O que é família? Segundo é constatável, trata-se de uma união harmoniosa entre seres da mesma espécie. Alguns dizem que foi deus que ungiu essa união, mas outros, como Levi-Strauss, afirmam que trata-se de uma união baseada no mais puro interesse. Veja bem, antes não tinha polícia, não tinha justiça, daí a coisa era na mão grande. O homem é forte, a mulher é resistente, os filhos cuidarão deles na velhice. É bem simples.
Família é laço de sangue? Mas se nem doador certo um parente é. Não consigo enxergar a família como sendo essa ligação fisiológica, mas uma condição social. A família é quem você escolhe pra fazer parte do seu projeto de vida, de amor. Pode ter o teu sangue, pode compartilhar o dele com você, na raça, na luta, nas maresias.
E falando em family...
E falando em family, "Ode to my family", desta banda que eu não suporto, é uma das boas músicas. A letra tem uma dramaticidade forte, que ela capta e expressa na voz contida, sem vibratos chatos, que costumam caracterizar certas melodias apelativas.
"It is not flesh and blood but the heart which makes us fathers and sons".
Um Iago a todo instante, cuidado. Pois é, quando penso em Othello, penso na grandiosidade com que Shakespeare conseguiu tecer em palavras a carne tão nefasta do ciúme. Othello nem era mais o mesmo, ao fim, completamente fascinado pelas palavras e evidências de uma Circe viril e escamosa. O cara consegue fazer com que uma nova realidade se desenhe diante dos olhos do Mouro, que se entrega violentamente aos desígnios da honra. O corpo lutava contra, vê-se na grande interpretação que a personagem exige, graças ao poder dramático do autor. Othello é o palco onde se digladiam a sede por justiça e os apelos inequívocos do amor. Consumido pela loucura, filho obscuro da união de sentimentos irmãos, o guerreiro se lança ao encontro da morte de Desdêmona e da sua própria.
É preciso cultivar o desapego, sabe? Saber-se indivíduo, independente, solitário por natureza, já que é uma consciência única que anima um único corpo, sem chances conhecidas, até agora, de fazer tal experiência algo coletivo. Embora, ao que parece, LSD andou ajudando uma galera a sentir coisas próximas a isso. Enfim, de qualquer forma, acredito que são interpretações romantizadas de uma nebulosa química que explode no corpo e na mente. O fato é que você é um ser sozinho e deve respeitar a vida dos seres sozinhos que estão aí pra, se possível, construir uma experiência de coletividade. Essa experiência, no entanto, jamais deixa de ser uma união de seres sozinhos. Há que se lembrar disso, sempre. A individualidade é pra ser superada na convivência, que no seu mais alto grau, faz com que esta solidão inevitável se torne uma jornada maravilhosa. No entanto, há pessoas que fazem de tudo pra tornar esse caminho um inferno.
Isso me faz pensar em Paul McCartney.
Seja feliz fazendo alguém feliz. Esse é o grande desafio de viver.
terça-feira, 6 de dezembro de 2011
Vivemos num país de autoridades
corruptas. O noticiário toda hora nos conta sobre como alguém com poder usa e
abusa de suas capacidades. Escândalos envolvendo dinheiro são os mais comuns,
até o ponto em que se tornam culturais, parte do patrimônio nacional. Não estou
falando apenas desta escrachada associação entre Ricardo Teixeira, Ronaldo Nazário
e o Corinthians, mas de tudo que o futebol tem nos mostrado de podre durante
tantos anos, Eurico Miranda, Cléber Leite e tantos outros parasitas.
Como é que ainda conseguimos
torcer, mesmo sabendo que onde há dinheiro e fama, há corrupção? Como é que
conseguimos matar nosso próprio semelhante a tiros ou facadas, enquanto os
envolvidos nas falcatruas mais absurdas estão cada vez mais ricos e gordos? Como
é que esses caras conseguem dormir, sabendo que estão envolvidos num esquema
grosseiro de movimentação financeira e exploração da boa-fé das pessoas?
Quantos títulos o meu, o seu, o nosso clube não tem aí, manchado por acordos,
por falcatruas e mentiras?
