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terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Termina com ela II

o sapato agora ficou para trás

do pé que ainda se vê sombra

estilhaços do salto pelo chão

sementes agora transmutadas

pelas doze badaladas da noite


tudo compõe a cena da fuga


da barra de vestido que rodou

rodou e levou no vento a moça

aos cabelos cheios dos meus

melhores e mais ternos olhares


lá se vai a moça correndo na lua

tão negra no pano de fundo prata

vai fugindo da música que toca

serenata para um sozinho alado

que devagar faz mira ao longe

e devagar ainda vê cair ao som


do tambor


seu espelho partido




quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

sex a piu

nas tuas coxas
eu-me
no reflexo das esmeraldas
nossa
nem parece que me tenho
cabelo trigal
pele de fora
nariz à toa embicado
feito pássaro no vôo
preso no decolar
nunca entendi
essa vontade de chupar
a tua boca que me dá
essa gruta habitada
língua feroz cheia de fio
afiada no desvario
capaz de dar um nó na cabeça
dum homem sem si
e de novo escorro sem pressa
pra tua coxa largada aberta
e de olhos abertos durmo de ti,
sonho detalhes de pêlos,
costuras e estampas de bichos
e relevos,
e quando percebo tento
não vejo, quero divisar,
mas só há tecido lá,
só há tecido!
E a fome aperta da embalagem -
tecido o cio pelo fio que origina
toda essa lenga lenga
fico a morder a barra da cela
e se ela?
mas se ela?
vai que de repente...


e você acena lá de cima
"vem"
e sorri;
e eu digo,
"tá muito iluminado pra sair daqui"
depois de pensar "fudeu"
e domingo mais um pouco
de frente pro ninho
com o corpo louco já mexendo sozinho
escondendo o sorriso: brinco

tá com quem?

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

tempos cardíacos

Salve, Mato Grosso. Que não é o Ney, mas que é um álbum bem legal do grande Sérgião Dias, guitarrista, músico, adolescente sensação da paulicéia. Seja nos Mutantes, seja em carreira solo, Sérgião sempre dá um esculacho.

Esse da esquerda é o Cliceu, músico, comunicador e amigo, sendo afetivamente enredado pelo grande Sérgio Dias. Sim, roubei a foto do teu perfil e não adianta ficar brabinho.

Pois então, o lance é que trago um álbum que o Sérgio Dias gravou com o Phil Manzanera, guitarrista do Roxy Music, banda do famigerado Brian Ferry, sabe qual é? Pois é, o Ferry andou aí metido a Bob Dylan. Mas falemos de Manzanera. O cara, como última referência curricular, esteve na produção do álbum On An Island, de ninguém menos que sir David Gilmour, a lenda viva, o homem do bend, o cara dos solos, ainda que a maioria só fale de Comfortably Numb e esqueça a existência de uma The Gold is in the. Excelente trabalho do Manzanera e do Gilmour, que renderam aí as turnês Remember that night com o falecido Richard Wright, aquele que levou consigo um sonho de Pink Floyd.






Sério Dias e Phil Manzanera - Mato Grosso

O álbum, é claro, tem uma sonoridade incrível. É tudo muito preenchido. Na primeira faixa você se depara com um clima tribal criado pela percussão, pelo chocalho, alguns sons de fundo que estão ali sugerindo. É impossível não se perder na progressão crescente, os sons vão surgindo, um a um, compondo o mundo onde Sérgião quer te jogar. A segunda faixa segue o mesmo clima, mas progressivamente os sons da natureza vão dando lugar aos instrumentos, de forma crua, e nos deparamos com uma mudança de andamento repentina, tudo recende ao poderoso alcance da World Music.
Assim segue o álbum, uma mistura de sons que sugerem a natureza, ritmos latinos, uma coisa de samba que vem na quarta faixa, pra logo depois, ainda na mesma canção, se diluir numa pegada altamente melódica de guitarra. Eu acho que não erraram na mão ali, não, quando optaram por essas mudanças. É sempre arriscado, mas se saíram bem nas ligações entre as partes, ao meu ver.

Ouça você, também.

domingo, 7 de dezembro de 2008

The Giant's Fall

Essa história começou há sete anos. Sim, exatos sete anos de angústia. Hoje, finalmente, a constatação. A queda.










