O que é Luciano Huck? Não, a
pergunta está certa, não se trata de quem, mas do que está por trás deste nome,
como está por trás do nome de Silvio Santos, Carlos Massa, o Ratinho, e
inúmeros outros empresários-apresentadores, que utilizam o universo podre da
televisão para enriquecer e garantir a manutenção das coisas como elas devem
ser: uma vida baseada em relações de mercado. É isso mesmo, os caras estão aí
pra fazer a sua vida essa coisa fria e monótona de adorar ídolos e objetos,
fazer da sua existência essa devoção estúpida a um estilo de vida que gera
prazeres fugazes, feito a cocaína, a heroína, e tantas inas que escravizam
milhões por aí. No caso da televisão, a idiotina.
Este pai de família (porque é
imprescindível, neste país), apresentador de carreira (que se constrói
exclusivamente com persistência e o mínimo de recursos e contatos, que não são
feitos por ele, mas pela emissora que está investindo), empresário desde
moleque (cara de família de posses, que ao que me consta, já tinha negócios nas
mãos quando era cordeiro, ainda) é não apenas isso, mas a imagem que faz de
tudo isso que citei uma grande coisa. O que isso quer dizer? Fetichização. A
televisão trabalha fazendo com que tudo que apareça nela ganhe importância em
si, não por ser bom, não por ter qualidade, mas simplesmente por existir. O que
é a apresentadora Angélica, senão a eterna investidura da Rede Globo em uma
figura plástica que nunca foi grande ancora, nunca foi grande cantora, nunca
foi grande animadora, nunca foi grande atriz, nunca foi grande nada? E qual a
grandeza de Luciano Huck? Qual a grandeza de Fausto Silva? O que mais se ouve
por aí são reclamações a respeito do estilo patético e incompetente de Fausto
Silva, mas por que isso não o faz perder audiência e se acabar na própria
insuficiência?
A Favela é só pose, como mostra reportagem da Época em que o apresentador é citado como grande empresário parceiro de José Serra e Aécio Neves |
O fetiche se cristaliza, torna-se
ideologia, passa a ser parte integrante da vida dos indivíduos que vão sendo
educados e cultivados em tradições de consumo impensadas por seus praticantes.
A postura crítica nunca foi ensinada a muitos, que nasceram educados para
"gostar" ou "não gostar" das coisas, mas sem jamais colocar
em risco a ideia de se afastar desta coisa de que gosta ou não gosta. É aí que
está a vitória da publicidade inescrupulosa sobre os indivíduos mal educados, a
garantia de que as formas de viver não são questionadas, mas unicamente
rotuladas, por hábito de ter alguma liberdade para tal.
Luciano Huck não representa só a
paralisia do pensamento crítico, mas a competição desleal do mercado monopolizado,
o chute no saco do livre comércio, como conseqüência desta fetichização do
consumo por um valor agregado de moral baixíssima, cuja sombra obscurece a
procura e o consumo como reflexo da necessidade e da vontade de qualidade.
Luciano Huck representa um mundo que está cheio de problemas e que precisa ser
assim, pra que ele possa aparecer como salvador da pátria. Ele não resolve os
problemas das pessoas, ele simplesmente assopra uma ferida que está aberta. Ele
traz algum alívio para quem está em situação de emergência, mas jamais
discutiria a resolução definitiva dos problemas, jamais lutaria para sanar
aquilo que leva não só aquelas pessoas que ele ajuda, mas inúmeras outras, a um
estado miserável e perturbador de vida. E por quê? Porque se fizer isso, os
patrocinadores que investem dinheiro no programa, as grandes empresas que
sustentam as redes de comunicação, e que por elas são sustentadas, numa relação
de interdependência cada vez mais nítida, não teriam terreno para garantir o funcionamento
do esquema todo.
FARSA DO LATA VELHA
A denúncia é a de que o Luciano teria trocado o Opala do cara por um Caravan, por simplesmente poder fazer isso. O cara se deu bem? Sim. O Lata Velha é um programa que reforma o seu carro e te devolve novo, mantendo a relação de amor que você tinha pelo objeto? Não. Isso se chama propaganda enganosa. Isso se chama adquirir mérito sem ter obra. Isso se chama farsa.