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segunda-feira, 1 de junho de 2009

não há imperativos...

Estava no 485, lotado pra variar, com as pessoas se esfregando no deslocamento pelo veículo. Fico logo depois da roleta, que é pra descer sem problemas. É um dos primeiros pontos depois de São Cristóvão. Nem sempre pego esse ônibus, mas vez ou outra é mais rápido que a integração, onde ultimamente as pessoas perdem dinheiro, um dos olhos, enfim, aquele ato obscuro do teatro social.

Então, estava lá e o ônibus ia pela Avenida Brasil. As coisas se sucediam, terrenos, animais que pastam próximo à rua, grandes reservatórios e containers que não têm uma explicação lógica pra mim. Estão ali desde que ponho os olhos naquela direção, faz lá seus cinco anos.

O veículo começou a achar brechas e rapidamente ficou livre do trânsito, agora movimentava-se com agilidade, mas seu tamanho e a disposição de seu esqueleto tornava a viagem, para nós, passageiros, uma experiência física intensa. Minha coluna estava recebendo toda a pressão dos movimentos e isso não mudava, até que resolvi pensar em como melhorar minhas condições. Tornei-me consciente do meu corpo e comecei a procurar respostas.

Dispus os pés de forma a ter base, mantive as mãos na barra de apoio e contraí o abdomen, e principalmente, não me opus aos movimentos mais bruscos. Pronto, a coluna pareceu-me isolada e fiz o resto da viagem sem sentir dores. Sem prestar atenção em mim, e mais, sem refletir sobre como, não haveria maneira de resolver e, como em muitos casos, para muitas pessoas, a coisa seria do tipo que se leva adiante até onde der. O conhecimento, que é autoconhecimento, te livra de desnecessários desgastes que o "livre emocional" pode vir a estimular.

Bom, acho que as pessoas, de maneira geral, têm pouca autocritica, reflexividade. Olho-as e parecem estar sempre sedadas pelo trabalho excessivo, evitando as dores inevitáveis do mundo que oprime. Quando chega o ponto em que devem saltar, praticamente acordam de um transe, assumem uma expressão endurecida e partem. São como guerreiros que não podem dar-se ao luxo de relaxar e curtir os estímulos de fora e a relação que estabelecem com a vida interior.

O cristianismo e toda a nossa cultura judaica ensina-nos a colocar-mos nosso destino nas mãos de deus. Ora, que o nosso destino, no sentido macro, pertença a deus, não posso discordar, ou concordar, agora é inaceitável que o homem se abandone interiormente e exteriormente (socialmente) nas mãos de deus. É uma idiotice sem tamanho, uma vez que a sociedade é um fenômeno dos homens, da terra, pensar que deus, uma forma que se expressa pela perfeição, se colocaria a favor de uns e contra a outros no desdobramento da vida.

Não quero que você deixe de acreditar em deus. Não espero que você destrua sua fé em nome de um vazio que aniquila o desavisado. Eu só espero que você "ame a si como aos teus semelhantes" (um bom princípio de ordenação social, não?) e mais, que creia em si, em suas capacidades, na sua faculdade de pensar e refletir, de se tornar aware, consciente do que te cerca. É o que a natureza faz! Não se exima de sua animalidade, porque é ela que dialoga com o ser maior que você deseja ser, é ela que te permite transcender, é teu chão e de onde virá o teu impulso pra se desdobrar e marcar a história do teu tempo.

Há duas vidas e você é o resultado da dialética entre elas.

Só o conhecimento salva.

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