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quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

uma viagem atrás do conhecimento

Estava esquadrinhando uma oficina de poesia pra oferecer a uns centros culturais, usando a experiência na Universidade, as oficinas de que participei ali e também fora, além das inúmeras discussões e leituras a respeito do fazer poético, da versificação, do ritmo, das imagens e dos sons. Trabalho árduo de quem deve tratar as palavras como um engenheiro têxtil faz às microfibras de que dispõe. Por algum motivo, seguindo um raciocínio, pensei nas vanguardas europeias e tentei relembrá-las, uma a uma: futurismo, cubismo, dadaísmo, expressionismo e...

O que eu poderia fazer pra lembrar? A única coisa que resta a quem não quer ir até o Google pra pesquisar: mergulhar na própria cabeça atrás da resposta.



Comecei imaginando que eu estava com um livro nas mãos. Rejeitei a primeira ideia que tive de mim, a de quando era um pouco mais jovem. Usei minha camisa xadrez pra me fixar dentro daquele mundo. O livro nas minhas mãos era velho, as páginas amareladas, as letras eram antigas, como que desenhadas. Eu via as vanguardas todas que conhecia, mas onde deveria estar o nome da quinta, a que eu não me recordava, estava o corpo nu da página. Não adiantava, o quanto eu tentasse, seria em vão. A resposta não estava no livro. Por isso fui até uma pasta azul, que estava em uma prateleira de metal, daquelas bem pobres, de colocar arquivo ou material de limpeza em almoxarifado. Mas estava limpa e arrumada. Na pasta, minhas anotações, meus esquemas, desenhos, rabiscos, mas nenhuma resposta. No lugar onde deveria estar a informação, apenas André Breton e 1929, entre outras informações, cujo foco não era importante, por isso uma mancha.

Então, o que fazer? Fui atrás de um mestre que tive na Universidade. Ele estava sentado e eu o questionava, mas ele nada dizia. Acho que eu o proibia, de alguma forma, porque eu não podia fazer jus ao seu conhecimento real. Logo, como é que eu podia lhe dar fala? Foi aí que eu o rasguei. Peguei pela cabeça e braço e puxei, rasguei, e não tinha nada dentro. Ele estava parado na porta, olhando, e saiu em direção ao corredor. Fui atrás, claro. Ele entrou na sala seguinte e fechou a porta. Pelo vidro, vi que ele começava uma aula, seus lábios se mexiam, mas não podia ouvi-lo.

Meu antigo orientador passava no corredor, no momento em que saí desorientado em busca da resposta. Ele vestia uma camisa polo pra dentro da calça, o que não lhe era comum. Mexia os braços como se fosse um rapper, fazia caras e bocas, andava feito um palhaço. Eu o questionei, perguntei sobre a vanguarda, mas ele não disse nada. Ao contrário, ele apenas saltou sobre o parapeito, sete metros acima do primeiro andar, e ficou lá se equilibrando e fazendo suas caretas. Reparei, naquele momento, que ele usava uma boina de italiano jornaleiro. Puto da vida, eu bradei, "porra, o nome da vanguarda, diz de uma vez". E ele disse, "é claro que é o Universalismo", e respondi, "não é Universalismo",  e então, de braços abertos, equilibrando-se como um artista de circo, disse, "é claro que é o Surrealismo".


Pelo conhecimento, é preciso trilhar os caminhos da imaginação. Como é o sangue que leva oxigênio aos tecidos, é a imaginação que conduz o homem ao saber, e é apenas quando ele se lança nesse espaço volátil e obscuro é que se vê diante da real possibilidade de contemplar a face do infinito.

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