"Ajeita
os ombros. Se tivesse penas coloridas, estariam reluzentes no sol de
si. O olhar é insistente, o queixo projetado dá-lhe audácia. A boca
estala de impaciência: língua descolando de um céu seco. Do outro lado, a
nuca ferve. Não precisa olhar, seu corpo é alvo. Sabe. Todas as células
agem conforme o script, alertando a presença invasiva de energias
austeras. Os dedos brincam na ponta do cotovelo, aquilo que de mais
afiado e rígido há por ali. Além, ainda montado no robusto animal
calado, pensa que se trata de fragilidade, porque assim lhe foi
ensinado. 'Toda mulher é uma rosa. Cada gesto é uma pétala que se revela
em dança. Separa os passos mais abaulados para este caso. Hás de
triunfar". Não era um baile de sábado, era uma guerra, aquilo que havia
entre eles. Os dedos no copo acompanhava a contagem regressiva. Um,
dois, três. O pinto estava puxado, a granada arremessada partiria o
crânio, antes de espalhar seus estilhaços pelo chão. Engenharia milenar
empregada na autopreservação.
Quando tocada, teve um espasmo. A
mão lhe saiu da pele, porquanto nos olhos vinha uma fúria, que de tão
fula, as narinas se abriram, simiescas que só. A boca, no entanto, já
expressou aquilo que as vistas logo perceberam: era tanto o encanto, que o
silêncio lhe grampeou o ar no pulmão, num único golpe. A pele
arrepiou-se debaixo da roupa. Estava, naquele instante, presa de tanta
atenção, que sua única vontade era sair dali correndo e mergulhar nos
lençóis de alguma infância."
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