um único tiro pra ambos.

Carlos, o homicida.


A culpa é deste assassino, não? Deve ser preso e encarcerado, já que se trata de um criminoso, correto? Parcialmente. Carlos respondeu a um estado de negligência a que estava submetido diariamente. Seu crime é a intemperança. Então, a culpa é dos policiais, que não conseguiram dar assistência necessária? Não. Mesmo os corruptos têm sua culpa em conseqüência a uma estrutura a que estão condenados a servir. Seu crime é a  conivência. Claro, a culpa só pode ser dos criminosos, que começaram toda esta situação tensa entre Carlos e os policiais, certo? Não. Os bandidos são tão vítimas quanto os policiais, porque são sujeitos construídos pra tal. Ninguém vira bandido porque ama a carreira. O ser humano gosta de paz e privacidade, gosta de liberdade, de poder ir e vir e sentir prazer tranquilamente. Você acha que os caras escolhem viver sob a mira de uma arma, sabendo que vão morrer de uma hora pra outra, sem nunca poder curtir uma vida fora dos limites de sua fortaleza? Acorda.

Criminoso é quem faz o Carlos ter que sonegar imposto, porque não tem condições de manter a lojinha. Criminoso é quem coloca na televisão a vida linda e maravilhosa das posses, enquanto faz muitos carentes viverem a eterna escolha entre virar escravo pra subir um pouco de vida e viver dos restos dos ricos, ou abraçar a criminalidade e experimentar esses prazeres tão gostosos que nunca poderiam sem ter feito a escolha que fizeram. Criminoso é quem paga homens e mulheres pra se fardar e ir dar a própria vida numa guerra criada pra ocupar todo mundo, enquanto ele, o verdadeiro criminoso, está seguro, protegido e gozando a vida boa. A minha pergunta é,

Quem é o criminoso? 

domingo, 3 de junho de 2012

Crônicas de Ontem 3



O ônibus seguia curso até o terminal. Eu acompanhava as letras miúdas da velhinha. Provérbios. Só me dei conta de que ele estava ali quando a ladainha ficou alta.


- No meu tempo, moleque tinha mais respeito por idoso.


Achei que era comigo, mas depois pensei que não tinha nada a ver. Voltei a olhar as letras do livreto.


- Mas é muita falta de educação, hein?


Não tive como não perceber, já que ele me olhava explicitamente. Então, virei o rosto rápido, num insight. Ali estava ela, a tarja amarela no encosto: banco de velho. Respirei fundo e me esgueirei pra fora, no espacinho que ele fez questão de me dar.


- Foi mal, não vi. Não percebi que o banco...


- Sei. Por favor, me deixe em paz. Era só o que faltava.


Engoli em seco, afastei alguns passos e tentei me concentrar na paisagem da janela. Então, ouvi quando ele disse.


- É um absurdo, essa gente. Você tem que lutar pra conseguir o que é seu por direito. Absurdo.


Não deu pra me conter.


- Ei, eu não tinha visto que o banco era de idoso. Se o senhor tivesse me falado, com educação, eu tinha feito o mesmo que fiz, dado o lugar.


- Não estou falando com você! Não me dirija a palavra, está entendendo? Eu não lhe dou essa intimidade.


- Toma vergonha na sua cara, seu velho mal humorado. Sem educação.


O homem inchou, o rosto estava coberto de ódio, mas não precisou se levantar, porque o clone do Jorge Vercilo no corpo do Giba, que estava sentado em sua frente, tomou suas dores. Levantou e veio em minha direção. Só uma chance me ocorria naquela hora: piso no joelho e entro com um direto. Com alguma sorte, os golpes seriam consecutivos e ele ia dormir cedo o sono dos putos.






- Tu tem que aprender a respeitar os mais velhos, guri. - ele disse, cheio de convicção, com um orgulho enorme por defender a honra do velho babaca. Foi então, que a voz do homem de idade novamente se fez ouvir.


- Motorista, faça alguma coisa. Os negros vão brigar aqui. Que absurdo.


Foi um comentário rápido, daqueles que alguns até ignoram, mas não Jorge Vergiba. O cara parou, de repente, mais branco do que era, totalmente emputecido embaixo do cabelo crespo. Seu corpo se virou lentamente na direção do idoso, enquanto eu podia ver o que estava prestes a acontecer.

sábado, 2 de junho de 2012

Crônicas de Ontem 2


Não eram muitos. Apenas um punhado deles me cercava. A velha das sombrinhas de cinco reais tomou a dianteira, procurando ver nos meus olhos algum sinal de súbito interesse. Um único ônibus na cabeça da rua, aproximando lentamente.


Olhei o pipoqueiro atrás de mim. Estávamos separados apenas pela tela grossa de vidro do ponto. Ele sabia o que se passava e segurava tenso um pedaço de bacon. Óleo de soja estalava na panela, diante de seus olhos misericordiosos.







Eu já havia desistido, àquela altura, quando a velha se abrigou sob o mesmo teto e me lançou um sorriso amarelo-acinzentado. O ônibus estava próximo, mas o tempo era suficiente. Ela entreabriu os lábios, linhas de saliva se projetaram na luz artificial dos postes, pregadas aos lábios rachados, mas sua fala não se completou. Vários caroços de milho atravessaram os limites do ponto, pela soleira larga, parando entre nós dois, a velha e eu. Ela observou com algum ceticismo aquelas pequenas jóias amarelas, mas sua face não demorou a revelar o poder que ali havia sido conjurado: por trás de mim, um bando de pombos sem-noção surgiu como se estivessem atrasados pra buscar o Pequeno Príncipe. 


Enquanto a idosa se protegia da sensação de ataque, aproveitei pra saltar dentro do ônibus já parado. Os demais circundaram o ponto e me encaravam pela janela. Mas eu só conseguia ver o pipoqueiro, que acenava sorrindo com o bacon na mão.

Crônicas de Ontem



Ando na chuva. Não gosto de ocupar minhas mãos daquele jeito. Ando com um capuz na cabeça e o rosto exposto. Os vendedores de guarda-chuvas me olham e se inclinam, as bocas se entreabrem, mas nosso contato é evanescente. Ouço quando diz o preço, mas continuo meu caminho, um ponto preto na via polaca. 


Um jovem estrábico cracudo me estende a mão. Não parece bem, hoje. Procuro um real no meu bolso. Ele diz que precisa de dinheiro pra comer. É nosso diálogo. Eu pago por mais um sorriso, um entre tantos que já me ofereceu de graça. Quando volto à rua, os olhos dos vendedores de guarda-chuva estão cheios de ódio. Vejo tudo um pouco borrado, porque o aguaceiro aumentou. Eles me julgam, apertando os bastões nas mãos. Eu, o piedoso, andando na chuva e ajudando viciados, enquanto eles trabalhavam de sol a sol, de gota a gota. 






Fui em direção ao ponto de ônibus, enquanto alguns me seguiam na corrente.