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quarta-feira, 24 de março de 2010

ponto e vírgula

já comeu a combinação chocolate, doce de fruta e castanha? com certeza.
nessas horas penso que não ter um deus é grande desperdício.
fica calado aqui dentro aquela vontade de dizer:
"graças, estou vivo"
e cada parte arde sem porquê.

segunda-feira, 22 de março de 2010

efeito infecto

Fio. Você pinça, indicador e polegar, corre os dedos pelo tempo que for. Ele se estica, todo, mas quando solto, relaxa: a tensão do novo, e se dobra um pouco até você largar. Fi-lo porque não sei outra coisa que não procurar nascentes por aí, onde a boca leva um gosto de qualquer coisa original, vinho de primeira viagem, filtrado nos sítios mais recônditos das mil profundezas que o homem há pensado, longe de si, na medida de tantos risos e gargalhadas. Filho morto de baixo do braço, cada passo é mais um vindo. Não só é um corpo solto pra se assegurar no espaço físico do mundo, mas também árvore de sonhos moribundos que vão arrastados ao lado dos pés descalços. Findo.

sábado, 20 de março de 2010

Fausto sobre pilhas



Ah! Noite que se acaba, vai-te daqui, é tempo
Sol que se anuncia, vinde, é teu o firmamento
Quanta demora hei bebido em cântaro furado
Pra se cumprir o meu destino só agora

Quem vem nos bater aos portões a essa hora?
São as bruxas que o mar devora ao fim do ano
São aquelas conjuradas por Cipriano o mago
Condenadas que são as filhas feias de Narciso

Ah, dia que se levanta, na altiva varanda
Aquece meu rosto antigo com a tua mão macia
Brisa que corre solta pelas colinas de Cartagena
Vem descansar sobre meu rosto feito nuvem

A feitiçaria não pára lá adiante
Eis que ainda querem entrar as bruxas aflitas
Conjurando leviandades excitantes sobre suas vidas
Na tentativa de tomar as velhas chaves

Ah, finalmente dia, quanta vez te chamei
Enquanto as estrelas se tornavam inhas
E uma ou outra se pensava um instante
Quero o tempo da alegria pra te esquecer

as bruxas falecidas com a vinda da aurora agora fertilizam a memória


- Avati

sexta-feira, 19 de março de 2010

Ballad of The Mean Navigator



I took the black ship at the ocean shore
a thousand years ago when headed north
to find her dead above the roses seedbed
growing wild 'round the bended sycamore

Life was fine for many years since that spring
breathing one day at a time and most correctly
not much wine to fill this left side heart
where I like to think my child hides sometimes

The navigator showed up again one night
to take away my soul into some innertide
than I took advantage and blew away the waves
"You are doomed, my fellow", told me the first mate

That time I was around with Rosalee
we used to live beside the dogwood trees
I never loved that woman not a single time
but than the captain came and put the blame to stay

These days I wait again for Auley Theodenfred
to bring that fierce wide smile right back to me
for now I know my destiny lies upon an early grave
to watch my dear ones go forward astray

quarta-feira, 17 de março de 2010

Suburbanidades - Ato I

Um pouco de sol sobre a mesa, um semicírculo desenhado na tábua, atravessando o cotovelo dela; pequeno, sabe? Liso, sem manchas, um braço sem defeitos. Na escuridão, sentado à frente, sem brilho nenhum, ele, mais velho, cotovelo grosso exposto, homem de maiores proporções. Comem, não parecem entusiasmados com o fato, mas comem pelo hábito. Sinto uma leve tensão no ar, como se os primeiros laços do dia fossem nós cegos.

- Queria assistir a peça lá no Bataglia...
- Que peça?
- Aquela, te falei, ontem.
- Diz o nome, cara, o nome...
- Porra. "Quatro coisas..."
- Quê?
- "...de nós dois".
- O que você falou?
- Ih...
- Acordou de mal humor? Não vem de patada, não.
- Ih, cara, foi uma interjeição. Não mandei você à merda, nem nada. Eu, hein!

