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terça-feira, 18 de maio de 2010

os fantasmas se divertem

   Uma amiga, muito sábia, por sinal, disse-me uma vez, "não idealizo meu amor". Avatar de um ensinamento que já me havia sido dado por Alberto Caeiro, digo que representa e muito para mim, hoje, esta diretriz. Tal declaração me vem à mente com muita força, atualmente, dadas as minhas circunstâncias, tanto materiais quanto intelectuais.

   Quando nos dispomos a idealizar algo, criamos fantasmas que passam a viver o lugar da coisa em si. Trocamos a experiência do ser pela experiência de ter, pois idealizar é a única maneira de possuir o que, de fato, é inapreensível. Não se possui, verdadeiramente, algo ou alguém, mas aquilo de abstrato que se cria por meio da fantasia é que se torna o objeto apreendido. Agamben fala sobre em seu "Estâncias", onde comenta Freud e outros estudiosos.

   Então, vale mesmo a pena nutrir expectativas de direito (possibilidade de alguém obter vantagens ainda não definidas) sobre algo ou alguém, mesmo sabendo que o fim é uma provável decepção? Não existe pessimismo neste pensamento, mas razoabilidade. Convenhamos que, se esperamos que uma situação se dê em detrimento de uma série de outras, a probabilidade de que esta uma situação aconteça é bem menor que as demais, não é verdade? Por isso a decepção é quase certa.

   Sonhemos, claro, mas não pensemos jamais que o sonho deve se converter em objeto para que, desta forma, seja apreendido. Aprendamos a amar o pássaro em seu descanso, mas também na sua liberdade e em sua morte, porque ao desejarmos muito este animal, deixa ele de ser um bicho para se tornar um bem e, como tudo que se vê privado da própria natureza, acaba descartável. Amemos o voo e deixemos que cada ave cruze o céu que desejar.

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