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sexta-feira, 19 de outubro de 2012

O Fenômeno Avenida Brasil

Alguns amigos perguntam, incessantemente...

O QUE AS PESSOAS VEEM NESTA MALDITA NOVELA "AVENIDA BRASIL"?

 Bom, pra falar sobre isso, vamos ter de começar por algo menos específico, mais geral, que é a 


NARRATIVA

A narrativa tem um poder avassalador. O contador de estórias não é só responsável pelo entretenimento, mas um poderoso orador, capaz de transformar em imagens muito nítidas as palavras que ordena com capricho. Portanto, a arte de contar uma estória não é apenas a de ter informações pra dar, ou mesmo uma boa sequência de fatos, mas ordenar cada elemento em uma sequência extasiante. No romance, é justamente o labor sintático que cria estruturas visuais capazes de produzir, na mente, um filme ímpar. É o grande mérito da literatura, construir este momento, o instante em que o leitor se vê diante da recepção da obra em seu estado mais belo, o da contemplação, a consequência da interpretação, a bombástica visão daquilo se disse.

O cinema foi um espetáculo. O surgimento de uma nova linguagem, agora, morada dos gestos, cativou o mundo feito coqueluxe. Mas foi a televisão, esta caixa que habita conosco a casa em que vivemos, que construiu uma narrativa cativante. A novela é isso, uma narrativa que sofre cortes, pausas regulares, cujos personagens estão em um relacionamento espelhado na sociedade mais que real, ideal, onde os malefícios do dia-a-dia se tornam problemas especiais. É assim que providenciam a catarse do povo. O ópio. O remedinho pro dia seguinte.

OI!OI!OI

 
 



A novela sensação, Avenida Brasil, como todo bom produto, vem com todos os adereços necessários pra que o povo pense o melhor. Os capítulos começam e terminam em cenas fortes, decisivas, para gerar um verdadeiro interesse pelos próximos. Claro que este é o princípio das novelas, mas creiam, nada nas emissoras era feito com este capricho. Então, estou dizendo que esta novela é boa? Não. Estou dizendo que ela é melhor que as outras que estavam lá. O povo já é conformado com a vida que vai levar, vendo novelas, sabe disso, comenta o próprio infortúnio com um sorriso na cara. Quando aparece a chance de um prazer maior, de um pouquinho mais de intensidade, ah, é um transtorno, uma comoção, um fenômeno nacional. Por que kuduro na abertura da novela, se este ritmo sequer fez parte da trama, de um modo ou de outro? Se falavam de Charme, se o que tocava era o forró, ou pagode, por que este kuduro está na abertura? Um furaço. É porque tem gente $$PATROCINANDO$$ a música no ar. Opa. OIOioi.

Aí, dizem, vamos lá: 

1) "Não teve a empresa". Teve, sim, mas foi o salão. Qual outra empresa tinha rolando na trama? Nenhuma. Esta era a empresa. Os funcionários estavam sempre livres e dispostos. Tudo dando certo, tudo divididinho, as funcionárias virando gerente, dona. Que lindo!

2) "Não teve um vilão e um bonzinho". Teve sim. Santiago era o vilão. Tufão era o bonzinho. Nina é boazinha. Jorginho é bonzinho. As empregadas. Lucinda. Nilo, que saiu salvo como bêbado e doente, envenenado, redimido pela morte violenta. O bonzinho e o mau foram estabelecidos em dois grupos.

3) "Mostrou o subúrbio do Rio". AHAM! Hahahaha! Acorda. Já foi ao subúrbio? Sabe por que a família do subúrbio era rica? Porque senão teriam de fazer cenas em fila de hospital. Mais de uma. Nilo no hospital público, numa maca, durante quinze capítulos. Acorda. Isso é ridículo.

E a gente pode ir além, pode continuar por muito tempo, mas minha tendinite não me permite. Vou acabar aqui. Então, ó, legal, foi diferente, teve uma ritmo que deu o diferencial, cenários, luzes, mas é só isso. Trocou o amarelo pelo azul-turquesa, mas, e aí? 


É disso que o povo gosta, é isso que o povo quer?

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