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sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

O Diário de Saulo Laporta - Save me the last dance

A versão de American Pie com a Madonna sempre me deixa enjoado. Não tem rostos, nomes, não tem datas, apenas a impressão escrotaça de passado inamovível. Cada gole dessa merda cara e sem graça desce feito um par de bolas suadas de chefe de sessão enquanto toca a maldita música no rádio do bar.

Eu a conheci em uma noite como essa. Na verdade, veio ao meu encontro. Escolheu um pedaço moreno, ginga de passista, os olhos cravados de um fogo que tocaria o inferno nas estâncias brancas lá de cima. Fomos para o banheiro e começamos a nos bater. Enquanto tentava evitar que ela perfurasse meus olhos com a pinça que trouxera na bolsa, pensava em até onde iria com esses rituais. Depois que a unha rasgou a carne do meu rosto, próximo aos olhos, não consegui mais raciocinar e atingi aquela cabeça erguida com a saboneteira de alumínio. Um ricochete na parede, outro no espelho e depois lona.

Ela fez questão de pagar a conta. Enquanto costurava a ferida na cabeça, concordamos em trocar telefones, mas não tínhamos trazido celulares de nossas casas idiotas. Tentamos guardar os números de cabeça, mas no terceiro ponto eu já confundia setes e cincos.

Quanto nos separamos, e lembro como se fosse ontem, ela vestia um short tão certo que cada passo era uma apoteose, cada instante flutuava ao redor do pêndulo sutil que o quadril fazia embaixo da cintura fina, a cabeça parada e os ombros bem alinhados enquanto ganhava a esquina, cada vez mais próxima do sumiço. A música ainda tocava, nem sequer dançamos. Estavam mortos, todos os passos, o ritmo, os tons haviam se lançado num progressivo fade away. E éramos bons.

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