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sexta-feira, 18 de junho de 2010

"A Vida, que é a Rosa"

Bom, achei aqui um livreto com vários autores brasileiros sem projeção, do ano de 85, e dando uma olhada, percebi que tem umas coisas bem "engraçadinhas". Não pus as luvas e nem peguei o bisturi pra me servir do livro, falo como aquele que teve uma primeira impressão e gostaria de espalhar palavras novas, outros nomes, multiplicar as referências como fazem aí com as flores, e por acaso se perguntam os bichos se já existem rosas demais?

Resgate
de Eva Creuza de Oliveira


e depois desse luar
de ventanias
espedaçando
pétalas
por américas
europas ásias áfricas
e oceanias
restaurado
o silêncio
...
como resgatar
incólume a esperança
ter nas mãos
de novo
i n t e i r a
a mesma rosa???


Gosto da ingenuidade que constitui o lirismo desse poema, não me agride; é como se uma pessoa se pusesse diante de uma janela e abrisse o peito, exibindo inocência, mas de uma maneira cativante. Um dado a mais na realidade sensível que me traga. Diferente é a ignorância, aquele desconhecer que quase sempre aparece como justificativa para um impedimento brusco, cuja natureza leviana é incômoda a quem tem de toda hora retardar o passo.
Consigo desenhar ali um paralelo com Fernando Pessoa, a ideia de movimento que existe nos poemas em que se exorta o navegar, em Mensagem, e não apenas isso, mas também a ideia de que algo que estavam em progressão e cessou, como a campanha portuguesa, que depois de abraçar o mundo viu-se declinar vertiginosamente.
Depois de tanto, como ter nas mãos aquilo que se dispersou na experiência: a razão? Foi ela mesma que desenhou no mundo um mundo a se descobrir, foi ela que norteou os caminhos e ela mesma que explodiu quando o homem perdeu o fôlego e gritou seu ponto final. A história precisa continuar? Quem vai escrevê-la? As páginas se dispersaram no caminho e a pergunta do Eu me soa como se um Saramago, ressurgido da cova, procurasse o primeiro em busca de um caderno com folhas em branco.

Um comentário:

João Paulo disse...

Excelente! O crítico constroi a obra tanto quanto o autor.