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domingo, 18 de março de 2012

o prazer é uma conquista


Falemos de prazer, shall we? Os gregos, da época que o guaraná ainda era coisa que só se tomava no pé com a onça pintada, diziam que o prazer não é um resultado certo, o fim de um processo retomável a qualquer momento. É preciso ter condições específicas para que o prazer aconteça, ou seja, meu amigo de fé, meu irmão camarada, você não o ganha, você o conquista. É o que pensavam Empédocles e Demócrito, dois pensadores pré-socráticos, atomistas, que acreditavam na materialidade das coisas, inclusive da alma. E quais são as condições necessárias para que o prazer aconteça no corpo do homem sedento por tê-lo? Heráclito, "o obscuro", era fã das festas. Segundo o livro de Santoro, "Arqueologia dos prazeres", este outro célebre filósofo achava indispensável que o prazer fosse obtido dos momentos especiais, bastante específicos, ao contrário dos que estão sempre procurando por ele no cotidiano.



O corpo tem uma medida, como um copo. Diferente do que acontece neste objeto inanimado, no entanto, os níveis de uma série de substâncias no corpo geram sensações, expressões de um reequilíbrio, no caso do prazer, ou de desequilíbrio, quando dor. A dor pode ser de carência ou de excesso. É mister, então, que pra se ter prazer a gente supra nossas carências. Só que se formos além disso, se deixarmos que uma mentalidade desregrada faça com que o corpo consuma mais do que precisa, este excesso será cobrado no futuro, porque a carência gerada será ainda maior do que aquela que acontece em condições equilibradas de consumação. O queridíssimo Rolando Boldrin, que aquece as manhãs do público brasileiro na Tv Cultura, com muita moda de viola, anedota e piada, além das delícias da vida do homem simples, disse no programa de hoje: "essa aqui é a cachacinha, nossa bebida de origem, e que deve ser valorizada. Mas não deve exagerar, porque senão fica doente". Isso é sabedoria helênica, sabedoria indígena, sabedoria de uma série de grupos que conseguiram descobrir os benefícios do equilíbrio, minha gente.



Isso nos remete à triste situação do crack no Brasil, que vem acometendo uma galera gigantesca. Se você anda pelas ruas dos principais centros, nas principais capitais, vai ver os "zumbis" se arrastando pelas ruelas, com suas latinhas ou copos de guaravita, isqueiros e o olhar fugitivo, de quem já não tem mais nada a oferecer às pessoas ao redor. A esmola de cada dia faz surgir um novo contexto nas urbes tupiniquins: o mecenato do crack. Mais do que sinistro, rapazinhos, isso aqui é um crime grotesco contra a vida. E sabe o que o Governo brasileiro faz com isso? Aumenta o salário dos políticos, aumenta a passagem do transporte público, aumenta o preço da comida, não controla a ganância dos empresários privados, que cobram horrores por entretenimento barato, e faz festa. É, faz festa. Eles colocam alguém num carro de som, cantando e dançando, pra dizer, de vez em quando, "fora crack". É incrível, né?

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