Ele se propõe a lavar os pratos, talheres, a louça do dia anterior. É um gesto voluntário, feito em silêncio absoluto. Ela sente a ligeira angústia subindo pelas paredes do estômago, uma azia dracônica ruflando asas no interior, então escora na pia, leva a revista junto e amansa a voz, deixa macia, um tom de falar com nenéns.

- Vai comigo?
- Pode ser.
- Pode ser, não. Vai comigo, poxa.
- Eu vou com você.

Um beijo, no rosto. De alguma forma, não caiu bem, suponho. Ele sorri azedo, por fora até engana, mas é depois que o rosto relaxa que a gente percebe o resquício de amargura moldando a máscara.

- Eu adoro a Maria Claudia Lanheiras.
- Aquela que fez "Falso testemunho"?
- É, a loirona.
- Claro que você gosta dela. Todos gostamos. Ela deixa qualquer um excitado.
- Como assim, cara?
- Você gosta dela pelo talento?
- Por que não?
- Onde você vê algum ali? Não força a barra, vai.

Ele nem seca, joga tudo dentro do plástico e que o tempo dê conta. Abre a geladeira, cerveja gelada, queijo, vai tudo pra mesa. A televisão não mais desligada joga na cara a mesa redonda, futebol discutido na mais pura superficialidade, pra você, amigo da rede.

- Acho que ela trabalhou bem na maior parte dos filmes que fez.
- Claro que acha. Como não acharia?
- O que você tá dizendo? Para de se esconder atrás de ironia idiota.
- Estou dizendo que os critérios que você adotou pra achar qualquer um alguma coisa são as mesmas bostas que fazem de capas de revista e programas de televisão a mesma merda com as figurinhas carimbadas de sempre. Agora, o que isso importa? Nada na sua cabeça vai mudar, porque nada vai mudar lá fora.
- Você é muito prepotente.
- Sou, sou mesmo, e você? O que é você? Eu conquisto meu poder com o que afirmo, e cada afirmação minha é um convite pra um diálogo. Quem quiser se colocar contra, que venha, porque a derrota é um triunfo pra quem quer dar passos adiante na vida. Perder a razão é evoluir! E faço esse desafio diariamente, farei, farei sim, não pense que vou ser um abanador de rabos só pra ter identificação.
- Eu só disse que ela me agrada! Você é doente.
- O que te agrada não é o motivo, sua idiota, não se faça de vítima. Os motivos pelos quais você se agrada, sim, porque são parte de você, é você. Então, não tente evadir agora.
- Ela me agrada. Sabe? Foda-se que eu não tenha motivos pra isso, ou que meus motivos sejam esses, que você pensa, ou que sejam outros ainda mais misteriosos. Ela me agrada, ponto final, não pedi análise sobre as minhas, sobre os meus sentimentos. Guarde pra você o que acha sobre as coisas, espere que alguém pergunte, mas não venha de sermão pra cima de mim porque você não consegue aceitar o fato de que ela me agrada.
- Foda-se a ausência de motivos? Então, se eu te der um tapa na cara, agora, posso usar a mesma justificativa pra não ter que dizer nada a respeito?
- Vai me agredir? Acha que essa comparação é sensata, cara, sério mesmo? Você acha que é a mesma coisa?
- E quem disse que precisa existir equivalência na relação entre agressões? Desde quando eu disse que nesta relação a minha participação era augurada por um código de honra desse tipo? Sabe por que existe polícia? Porque pessoas não são obrigadas a nada. Não sou obrigado a fazer as coisas como você pensa que devem ser feitas, principalmente quando duas coisas tão diferentes estão envolvidas, minha propensa condição de covarde e sua autosuficiente condição de desafiadora. Vá para o inferno!

Ele sai, bate a porta, as dobradiças seguram o tranco. Ela chora, desiste, insiste, liga para os amigos, mas ninguém a assiste em nada, então ela não resiste e parte. Coloca algumas roupas na pequena mala, deixa o que não importa, pega escova de dentes, desodorante, as jóias que ganhou e as botas, porque são caras, presente importado. Deixa um bilhete sobre a cama, o qual ele encontra depois que retorna, bêbado, com a camisa fedendo a cigarro.

