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quinta-feira, 11 de março de 2010

das liberdades individuais

O que tenho percebido, ultimamente, é o alcance da liberdade individual. Chegamos ao ponto em que as autonomias interferem diretamente na experiência social, ao meu ver. Como assim? Bom, vamos a um exemplo prático.

Você está indo até a casa de seu amigo, Plínio, aquele que não vê há tempos. Então, ao chegar no Plínio, ele diz que vai tomar um banho e pra que você o espere em seu quarto. Naturalmente, você o faz. Ao passar pelo quarto do irmão de seu amigo, no entanto, a curiosidade impede que continue o caminho. Ele está escutando Tokio Hotel (neste momento, este que vos escreve está indo ao youtube ouvir uma das músicas da banda).

EXPERIÊNCIA EM TEMPO REAL DENTRO DA CABEÇA:
- a música chama World behind my wall;
- parece a antiga música dos anos 80, só que com menos instrumentos fazendo coisas legais e mais vazio anti-estético;
- a voz é a de um adolescente, apresenta uma técnica muito limitada, o falsete é feio;
- a letra fala da vontade de um astro por conhecer como é o mundo lá fora, longe da tv, entre as pessoas reais, como se agora existisse um espaço poético da condição bigbroderiana de vida;
- a música é uma linha regular que começa e termina como quase tudo que se faz pra esse tipo de público.

Você bate na porta e começa a conversar com o moleque sobre música. Ele se adianta, diz que não ouve muito aquilo, mas que até gosta. Tá escaldado, claro, já vive aquele sentimento de culpa porque sabe que tem umas pessoas que não engolem aquilo. Eu poderia dizer que fãs de Franz Ferdinand não estão lá muito melhores, mas não quero que a vida dele seja boa e o deixo ali, culpado. Digo que o som é ruim. "O som é fraco demais, o cara canta mal, a batera é chata, olha só, 'tututututumpá, tututututumpá', diretão, ai cai no 'tu tum pá' depois, porra". O moleque te olha, pensa bem, você é maior, mais experiente. Ele arrisca o que tem, o que ouviu há um tempo e o deixa bastante seguro de si. "É uma questão de gosto".

Ato II: FUDEU


Gosto: o que é o gosto? Ao meu ver, "gosto" é aquilo que se depreende da experiência de um indivíduo em relação às coisas que existem pra se gostar. Aquilo o que? O conjunto das razões que lhe fazem ir até determinado objeto e tenha para com ele uma experiência recorrente. Então, quando falamos de gosto musical, não estamos falando tanto da música, em crítica, porque não somos críticos musicais (por isso o "Ao meu ver", acima) em sua maioria esmagadora (e os que são, ou dizem ser, andam tímidos ou sumidos, dando emprego pra adolescente na Tv falar sobre o que não sabe), estamos falando de gosto pessoal. E o que é isso, senão um cartão de apresentação?

A vivência de mundo é o trabalho incessante da construção de uma identidade social. O que você veste, ouve, vê, pensa e fala, como age, enfim, são critérios adotados por quase todos para definir quem é você no espaço da interioridade de cada um que se preste a conhecê-lo (e esses critérios avaliativos são, em sua maioria, tão viciados quanto aqueles que orientam o "gosto"). Então, quando você diz que gosta de Tokio Hotel, está-me dizendo que é uma pessoa:

- que gosta de um piano fácil
- que gosta de uma voz fácil
- que gosta de uma guitarra fácil
- que gosta de uma batera fácil
- que gosta de uma letra fácil

e pior

- que gosta de tudo isso misturado

Logo, o que você nos está dizendo é:
Sou uma pessoa que tem prazer com experiências de pequena intensidade.

O prazer entra em sua vida de uma forma muito simples, muito tacanha. Sua vivência de mundo é a do "easy living". Aquiles olharia você com tanto desprezo que não seria capaz nem de matá-lo, tamanho o medo que uma desgraçada alma como a tua pudesse lhe render prejuízos sendo libertada da prisão da carne. Capitão Nascimento diria que você nunca será.

Contraponto Saúde - Um serviço de sanidade pública


Bom, pra que fique claro, ninguém que não goste de Tokio Hotel está afastado da música Pop. Existem muitas bandas Pop que você pode gostar, sem que esteja entregando o seu ouvido a coisas tão fáceis. Um exemplo disso é a banda de Pop Rock, The Reign of Kindo, ou TROK, como se diz por aí. Vamos a uma comparação sadia entre as músicas:

http://www.youtube.com/watch?v=zlLkscjDWsA&feature=fvst - "World behind my wall" e
http://www.youtube.com/watch?v=zlLkscjDWsA&feature=fvst - "Reign of Kindo"

Comparações:

Ambas trabalham timbres atuais, dos instrumentos ao vocal, mas a diferença são os recursos empregados. O vocalista do TROK trabalha mais recursos vocais que o carinha do Tokio, criando nuances pra música, intensificando a experiência quando coaduna diversidade e tempo. O instrumental do TROK faz a mesma coisa, trabalhando acordes simples, coisas bastante praticáveis, demonstrando que não é somente o que você toca, mas como toca, como organiza o som, pra que a música seja o produto de um trabalho inteligente. Ou seja, nada mais do que a capacidade dos músicos, seu talento, traduzindo-se em prazer.

conclusão: sua predileção por experiências medíocres faz de você um bundão.

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