Futebol não é muito diferente de
religião. Vivemos a ilusão de um esporte, enquanto os atletas e cartolas vivem
a realidade comercial.
Se você ainda guarda a fé no desporto, acorde, isso só
existe entre os amadores.
Música,
uma constante na vida deste ser contemporâneo que vos fala. Tem gente que tem trilha sonora até pra fazer o churros, se
bobear. Bom, estou eu ali, tranquilamente, ouvindo algumas canções, quando de
repente o Sting começa a cantar "Every breath you take". Já viram a
letra dessa parada? Cara, é o hino dos stalkers, dos obsessivos, da galera que
já perdeu o bom senso pra completa adoração de uma figura humana.
"Every breath you take, every
move you make, every bond you break, every step you take", em todas essas
situações, "I'll be watching you". E por aí vai, o cara vai
descrevendo as situações em que ele estará lá, observando, até o verso
definitivo: "oh, can't you see you belong to me?". Pois é, o cara não
só é um perseguidor, como se acha dono, acredita ter a posse sobre o indivíduo.
Ele delira, só vê o rosto dela, procura outras pessoas, mas está sempre a mesma
lá.
Uma
outra característica bastante marcante da personalidade deste eu lírico é a
autocrítica. "Now my poor
heart aches, with every step you take". O "pobre coração dói" a "cada passo" que ela dá. Alguém tem dúvida que vai dar merda? E a faixa termina
mais do que explícita, com a repetição, em fade away, das palavras, "I'll
be watching you". Não tem pra onde correr, filhinha, foi mexer em casa de
marimbondo, agora já era. "I'll be watching you".
Por
isso já dizia o poeta, "tu te tornas eternamente responsável por aquilo
que cativas", tipo assim, não é uma ordem, uma regra, uma imposição, é
apenas como são as relações humanas. Tem que saber que dizer sim pra alguém
pode ser mais que uma simples aventura, por isso é bom saber o terreno onde se
está pisando. Quem não conhece vítimas de crimes passionais? Só esta semana
ouvi umas quatro estórias.
E
"Love me or leave me", da Nina Simone, já deram uma sacada? Pura
obsessão. Não, ela não quer ser feliz com outra pessoa. Ou o cara que ela ama
fica com ela, ou ela não fica com mais ninguém, prefere ser sozinha que feliz
com outro. "Love me or
leave me and let me be lonely, you won't believe me, but I love you only. I
rather be lonely than happy with somebody else". Pois é, tem isso
também, ou o cara ama, ou vai sair fora, porque pra amigo ela não quer. Ou ama,
ou a deixa em paz, o recado é bem direto.
Uma
das minhas preferidas, no quesito música de pirado, chama-se
"Psycho". É um country que conta a estória de um jovem em uma
conversa franca com sua mãe. "Can
Mary fry some fish, mamma? I'm as hungry as can be. Oh, lord, how I wish,
mamma, that you could keep the baby quiet, cos' my head is killing me". E
a partir dessa pequena dor de cabeça, começam as confissões do rapaz. A mãe
ouve a tudo sem nada dizer, o assassinato da ex-namorada e seu caso, o animalzinho
de estimação, até o irmãozinho. E, ao fim da canção, ele nos deixa com a
pergunta, mãe, por que você não se levanta?
Jamais
conseguiremos curar a loucura ou deter os impulsos dos homens e mulheres que
virão por aí, no futuro, com motivações, visões de mundo, experiências
particulares da realidade e os desejos. Viver é isso, é correr riscos, já que
se divide a terra e as noites com outros, que não funcionam da mesma maneira.
Existe algo melhor? Talvez, mas isso é papo pra outra conversa.
Neste diário
pigmentado, vou falar, agora, da primeira vez em que vi o encontro de dois
veículos em um cruzamento: POW! Um encontro bombástico entre carro e moto. Eu,
que nunca tinha visto nada do gênero, estaquei e me pus a olhar por vários
minutos a cena, que ficou se repetindo na minha cabeça, em seu momento
apoteótico. Olha, não estou dizendo que foi uma situação agradável, mas tudo
tem seu ápice, seu momento mais intenso, certo? O desse encontro foi o corpo do
motoqueiro descrevendo um arco perfeito no ar, digno do salto mais brilhante de
Daiane dos Santos, e caindo sentado sobre o próprio veículo, já tombado no
asfalto.