"Fui ao teatro. Não espere por mim"

Ele vai até o laptop, sempre ligado, pra ouvir um som. Ela escuta a música que o taxista decidiu pra ambos. Jogado na cama, ouve os diálogos na televisão vizinha, enquanto mais um filho é encomendado. Pelas janelas do carro, pingadas de chuva, ela escuta a mesma música, uma balada sobre lugares altos.

terça-feira, 16 de março de 2010

O Diário de Saulo Laporta: Chuv

Dançaram aqueles dedos durante toda a noite. Não houve tempo naqueles momentos, só o do compasso, só aquele ditado pelo arquiteto das notas, das trovas, das trevas que fugiam à luz das diminutas, tão poucas, tão lúcidas, vivendo depois, em cada pensamento que parecia nascer embalados pela voz suja no piano-bar. Nem a lua foi feliz naquela noite, vendo que as criaturas alucinadas tinham outra musa, era a música, aquela linha tênue entre som e palavra, um tapa, às vezes no peito, às vezes na cara. Chegar em casa foi um começo, porque o fim estava aceito desde os primeiros passos pra longe do piano, fechado, com uma capa preta por cima, onde ficou o chapéu do artista, agora longe demais pra se lembrar. Talvez com raiva de si mesmo, talvez insatisfeito com aquela noite, como mais tantas, talvez com frio em sua cabeça quase calva, ainda resistente, mas já frágil pela idade. Talvez queira fazer outra coisa antes de morrer. Precisa de outras vaidades que não aquelas notas tão entregues, aqueles versos tão falados, aquelas mesmas estórias que ele traveste, onde joga confetes, às vezes aparando arestas ou podando as ervas daninhas dos canteiros que ergueram por aí. Ah, tuas mãos falantes me causam amor, uma admiração doce que causa vergonha, às vezes. Volto todas as noites pra confirmar que tuas falanges saudáveis ainda podem encantar o canto que aos poucos derrama; mas no dia que fores, tua musica ficará, artista, definitivamente amada por mim, sepultada em algum canto interior, pra voltar nas noites que me restam depois de ti.

quinta-feira, 11 de março de 2010

das liberdades individuais

O que tenho percebido, ultimamente, é o alcance da liberdade individual. Chegamos ao ponto em que as autonomias interferem diretamente na experiência social, ao meu ver. Como assim? Bom, vamos a um exemplo prático.

Você está indo até a casa de seu amigo, Plínio, aquele que não vê há tempos. Então, ao chegar no Plínio, ele diz que vai tomar um banho e pra que você o espere em seu quarto. Naturalmente, você o faz. Ao passar pelo quarto do irmão de seu amigo, no entanto, a curiosidade impede que continue o caminho. Ele está escutando Tokio Hotel (neste momento, este que vos escreve está indo ao youtube ouvir uma das músicas da banda).

EXPERIÊNCIA EM TEMPO REAL DENTRO DA CABEÇA:
- a música chama World behind my wall;
- parece a antiga música dos anos 80, só que com menos instrumentos fazendo coisas legais e mais vazio anti-estético;
- a voz é a de um adolescente, apresenta uma técnica muito limitada, o falsete é feio;
- a letra fala da vontade de um astro por conhecer como é o mundo lá fora, longe da tv, entre as pessoas reais, como se agora existisse um espaço poético da condição bigbroderiana de vida;
- a música é uma linha regular que começa e termina como quase tudo que se faz pra esse tipo de público.

Você bate na porta e começa a conversar com o moleque sobre música. Ele se adianta, diz que não ouve muito aquilo, mas que até gosta. Tá escaldado, claro, já vive aquele sentimento de culpa porque sabe que tem umas pessoas que não engolem aquilo. Eu poderia dizer que fãs de Franz Ferdinand não estão lá muito melhores, mas não quero que a vida dele seja boa e o deixo ali, culpado. Digo que o som é ruim. "O som é fraco demais, o cara canta mal, a batera é chata, olha só, 'tututututumpá, tututututumpá', diretão, ai cai no 'tu tum pá' depois, porra". O moleque te olha, pensa bem, você é maior, mais experiente. Ele arrisca o que tem, o que ouviu há um tempo e o deixa bastante seguro de si. "É uma questão de gosto".

Ato II: FUDEU


Gosto: o que é o gosto? Ao meu ver, "gosto" é aquilo que se depreende da experiência de um indivíduo em relação às coisas que existem pra se gostar. Aquilo o que? O conjunto das razões que lhe fazem ir até determinado objeto e tenha para com ele uma experiência recorrente. Então, quando falamos de gosto musical, não estamos falando tanto da música, em crítica, porque não somos críticos musicais (por isso o "Ao meu ver", acima) em sua maioria esmagadora (e os que são, ou dizem ser, andam tímidos ou sumidos, dando emprego pra adolescente na Tv falar sobre o que não sabe), estamos falando de gosto pessoal. E o que é isso, senão um cartão de apresentação?

A vivência de mundo é o trabalho incessante da construção de uma identidade social. O que você veste, ouve, vê, pensa e fala, como age, enfim, são critérios adotados por quase todos para definir quem é você no espaço da interioridade de cada um que se preste a conhecê-lo (e esses critérios avaliativos são, em sua maioria, tão viciados quanto aqueles que orientam o "gosto"). Então, quando você diz que gosta de Tokio Hotel, está-me dizendo que é uma pessoa:

- que gosta de um piano fácil
- que gosta de uma voz fácil
- que gosta de uma guitarra fácil
- que gosta de uma batera fácil
- que gosta de uma letra fácil

e pior

- que gosta de tudo isso misturado

Logo, o que você nos está dizendo é:
Sou uma pessoa que tem prazer com experiências de pequena intensidade.

O prazer entra em sua vida de uma forma muito simples, muito tacanha. Sua vivência de mundo é a do "easy living". Aquiles olharia você com tanto desprezo que não seria capaz nem de matá-lo, tamanho o medo que uma desgraçada alma como a tua pudesse lhe render prejuízos sendo libertada da prisão da carne. Capitão Nascimento diria que você nunca será.

Contraponto Saúde - Um serviço de sanidade pública


Bom, pra que fique claro, ninguém que não goste de Tokio Hotel está afastado da música Pop. Existem muitas bandas Pop que você pode gostar, sem que esteja entregando o seu ouvido a coisas tão fáceis. Um exemplo disso é a banda de Pop Rock, The Reign of Kindo, ou TROK, como se diz por aí. Vamos a uma comparação sadia entre as músicas:

http://www.youtube.com/watch?v=zlLkscjDWsA&feature=fvst - "World behind my wall" e
http://www.youtube.com/watch?v=zlLkscjDWsA&feature=fvst - "Reign of Kindo"

Comparações:

Ambas trabalham timbres atuais, dos instrumentos ao vocal, mas a diferença são os recursos empregados. O vocalista do TROK trabalha mais recursos vocais que o carinha do Tokio, criando nuances pra música, intensificando a experiência quando coaduna diversidade e tempo. O instrumental do TROK faz a mesma coisa, trabalhando acordes simples, coisas bastante praticáveis, demonstrando que não é somente o que você toca, mas como toca, como organiza o som, pra que a música seja o produto de um trabalho inteligente. Ou seja, nada mais do que a capacidade dos músicos, seu talento, traduzindo-se em prazer.

conclusão: sua predileção por experiências medíocres faz de você um bundão.

quarta-feira, 10 de março de 2010

ManaW toca Santana

Pois é, agora divulgo por aqui também.



Música regravada pelo Santana, acho que a original é do Peter Green. Vale a pena dar uma olhada nas versões originais. Estamos começando com a banda, processo de acerto, de conhecimento e reconhecimento, de harmonização do grupo, aquela coisa que tem de ser bem fundamentada pro trabalho ser sério, pra não pesar nas costas.

