Cinzas. Hoje o vento leva as cinzas, com um pouco de dificuldade, já que as lágrimas pesam sobre o corpo esfarelado da cidadania. Consumidos pela intolerância e pela necessidade de manutenção das estruturas, os índios da praia de Camboinhas tiveram suas casas destruídas pelas chamas de um incêndio criminoso. Sob a terra sem escritura, de um Adão sem rosto, a grande maioria vê florescer a injustiça homeopática que é alimentada pelas necessidade de uma elite confortável em seus palácios sobre as nuvens. Lá de cima, observam o espetáculo, o circo das aberrações que se digladiam em troca de um naco de pão.
O palco montado só aguarda pelos personagens, que também são platéia, porque a peça é interativa. Não sabem do roteiro, não têm idéia de suas falas, mas dão seus passos às cegas, débeis e espirituosos.
Somos os filhos de Hernán Cortez, somos os herdeiros do pensamento de coroa, somos os mesmos e vivemos como nossos pais. Não somos nada para além da subjetividade individualista que corre atrás do sonho da coletividade, que vive em pequenas aldeias familiares se empanturrando de quimeras comerciais em parcelas fixas e sem juros. Somos omissos, rebeldes sem causa, somos as vozes da indignação, mas uma indignação que se dissolve num momento de simples catarse. Somos os mesmos e vivemos nossos pais.
2 comentários:
acho linda a sua forma de criticar.
adorei.
beijos, querido.
triste mais do mesmo cotidiano. haverá algo além no horizonte?
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