Primeiro, antes
de começarmos a falar quem é e quem não é feliz, precisamos definir o que é
Felicidade. Eu posso começar a dizer uma série de coisas para definir esta
condição, mas seria, inevitavelmente, a minha visão. Isso porque se trata de
uma construção social, não um fenômeno natural, a tal Felicidade. É algo
convencionado, que depende dos valores e das experiências de cada um no mundo
social. Assim, chegamos a um fato concreto:
- No caso de Felicidade, bem como outros sentimentos que podemos
tentar definir, como o Amor, é preciso que seja levada em consideração a
existência de duas instâncias que fazem juízo: a do Eu e a do Outro.
Por vivermos um
organismo que nos constrói e que por nós é construído, a sociedade. Somos
influenciados e influenciamos as pessoas o tempo todo. Os valores, as visões de
mundo, os hábitos, as conclusões pessoais e coletivas, cada uma dessas
características constrói o indivíduo e o espaço ao seu redor, em uma relação
mútua de troca. Ou seja, um terceiro indivíduo surge da relação entre o Eu e o
Outro, por meio das relações culturais: o Nós. Chegamos, então, a um segundo
fato:
- Ao nos relacionarmos, fundamos uma entidade coletiva chamada
Sociedade, que tem por característica o costume de passar suas conquistas para
as próximas gerações, a fim de que os problemas antigos sejam superados e que
haja base para lidar com os novos. Compreender a Felicidade, portanto, é parte
das aspirações que a Sociedade possui para que possa vivê-la e legá-la.
O que não podemos
fazer, também, é confundir a Felicidade com o Prazer. É possível sentir prazer
sem que se esteja feliz, como também é possível ser feliz sem sentir os
prazeres, como percebemos em alguns mortificadores da carne. Como dizer a eles
que não são felizes? Justamente porque a Felicidade é algo que se define na
interioridade, não é possível ultrapassar as barreiras da subjetividade e
sentenciar.
Concluindo, o que
tentei demonstrar é que eu posso ser feliz, a partir das minhas convicções,
tanto quanto você, que pode ter uma visão completamente diferente, um sem
anular o outro. O campo da anulação acontece quando ambos entram nos domínios
do Nós, onde o diálogo existe para dar forma a esta nova instância de juízo. Sua
função é olhar as individualidades em um todo e construir a Felicidade
coletiva, que é o denominador comum das Felicidades individuais. Eu sou feliz
sem usar drogas, você é feliz usando drogas, e a nossa sociedade, observando a
minha, a sua e a experiência de muitos outros, tenta construir uma Felicidade
que é o equilíbrio em favor da vida.
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