Hoje, olho pra trás e lembro que não conseguia dar um dó/sol e cantar ao mesmo tempo. É bom ver que a prática do estudo leva a uma melhora notável. Não me faz sentir confiante no presente, mas faz com que o futuro pareça mais doce um pouco, menos avinagrado. Quero e preciso melhorar muito minhas habilidades, preciso cuidar da garganta, preciso fazer os exercícios, preciso estudar música... enquanto isso, vou me divertindo, espero que alguns venham junto.

segunda-feira, 8 de março de 2010

idiotecnocracia

Ao meu redor, baixezas, idiotias. Sim, estou falando sobre os idiotas que compõem a nossa sociedade ativa e inativa. É pretensioso da minha parte? O que é mais danoso ao ser humano, a pretensão, muita vez a fumaça espessa do óleo que queima por dentro, ou a apatia diante do medíocre, a fanfarra diante do fácil, o desejo pelo que já vem deglutido, o deslumbre pelo que reluz, ainda que não seja ouro? Penso que sua resposta vai definir as coisas entre nós dois.

Milhões de pessoas sustentam bundas, peitos, corpos quaisquer com o suor do trabalho, de várias formas, fazendo do cuidado e do desenvolvimento do corpo, além de implantes e cirurgias corretivas, algo de muito mais valioso que a maioria dos diplomas. Muitos estão satisfeitos com o fato de que homens que correm atrás de bola, alguns até gordos e enferrujados, ganham salários milionários enquanto médicos ganham muito pouco pro trabalho que fazem e pra dedicação que precisam ter. Vários indivíduos estão aí, sustentando uma indústria artística viciada no romântico barato, no apelativo em excesso, no clichê reproduzido em série. Inúmeras pessoas anseiam por reconhecimento, pelo familiar, pelo local seguro, um terreno reconhecível onde possam pisar seus pés calejados.

O que se pode pensar de pessoas que choram por estar diante de um ator inábil e que pouco provou de sua carreira? Isso quando não é claro que o tal talento é baseado exclusivamente na padronização da beleza. O que se pode achar de pessoas que se matam por conta de um jogo de futebol em que os atletas, todos juntos, não tem metade da dedicação e entrega daqueles que ali estão torcendo e se matando? No que devo crer quando descubro que uma escritora ruim, de estrutura e conteúdo mais do que previsíveis, insípidos, nada desafiadores, é uma das mulheres mais ricas que existe? O que se deve concluir quando uma mulher, que comemora o dia que a segrega da totalidade humana, nem sabe o porquê do que está fazendo? O que se diz de movimentos que pregam o orgulho racial, o "100% Cor", como resposta a outros movimentos que também pregavam o orgulho racial?

A serpente, que se arrasta para sempre, trazendo na boca o beijo mortal, é a primeira a dançar ao som do pássaro canoro, livre nas nuvens que cultiva como altar.

quinta-feira, 4 de março de 2010

marvin

ontem, hospedei na língua uma abelha morta por um segundo de reconhecimento.

quarta-feira, 3 de março de 2010

o menino e a jaula

Mundo vivo de retângulos magros, de arestas redondas onde a palma da mão arrasta o pouco conforto que subtrai ao redor. Olhos cheios de amor amansam a fome que começa a roer por dentro as vigas fundacionais. O espírito suspira laços nunca amarrados enquanto a caixa fechando projeta sombra de um tempo final. Se o seio goteja farto à distância, racha um dos beiços no canto sem voz. De silêncio amanhecido tem vivido o homem, na fartura de pensamentos que se multiplicam em milagre. Oculto o santo, fica a sentinela, firme.

segunda-feira, 1 de março de 2010

blues de quarta-feira

Em uma noite abril me apresentou
estranhos pensamentos de amor
era como se as mãos tivessem fome
quisessem sangue de homem
e pulsação
e pulsação

Naquela esquina tudo acontecia
consentimentos no farol azul
sabedoria em notas de passarinho
e ali sozinho estava
meu coração
meu coração

parece às vezes tão doloroso
dar o primeiro de tantos mais
só que o começo é ladeira abaixo
você sobe na mesa e o resto
sou eu quem faço
sou eu quem faço

conquista espaço com pouco papo
pelas pernas tenho muito a dar
gosto de quando fica assim compacto
então coloco no saco e
vou passear
vou passear