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sexta-feira, 2 de julho de 2010

Divagação de Pedro Pó

taco na parede branca um conto
aumentado de tanto em tanto até...
mas é que não sou túmulo
tenho em mim mais que cova
um vontade de tecer as coisas vivas
à minha volta e ver em novas
caras a sombra dos contornos
que se arrastam no futuro brumoso
com vozes distorcidas

quero ver cheia a bola gorda
túrgida de acidentes externos
com as artérias entupidas de mentira
e adultério barato
como animais que livres da gravata
com o esterno frouxo no pescoço
sem olhar as capas e as folhas de rosto
fazem gestos desprovidos de culpa
sangram pra atingir grandes alturas
não carregam nada para dentro do quarto
deixam tudo sobre o capacho velho
dormem como crianças no berço logo perto
sonhando com porres de fanta uva

às vezes o mundo me arranha
arrumo tinta na marra e pinto desenganos
farpas no olho da gente de fé
com seus mantras particulares sobre alguém
de vida santa
levo o quadro até a praça e ofereço
a qualquer preço essa farsa
arte que é exibicionismo
desnudamento dum momento de medo
precária
sem aquele vestígio de universalidade
relato de um estrangeiro e quê mais?
tem dias que deixo a imagem no lixo
em outros pago o aluguel adiantado

é estranho como podem ver fantasmas
coloridos
as pessoas que saem por ai
sem ter lugar pra ir
e vão olhar a si mesmas no reflexo dos cacos
que outros deixaram no caminho
porque toda dor é amor
e todo amor é parto

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