E agora? Já não tenho tanto amor pelo futebol, mas é impossível dizer que algo não dói. Ecos, talvez. Quem sabe a última, a derradeira sensação de pertencer que se esvaindo deixa as marcas doloridas das pegadas pelo caminho que abre a braço.

O que se pode acrescentar? Lágrimas comovem os fracos. Por trás delas está o homem, sua responsabilidade, sua entrega, seu compromisso. Chorar comove as donas de casa, na novela, talvez, mas em campo significa que você falhou e não tem onde se esconder. Como uma criança você chora, porque não tem resposta? Não, porque você as tem todas.

Parabéns aos que tentaram afundar o Vasco da Gama: vocês conseguiram

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Cosmic Wheels... Celestial Wheels!

Foi então que os deuses pediram um lugar para habitar e lhes trouxeram animais, e eles disseram que não era suficiente. E quando lhes trouxeram um homem, então eles disseram, sim, é-nos suficiente que moremos nos homens. O fogo se fez fala e entrou pela boca. O vento se fez alento e penetrou nas narinas. O sol adentrou os olhos feito visão. Os quadrantes do céu feito audição penetraram os ouvidos. As plantas e árvores se fizeram cabelos e penetraram a pele. Feito mente a lua penetrou os corações. A morte se fez alento dependente e entrou pelo umbigo. Já as águas feito sêmen penetraram o membro viril.

E saiba que assim como um jarro se reduz a pó; uma onda, a agua; um bracelete a ouro; assim também o universo se reduzirá a mim. Maravilhoso sou! Adoração a mim! Porque quando o mundo, desde o seu deus mais supremo a menor folha de relva, se dissolve, esta destruição não é minha.

indianismos

Donovan - Cosmic Wheels (1973)
http://www.4shared.com/file/70040386/8d43bcc8/Donovan-Cosmic_wheels-1973.html

1. Cosmic Wheels
2. Earth Sign Man
3. Sleep
4. Maria Magenta
5. Wild Witch Lady
6. The Music Makers
7. The Intergalactic Laxitive
8. I Like You
9. Only the Blues
10. Appearances

Donovan: vocals / guitars / strings
Chris Spedding: guitars / strings / bouzouki
Clive Chaman: bass
Phil Chen: bass
Cozy Powell: drums
Alan White: drums
Pat Halling: violin
Bobby Keys: sax
Produção: Donovan and Michael Peter Hayes

Esse álbum é sensacional. Donovan foi um grande músico da sua época, contemporâneo de Bob Dylan, coloborador dos Beatles, mas com uma vivacidade musical e uma necessidade de produzir ecleticamente que nos faz pensar em Peter Gabriel e na World Music. Vale ressaltar que participam do álbum os bateras Cozy Powell, que tocou com o Sabbath, Rainbow, Whitesnake, Jeff Beck, e Alan White, o cara que tocou com Lennon no Plastic Ono Band, que tocou com George Harrison no All things must pass, e também tocou no Yes, fase Yessongs.

Abraxas.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Black Rain

There's rain on the horizon
Shows the window of my youth
Black rain like bullets flying
Black rain like men do

There's a storm coming around
Close the door of my old age
Storm coming like dogs barking
Storm like pain crystalizing

There was a sheppard where they took me
and they buried me for good
He used to say people always fly too high
neverending dreaming of angels
like loving at first sight
like loving at the last fight

Whispering wind hold the words
stormy pregnant mother goes
and goes and lives the tail of a red
monstruous dragon behind

some say a lullaby
some live to deny

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Ausente


Ter
perder-se
feito poeira
Semblante úmido
no corpo amargo
um órgão ao funeral
mas nem uma nota
o compasso perdido
nem sequer uma nota
um brusco adeus
nem mesmo a saideira
uma súplica do pó agora grudado
esfrega as mãos
rude Fala
coça os poros mete as unhas
rude Afasta
ri da carne viva
rude Mata
e aqui dentro um silêncio
geme na carne
um tremor que me acende
espasmos de mortos
músculos desavisadamente impulsivos
um tremor que me anima
e me dissolve
que me reage e me amarrota
que me deixa num canto esperando
alguma coisa desfazer o instante do desencantado
aquele em que você fugiu me levando
mesmo eu tendo ficado
mesmo eu tendo agarrado
com unhas quebradas
o pranto que na garganta deito