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segunda-feira, 23 de julho de 2012

Um ser poeta, a contribuição divina

Quando precisa de água, que faz? Bebe. Faz o que pode para beber. O que te move? As pernas, claro, mas além, como motivação primeira, existe uma eterna carência. Esta carência, a sede. Sim, claro que ela é produto de uma necessidade de restauração de sais e minerais, de líquidos, mas aqui o ponto é a expressão da tua necessidade. Ela existe, é isso que o faz beber, caso contrário, faria-o quando quisesse ou se tivesse vontade. Haveria, com certeza, aqueles que não teriam o hábito. Sem água, morre-se.

É o que Reiner Maria Rilke fala em uma de suas cartas a um poeta, quando diz da necessidade de escrever. A escritura não é um gesto a que se força alguém, porque senão é expressão débil da prisão do indivíduo. Deve ser uma necessidade, um gesto da qual depende a própria existência. Quando não mais for assim, é possível que a escrita desapareça da vida, não se tornando um simples hábito, sendo assim mais justo com a tradição estética que merecemos, que é aquela onde o poeta nos apresenta um mundo erigido por suas emoções e reflexões mais íntimas. Me explico.



O poeta é um homem, cuja existência terrena está determinada pelo tempo. Quando não for mais homem, não será mais poeta, mas parte da poesia universal das forças que regem a vida neste grande tecido de galáxias e planos. Então, que tesouro pode representar a poesia, senão a vida interior, os pensamentos, os sonhos e os delírios do poeta, esta vida tão passageira? Não estou falando de renúncia à estética, ao contrário, toda poesia é estética. Se ainda não se resolveu o autor com a maneira como a expressão dá forma a seus devaneios, então está ainda pela metade. É algo que precisa ser resolvido, mas, veja bem, não para agradar uma crítica. Para si mesmo, como extensão de seus poderes, como propriedade natural onde habita sua experiência, seu olhar, sua contribuição para a humanidade.



E como lição final do mestre, deixo suas palavras a respeito da crítica.

"As obras de arte são de uma solidão infinita: nada pior do que a crítica para as abordar. Apenas o amor pode captá-las, conservá-las, ser justo em relação a elas."

- Reiner Maria Rilke

Um comentário:

Dinamara Garcia disse...

Amei essa postagem. Rilke é um de meus favoritos. Demorei 13 anos,de 1987 a 2000 para responder "sim" à pergunta fatal que ele faz aos escritores em "Cartas a um jovem poeta", e, hoje, após muitas perdas, incluindo um casamento de quase dez anos, posso ter a certeza de que passo alguns dias sem água, mas, nenhum sem minha escritura. Obrigada por sua visita. Seu blog é muito bonito.