Fragmentos de
espelho, painel e pára-choque choveram ao redor. A frente do carro também
perdeu seu aspecto indefectível. Uma porrada em cheio na lateral da moto, que
por sorte não tinha uma perna plantada ali. É, parece que o cara tirou a perna
antes do impacto, talvez, por isso, tenha voado tão alto, apoiado numa perna
que ficou. Pessoas correndo até o local do acidente, o motorista saindo pra
olhar a frente do carro e a vítima do impacto ali, sentado, com a expressão
mais desolada que se pode conceber na cara, num momento como esse.
O trânsito em
Curitiba está completamente alterado pela Virada Cultura, que está acontecendo
neste momento, enquanto escrevo. Pessoas indo e vindo por todas as ruas, em
massa, neste dia de calor forte, que faz os sulistas desejarem violentamente o
frio e a chuva, aos quais estão mais acostumados e dedicam grande parte de seu
guarda-roupas. É visível o quanto o clima os deixa incomodados ou abatidos,
insatisfeitos com a pele, salgada e úmida, cabelos, tudo aquilo cuja existência
só torna mais quente o dia. Ao menos, esses corpos estão indo atrás de música,
risadas, abraços e beijos, além de um geladíssimo gole de cerveja, neste grande
palco que se tornou a capital paranaense.
E agora, quando
chega este post beira o final, dá pra acreditar que de um parágrafo a outro
aconteceu toda uma revolução afro-descendente? Jair Rodrigues subiu no palco da
Riachuelo e tocou o terror. Os clássicos do samba e da MPB, ali, na voz de um
dos caras que representa com máximo respeito a voz e a cultura do brasileiro. Show
energético, banda boa, baterista absurdo, galera animada e os amigos ao redor
pra ter pra quem sorrir, pra ter de quem colher essa alegria fundamental pra
vida. Só falta meus dois amores chegarem pra felicidade ficar incompletamente perfeita.
Agora, a casa é só nossa. Minha cabeça já fervilha olhando esse pequeno espaço,
pedindo peloamordedeus pra que alguém lhe dê alguma personalidade. É pra já,
malandragem. Aguarde e confie.
música de fundo: Djavan - Que foi my love
"quem sofre de véspera é peru"
terça-feira, 25 de outubro de 2011
Uma criança sempre estimula nosso lado mais sensível. Como é que aqueles chineses simplesmente ignoravam a menina atropelada? Tudo bem, no Brasil as coisas não são muito diferentes, mas no caso de uma criança atropelada, por favor, não consigo imaginar uma reação daquelas. Não vou estender a coisa a todos os chineses, claro que não, já passei da fase, mas aqueles locais ali, aquilo é, no mínimo, um retrato das pessoas da área, de como aquela zona ali está cheia de gente que simplesmente ignora uma criança atingida daquela forma.
se você tem estômago
Espero que, de alguma forma, esse país possa ter uma sorte cultural melhor pra seus habitantes, porque não dá pra se orgulhar de uma conduta dessas, sinceramente.
Acabei de morrer de rir de uma coisa que, agora, penso, se eu não tivesse passado meses em Minas, Belo Horizonte, alguns dias de Ouro Preto, e tal, não seria possível ter esse momento tão agradável. Porque rir à vontade é sempre uma benção. E qual a graça? Tô eu passando no Facebook, o novo vício do milênio, e vejo que num dos comentários assina a menina de alcunha Nathalia, que até aí não tem nada de estranho, e assim seria se não viesse seguida de Fraga Pinto. Pra qualquer carioca, caras, isso não significa nada, fraga? Mas se você já andou em Belô, vai achar o máximo se um dia sair com a Nathalia Fraga Pinto e a Elise Rego Furtado. Viajar é viver, antes, durante e depois.