Neste diário
pigmentado, vou falar, agora, da primeira vez em que vi o encontro de dois
veículos em um cruzamento: POW! Um encontro bombástico entre carro e moto. Eu,
que nunca tinha visto nada do gênero, estaquei e me pus a olhar por vários
minutos a cena, que ficou se repetindo na minha cabeça, em seu momento
apoteótico. Olha, não estou dizendo que foi uma situação agradável, mas tudo
tem seu ápice, seu momento mais intenso, certo? O desse encontro foi o corpo do
motoqueiro descrevendo um arco perfeito no ar, digno do salto mais brilhante de
Daiane dos Santos, e caindo sentado sobre o próprio veículo, já tombado no
asfalto.
Fragmentos de
espelho, painel e pára-choque choveram ao redor. A frente do carro também
perdeu seu aspecto indefectível. Uma porrada em cheio na lateral da moto, que
por sorte não tinha uma perna plantada ali. É, parece que o cara tirou a perna
antes do impacto, talvez, por isso, tenha voado tão alto, apoiado numa perna
que ficou. Pessoas correndo até o local do acidente, o motorista saindo pra
olhar a frente do carro e a vítima do impacto ali, sentado, com a expressão
mais desolada que se pode conceber na cara, num momento como esse.
O trânsito em
Curitiba está completamente alterado pela Virada Cultura, que está acontecendo
neste momento, enquanto escrevo. Pessoas indo e vindo por todas as ruas, em
massa, neste dia de calor forte, que faz os sulistas desejarem violentamente o
frio e a chuva, aos quais estão mais acostumados e dedicam grande parte de seu
guarda-roupas. É visível o quanto o clima os deixa incomodados ou abatidos,
insatisfeitos com a pele, salgada e úmida, cabelos, tudo aquilo cuja existência
só torna mais quente o dia. Ao menos, esses corpos estão indo atrás de música,
risadas, abraços e beijos, além de um geladíssimo gole de cerveja, neste grande
palco que se tornou a capital paranaense.
E agora, quando
chega este post beira o final, dá pra acreditar que de um parágrafo a outro
aconteceu toda uma revolução afro-descendente? Jair Rodrigues subiu no palco da
Riachuelo e tocou o terror. Os clássicos do samba e da MPB, ali, na voz de um
dos caras que representa com máximo respeito a voz e a cultura do brasileiro. Show
energético, banda boa, baterista absurdo, galera animada e os amigos ao redor
pra ter pra quem sorrir, pra ter de quem colher essa alegria fundamental pra
vida. Só falta meus dois amores chegarem pra felicidade ficar incompletamente perfeita.
Agora, a casa é só nossa. Minha cabeça já fervilha olhando esse pequeno espaço,
pedindo peloamordedeus pra que alguém lhe dê alguma personalidade. É pra já,
malandragem. Aguarde e confie.
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