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sexta-feira, 26 de junho de 2009

maria

hoje você
tão bonita
barriguda que só

teu riso solto
cisco já maduro
nu meus olhos

aflitivo

disfarce face
ao destino
palco
rosto pouco visto
baile

compasso
tocando em frente
prestes a parir
semente
uma nova despedida

tão bonita
barriguda e só

segunda-feira, 15 de junho de 2009

mas falávamos de quê?

de música

Há tempos que não divulgo nada. Blonde on Blonde é o que pensei pra hoje. Simplesmente abri a pasta de arquivos e escolhi, estava ali, entre Paranoid do Sabbath e o Around the next dream, do trio Jack Bruce, Ginger Baker e Gary Moore.











Reflections on a life é o nome da criança. Quem botou no mundo foi um grupo formado por galeses do sul, o grupo Blonde on Blonde, que é assim chamado em homenagem ao álbum homônimo gravado por Bob Dylan.

O que dizer? Eu curti a banda. O vocal tem um timbre bem original pro som que tá rolando, canta meio Mick Jagger, não explora melodias fáceis. O som é um bluesão, temas folk, mas tem um baixão funkeando, por exemplo, em Bar Room Blues. Na seguinte, Sad song for an easy lady, a coisa começa bem triste, com umas cordas lamentosas, e depois entra uma gaitarada e o ritmo muda. Por trás, uma massa sonora sombria encobre o caricato vocal, até que culmina em um duo de gaita e guitarra muito interessante.

Não há melodrama na voz do cara. A escola dele é outra, o cara tem um jeito muito dele de cantar, às vezes acho que vai desafinar, aí ele costura de uma maneira legal, mas quase sempre parece um jeito estranho de cantar a ouvidos pops. É o que se percebe em Ain't it sad too, que por sinal tem um solo legal.

Indico pra quem não aguenta mais aquele tipo melodioso de vocal, já tão formatado, já tão conhecido da gente, e também aos que já de natureza não curtem melodias grudentas e fáceis, porque é diferente. E a guitarreira é muito boa, no geral. Os solos são bem feitos e não excedem, por isso ficam na cabeça. Bargain dá pra cantar pela rua de bobeira.

obs: I don't care é bizarra.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

não há imperativos...

Estava no 485, lotado pra variar, com as pessoas se esfregando no deslocamento pelo veículo. Fico logo depois da roleta, que é pra descer sem problemas. É um dos primeiros pontos depois de São Cristóvão. Nem sempre pego esse ônibus, mas vez ou outra é mais rápido que a integração, onde ultimamente as pessoas perdem dinheiro, um dos olhos, enfim, aquele ato obscuro do teatro social.

Então, estava lá e o ônibus ia pela Avenida Brasil. As coisas se sucediam, terrenos, animais que pastam próximo à rua, grandes reservatórios e containers que não têm uma explicação lógica pra mim. Estão ali desde que ponho os olhos naquela direção, faz lá seus cinco anos.

O veículo começou a achar brechas e rapidamente ficou livre do trânsito, agora movimentava-se com agilidade, mas seu tamanho e a disposição de seu esqueleto tornava a viagem, para nós, passageiros, uma experiência física intensa. Minha coluna estava recebendo toda a pressão dos movimentos e isso não mudava, até que resolvi pensar em como melhorar minhas condições. Tornei-me consciente do meu corpo e comecei a procurar respostas.

Dispus os pés de forma a ter base, mantive as mãos na barra de apoio e contraí o abdomen, e principalmente, não me opus aos movimentos mais bruscos. Pronto, a coluna pareceu-me isolada e fiz o resto da viagem sem sentir dores. Sem prestar atenção em mim, e mais, sem refletir sobre como, não haveria maneira de resolver e, como em muitos casos, para muitas pessoas, a coisa seria do tipo que se leva adiante até onde der. O conhecimento, que é autoconhecimento, te livra de desnecessários desgastes que o "livre emocional" pode vir a estimular.

Bom, acho que as pessoas, de maneira geral, têm pouca autocritica, reflexividade. Olho-as e parecem estar sempre sedadas pelo trabalho excessivo, evitando as dores inevitáveis do mundo que oprime. Quando chega o ponto em que devem saltar, praticamente acordam de um transe, assumem uma expressão endurecida e partem. São como guerreiros que não podem dar-se ao luxo de relaxar e curtir os estímulos de fora e a relação que estabelecem com a vida interior.

O cristianismo e toda a nossa cultura judaica ensina-nos a colocar-mos nosso destino nas mãos de deus. Ora, que o nosso destino, no sentido macro, pertença a deus, não posso discordar, ou concordar, agora é inaceitável que o homem se abandone interiormente e exteriormente (socialmente) nas mãos de deus. É uma idiotice sem tamanho, uma vez que a sociedade é um fenômeno dos homens, da terra, pensar que deus, uma forma que se expressa pela perfeição, se colocaria a favor de uns e contra a outros no desdobramento da vida.

Não quero que você deixe de acreditar em deus. Não espero que você destrua sua fé em nome de um vazio que aniquila o desavisado. Eu só espero que você "ame a si como aos teus semelhantes" (um bom princípio de ordenação social, não?) e mais, que creia em si, em suas capacidades, na sua faculdade de pensar e refletir, de se tornar aware, consciente do que te cerca. É o que a natureza faz! Não se exima de sua animalidade, porque é ela que dialoga com o ser maior que você deseja ser, é ela que te permite transcender, é teu chão e de onde virá o teu impulso pra se desdobrar e marcar a história do teu tempo.

Há duas vidas e você é o resultado da dialética entre elas.

Só o conhecimento salva.