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quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

A$ Mulhere$ Rica$ cumprem a imagem do Pobre

Não me canso de falar dessa abominação da televisão brasileira. Não se trata, apenas, de um programa de conteúdo nocivo pra nossa galera, mas de um programa de conteúdo nocivo que é extremamente mal feito, tanto que, ao fim, acaba passando uma rasteira em si mesmo: o show é uma ode ao mau gosto e a pobreza de espírito.

o mau gosto e o dinheirinho fazem um brinde


O Brasil, desde sempre, importa os formatos pra seus programas da televisão internacional. No cinema, o tal "E se fosse você" é uma prova cabal disso. O roteiro mais batido do universo, nos filmes estadunidenses, agora adaptado pra uma realidade brasileira. Uau, que grande merda. Ouvi uma coisa maravilhosa, certa vez, a respeito do assunto. Uma menina disse, numa mesa pouco afastada da minha (sim, eu ouço o que as pessoas dizem): ah, o cinema do Brasil tá muito melhor, antes eu sabia quando era filme brasileiro antes de começar, só pela imagem e a abertura.

Exatamente, queridíssima desconhecida, estamos perdendo o pouco de identidade e, ao invés de criarmos outra que nos distingua, estamos abraçando de vez o incrível hollywoodismo, sim, ismo porque é doença social, carência de diversidade. E o que gera a diversidade, em contrapartida a mesmice? Movimento. O diverso gera em você um movimento interno, diferente da mesmice, que é uma paz, onde as coisas se deitam.



Voltando pras Mulheres Ricas, é preciso ter estômago pra ver essa porcaria da Rede Bandeirantes. Que coisa chinfrim e de baixíssimo calão. De maneira alguma, aquelas mulheres ali representam a riqueza, mas, sim, são ricas. Cris Rock fala sobre isso em um de seus stand-ups, acho que é no "Never Scared", mas pode ser no "Bring the pain": existe uma grande diferença entre os ricos, que em inglês é marcada no léxico, a diferença entre rich e wealthy. Um é o que ganhou grana, o outro é o que a tem de berço. Você pode dizer que uma ou outra ali tem riqueza de berço, sim, mas percebe-se claramente que a riqueza adquirida jamais tornou-se uma base, sempre ficou como horizonte, de forma que as atitudes não a diferem de uma simples rich bitch.

São as gafes e as citações mais idiotas da face da terra, além do roteiro forçosamente estúpido, já que se tenta adaptar algo que, na realidade brasileira, não tem o menor cabimento. Preços são citados o tempo todo, pra jogar na cara do povão a sua imensa distância daquilo. Por quês são totalmente ignorados, porque o que vale é a piada, não o amigo. Uma das babacas imita um bordão criado pra uma das novelas da Globo e aparece o tempo todo com uma taça de champanhe na mão. É o estereótipo mais medíocre de ser humano, uma loira de conhecimentos rasos, de beleza lactopurgal, de humor patético e talento zero pra dizer qualquer coisa que preste. Não que as outras possam, mas esta, em especial, é a representante da escassez de massa encefálica.

Eu imagino que deve ter um propósito cômico, mas fica aí pra Band uma dica: não dê moral pra qualquer bosta, seleciona mais o público, porque a história da televisão brasileira está correndo e as pessoas estão ficando menos idiotas com o tempo. No futuro, um monte de bosta como esse que vocês andam bancando vai pesar mal no currículo.

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