Música,
uma constante na vida deste ser contemporâneo que vos fala. Tem gente que tem trilha sonora até pra fazer o churros, se
bobear. Bom, estou eu ali, tranquilamente, ouvindo algumas canções, quando de
repente o Sting começa a cantar "Every breath you take". Já viram a
letra dessa parada? Cara, é o hino dos stalkers, dos obsessivos, da galera que
já perdeu o bom senso pra completa adoração de uma figura humana.
"Every breath you take, every
move you make, every bond you break, every step you take", em todas essas
situações, "I'll be watching you". E por aí vai, o cara vai
descrevendo as situações em que ele estará lá, observando, até o verso
definitivo: "oh, can't you see you belong to me?". Pois é, o cara não
só é um perseguidor, como se acha dono, acredita ter a posse sobre o indivíduo.
Ele delira, só vê o rosto dela, procura outras pessoas, mas está sempre a mesma
lá.
Uma
outra característica bastante marcante da personalidade deste eu lírico é a
autocrítica. "Now my poor
heart aches, with every step you take". O "pobre coração dói" a "cada passo" que ela dá. Alguém tem dúvida que vai dar merda? E a faixa termina
mais do que explícita, com a repetição, em fade away, das palavras, "I'll
be watching you". Não tem pra onde correr, filhinha, foi mexer em casa de
marimbondo, agora já era. "I'll be watching you".
Por
isso já dizia o poeta, "tu te tornas eternamente responsável por aquilo
que cativas", tipo assim, não é uma ordem, uma regra, uma imposição, é
apenas como são as relações humanas. Tem que saber que dizer sim pra alguém
pode ser mais que uma simples aventura, por isso é bom saber o terreno onde se
está pisando. Quem não conhece vítimas de crimes passionais? Só esta semana
ouvi umas quatro estórias.
E
"Love me or leave me", da Nina Simone, já deram uma sacada? Pura
obsessão. Não, ela não quer ser feliz com outra pessoa. Ou o cara que ela ama
fica com ela, ou ela não fica com mais ninguém, prefere ser sozinha que feliz
com outro. "Love me or
leave me and let me be lonely, you won't believe me, but I love you only. I
rather be lonely than happy with somebody else". Pois é, tem isso
também, ou o cara ama, ou vai sair fora, porque pra amigo ela não quer. Ou ama,
ou a deixa em paz, o recado é bem direto.
Uma
das minhas preferidas, no quesito música de pirado, chama-se
"Psycho". É um country que conta a estória de um jovem em uma
conversa franca com sua mãe. "Can
Mary fry some fish, mamma? I'm as hungry as can be. Oh, lord, how I wish,
mamma, that you could keep the baby quiet, cos' my head is killing me". E
a partir dessa pequena dor de cabeça, começam as confissões do rapaz. A mãe
ouve a tudo sem nada dizer, o assassinato da ex-namorada e seu caso, o animalzinho
de estimação, até o irmãozinho. E, ao fim da canção, ele nos deixa com a
pergunta, mãe, por que você não se levanta?
Jamais
conseguiremos curar a loucura ou deter os impulsos dos homens e mulheres que
virão por aí, no futuro, com motivações, visões de mundo, experiências
particulares da realidade e os desejos. Viver é isso, é correr riscos, já que
se divide a terra e as noites com outros, que não funcionam da mesma maneira.
Existe algo melhor? Talvez, mas isso é papo pra outra conversa.
música de fundo: Talking Heads - Psycho Killer
música de fundo: Talking Heads - Psycho Killer
"Fa Fa Fa Fa Fa Fa Fa Fa Fa Far Better"
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