Pesquisar este blog

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Um sonho com Sérgio Cabral


                Sérgio Cabral deixou o Palácio da Guanabara ainda cedo, sonolento que só, logo depois de se despedir do Chefe de Gabinete. "Olha, fica de olho no e-mail e me avisa se tiver qualquer notícia da empreiteira. Qualquer coisa, hein. Fica com Deus". E desceu os degraus em direção ao carro preto, blindado, emplacado regularmente pra evitar perseguições. O motorista era um homem treinado em três artes marciais diferentes, além de direção defensiva e tiro com armas de pequeno e grande porte. Tudo estava ali, o Chrysler à prova de balas, o governador a caminho de uma reunião e o motorista, que naquele dia se chamava Marcelo Nogueira.

                Uma vez no interior do veículo, Sérgio não percebeu que aquele Marcelo era outro Marcelo, com as mesmas qualidades e treinamento, só que cinco centímetros mais baixo, com o nariz um pouco menor e a capacidade inata de se misturar sem se fazer notar. O segurança pessoal veio em seguida, abriu a porta da frente e sentou ao lado de Marcelo, o substituto. Um outro entrou atrás, sentou ao lado do Governador e começou a mandar mensagens de texto. Pronto, agora o nosso Marcelo tinha todo mundo onde queria. Quando chegaram em Botafogo, vendo que o motorista não tomaria iniciativa, o segurança pediu para ligar o rádio.

- A entrevista do Governador vai pro ar na CBN. Quer ouvir, Governador?
                
                 É claro que ele queria e claro que Marcelo sentiu muita satisfação em permitir. O botão do rádio não ligou o aparelho, como o seqüestrador pensava, mas afundou ao toque, o que fez com que o cão de guarda sentisse uma beliscada no dedo. Quase ao mesmo tempo, quando viu que o pino de sua janela não descia pra travar a porta, o outro sentiu a mesma picada no dedo.

- Que porra é essa?
                
                 Sérgio olhou pelo retrovisor. Não era Marcelo. Ambos os seguranças estavam encostados nos bancos, calados, suando frio, perdendo aos poucos o controle do próprio corpo. O Governador afrouxou o nó da gravata.

- O que é que você quer?

- Ah, Governador, muita coisa. Não vamos falar sobre isso agora. Quando chegarmos no lugar certo, as nossas negociações vão começar. Enquanto isso, aproveita o passeio e a música...
                
                Marcelo apenas por um dia tirou o adesivo preto, revelando o botão comprimido, bem ao lado da armadilha que havia preparado com a agulha. Apertou-o uma vez, fazendo a música soar nos ouvidos do apavorado homem público, um hino que o motorista cantava junto.




- Oh, we are not gonna take it, no, we ain't gonna take it, we are not gonna take it, anymore…

Nenhum comentário: